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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Bolsonaro demite Mandetta, convida oncologista e chama o coronavírus para dançar

"O final, altamente previsível, joga o país em uma incerteza quanto aos rumos do combate ao Covid-19, ao mesmo tempo que desenha uma convicção. Vamos ficar ao sabor dos destemperos do presidente genocida", escreve Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia

Nelson Teich, Jair Bolsonaro e Nelson Mandetta (Foto: Agência Brasil | Reuters)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Acabou. Durante duas semanas o Brasil acompanhou a “novela” Mandetta sai, Mandetta fica. O final, altamente previsível, joga o país em uma incerteza quanto aos rumos do combate ao Covid-19, ao mesmo tempo que desenha uma convicção. Vamos ficar ao sabor dos destemperos do presidente genocida e seu apoio às carreatas de tresloucados, que a bordo dos seus carros possantes gritam para os trabalhadores (assalariados?) “Bora trabalhar”! 

Eram 16h22, quando a musiquinha característica do plantão daquela emissora soou, alertando para a queda. Rápido no gatilho, depois da reunião de 30 minutos com Bolsonaro, onde seu destino foi finalmente selado, Mandetta foi para o Twitter:

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“Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar. Henrique Mandetta - @lhmandetta”.

Em seguida, constatamos um ineditismo, em se tratando de demissões de ministros. A tela da TV dividida. De um lado, o ministro Luiz Henrique Mandetta sendo aplaudido por todos os funcionários presentes à sua coletiva e, do outro, o púlpito do planalto com o brasão da República, à espera do fim da coletiva do ministro da Saúde “saído”, para a palavra de Jair. Só mesmo resgatando a célebre frase do ex-presidente Lula: “nunca, antes, na história deste país...”

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No dia 5 de abril escrevi um artigo logo após o anúncio de uma pesquisa que colocava Mandetta com 76% de aprovação no seu trabalho, contra 33% de Bolsonaro. Nele eu alertava para o fato de que, Luiz Henrique Mandetta, embora estivesse bem avaliado do ponto de vista do público - carente de pessoas que fizessem o seu trabalho com bom senso e assertividade, neste governo -, não era um super-herói. Seu passado era de alguém muito próximo à estrutura dos planos de Saúde, que havia dissolvido o programa bem-sucedido “Mais Médicos” e prometia privatizar o Sistema Único de Saúde (SUS), ao assumir a pasta. Houve quem já o estivesse lançando para 2022.

O resultado da pesquisa foi o bastante para que o fizessem sumir da bancada da coletiva diária em que comentava os números do coronavírus e da estratégia traçada para mitigar o seu avanço. Ficava claro a inveja que despertara. E, à noite, num programa de TV, Jair confirmava que, sim, estava se bicando com o ministro e pensava em demiti-lo. 

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Acontece que Mandetta, ao que parece, constatou na prática, como ressaltou em seu discurso de despedia, ao fazer “uma defesa intransigente do SUS e uma defesa intransigente da Ciência” que, sim, a máquina pública é a que socorre o país na hora que o bicho pega. Sim, são os funcionários públicos, a quem agradeceu visivelmente emocionado, os que fazem a máquina gigantesca da Saúde andar, para que os serviços cheguem na ponta.  É possível que em algum momento, em conversa com o seu travesseiro, ele tenha se amofinado de arrependimento por ter colocado os médicos cubanos, (aplaudidos na Itália), para correr do país. E é possível que ao entrar pela última vez no seu carro oficial, rumo à casa, ele estivesse mudado. Foi o que deu a entender em seu discurso de despedida.

Ninguém aqui é ingênuo de achar que 40 dias de pandemia tenham transformado a sua essência política. Ele vem do DEM, não nos esqueçamos disto. E só fez direitinho o seu “dever para casa”, porque encontrou uma máquina - ainda que subtraída em R$ 20 bilhões por Michel e pelo governo bolsonarista que defendeu -, disposta a trabalhar sob as suas ordens, para fazer o melhor para o país. Mas Mandetta vestiu o colete do SUS e saiu do governo com ele. Espera-se alguma simbologia, alguma mensagem semiótica nisto. Afinal, como lembrou, “estamos só no começo da batalha”. 

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Sua despedida, sob o ronco dos motores dos “utilitários” possantes da classe média em carreatas pelo Brasil, pedindo aos berros a volta ao trabalho (que trabalho???), nos faz tremer. Não porque ele seja indispensável, mas porque em seguida, a usar o púlpito do planalto para se dirigir à Nação, Jair, que nunca jamais tratou de desemprego em suas falas, agora se investe de grande defensor dos desfavorecidos, a quem queria pagar apenas R$ 200,00 durante a quarentena. Quer todos trabalhando (onde???) para reativar “a sua” economia.

Jair priorizou as atividades econômicas, em detrimento de vidas preservadas e do princípio da Ciência, defendida no discurso de despedida de Mandetta. Em seguida, ao passar a palavra para o ainda desempossado novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, o país pôde ouvir, perplexo, um discurso de quem parecia estar indicado para a equipe de Paulo Guedes. Teich falou em isolamento social, mas falou muito mais na necessidade de preservar empregos. Ao indicar Nelson Teich, o oncologista, Bolsonaro parece ter tirado o coronavírus para dançar.

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