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Rodrigo Vianna

Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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Bolsonaro derrete e busca sua base radical

"São vários os indicadores de que o presidente enfrentará nos próximos meses a turbulência mais grave de seu desastroso governo", prevê o jornalista Rodrigo Vianna

Jair Bolsonaro gesticula para apoiadores no Palácio da Alvorada, em Brasília (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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Os sinais são variados. E vêm de várias fontes.

O mais recente foi o comportamento do presidente da República na cerimônia sobre turismo, no dia 10/11, em que disse frases aparentemente absurdas, como:

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- "precisamos deixar de ser um país de maricas" (sobre a pandemia);

- "quando acaba a saliva, tem que ter pólvora" (dirigida a Joe Biden);

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- "a minha vida aqui é uma desgraça, é problema o tempo todo" (um recado para os apoiadores mais radicais).

O pronunciamento não teve nada de improvisado. Foi calculado, milimetricamente.

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Começo pelo fim: Bolsonaro mandou recados claros a seus apoiadores, na linha de que está a ponto de desistir, e que precisa de ajuda. Foi claramente um pedido de socorro e de unidade das tropas de direita...

O presidente parece farejar que o futuro dele e da família se aproxima perigosamente do Complexo Penitenciário de Bangu.

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Engana-se, também, quem imagina que a frase dirigida a Biden foi algo que escapou de forma involuntária. Bolsonaro ali cumpriu o papel de fiel servidor do projeto de Donald Trump.

Um dia ainda saberemos os detalhes dessa parceria sórdida entre os dois, que é muito mais do que ideológica, e beira a relação de dono e cão.  

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Por último, a obsessão bolsonarista com homossexuais. Ao se referir a "maricas", ele fala com seu público fiel: o homem de meia idade, hetero, conservador, cheio de recalques. Esse é o núcleo duro do bolsonarismo.

Por que Bolsonaro lançou esses recados aos seus?

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Porque a popularidade dele voltou a recuar - como indica a nova Pesquisa Forum.

No início da pandemia, Bolsonaro viu os índices de ótimo/bom caírem para 30% ou menos. Foi a fase dos panelaços, da "gripezinha" e do haitiano dizendo na porta do Alvorada: "Bolsonaro, acabou".

Depois, com o "Auxílio Emergencial" e com o discurso de que era preciso "reabrir a economia", Bolsonaro se recuperou, e voltou à casa de 40% de ótimo/bom. Ao mesmo tempo, aproximou-se do Centrão e moderou (um pouco) o discurso.

Pois bem, a Pesquisa Fórum mostra que Bolsonaro se esfarela de novo: o índice de ótimo/bom, no início de novembro, bateu em 30,9% (queda de sete pontos percentuais, em apenas dois meses); contra 40% de ruim/péssimo.

Ele colhe índices expressivos de ruim/péssimo entre as mulheres (44,8%), os jovens (47,2%) e o povo do Nordeste (40%) e do Sudeste (43,5%).

Chegamos então ao terceiro sinal de ruína: as eleições municipais. Os candidatos bolsonaristas naufragam em São Paulo e no Rio (Crivella e Russomano correm risco de ficar fora do segundo turno); em Belo Horizonte, o prefeito Kalil (que enfrentou o negacionismo de Bolsonaro, e impôs isolamento social riogoroso) deve ganhar no primeiro turno.

Os bolsonaristas também se esfarelam em Porto Alegre, Recife (a ultra direitista Delegada Patricia despencou para o quarto lugar após gravar ao lado de Bolsonaro) e em Salvador (onde o candidato de ACM Neto lidera, o PT está sem segundo; e o bolsonarismo come poeira).

Jair Bolsonaro certamente monitora os humores da opinião pública. Sabe que vai passar pela fase mais difícil assim que o Auxílio Emergencial acabar (sem nada para colocar no lugar). 

O presidente tenta reunir os mais fervorosos para evitar derrota tão feia nas eleições locais, e para sobreviver ao solavanco que virá no início de 2021.

Alguns imaginavam que ele seria pragmático e tentaria se acomodar com Biden. Mas faz ao contrário. Talvez avalie que, sem o patrão Trump, perderia parte da utilidade, e poderia em breve ser descartado pelos militares e o Centrão - ainda mais se a economia naufragar de vez.

Em vez de buscar acomodação, Bolsonaro quando fica fraco parte para o confronto e tenta se impor pelo medo da turbulência que pode causar.

Foi isso o que fez em maio, quando ensaiou um golpe contra STF e Congresso. E é isso que parece indicar sua fala recheada de "maricas", "pólvora" e "estou de saco cheio".

Um presidente que se mostra explosivo, e que ao mostrar que pode causar danos tenta, assim, comprar um seguro para a travessia até 2022.

O cenário nunca foi tão turbulento para o extremista que ocupa a presidência da República. Os setores democráticos não deveriam perder mais essa oportunidade de removê-lo do poder, pelos inúmeros crimes que já cometeu: contra a Democracia e a Saúde Pública.

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