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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Bolsonaro e imprensa brasileira: um caso de amor a ser estudado

O linguista Gustavo Conde alerta para o nível de blindagem que o jornalismo corporativo brasileiro dedica a Bolsonaro: "ter os três grandes jornais em uníssono ecoando a peça publicitária controlada do maior criminoso de que já se teve notícia neste país, é o bom e velho sinal de alerta: As coisas tendem a piorar"

Bolsonaro ou o Brasil, esta é a escolha (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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É chocante. Neste momento, os três grandes jornais brasileiros estampam a frase de Bolsonaro em suas manchetes: “Se nada faço sou omisso, se faço estou pensando em 2022”. 

Alguns diriam: e daí? 

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E daí que a frase é uma verdadeira peça publicitária. Produz uma vitimização ‘eficiente’ de seu enunciador. Humaniza. Atenua de maneira quase comovente todas as atrocidades ditas antes. É uma espécie de “pedido de desculpas” ao leitor, à opinião pública. Transfere para o “sistema político” e - pasmem - para o próprio sistema de interpretação o peso da injustiça e da impossibilidade de governar. 

E antes que alguém questione os significados que aqui descrevo, permitam-me dizer: um enunciado nunca é só superfície. Todo e qualquer enunciado tem pelo menos 3 dimensões básicas que, por sua vez, podem se desdobrar em várias outras: posto, pressuposto e força ilocutória. 

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A mais eficiente, do ponto de vista retórico, é a força ilocutória, ou seja, os sentidos que o “posto” não permite codificar. É o que atinge o inconsciente - a ordem do desejo - do leitor de maneira mais forte. 

O jornalismo costuma operar nessa seletividade técnica para gerenciar sua “voz editorial” não assumida.   

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Estampar essa pérola cínica de Bolsonaro no topo de toda uma produção jornalística é um escândalo e uma humilhação. É confessar um crime - o crime de que Bolsonaro seguirá blindado e severamente protegido pelo mercado financeiro e seus representantes mais fiéis, os jornalistas e editores. 

A própria nomeação técnica destes profissionais (‘jornalista’ e ‘editor’), em sua extensão semântica, é gerada pelo sistema simbólico do establishment e pela lógica da rotulagem classista. Dizer ‘editor’ é chique. Ecoa ‘autoridade’. Dizer ‘jornalista’ é forjar uma licença prévia para enunciar as mais precárias sentenças. 

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O curioso r é que tem jornalista que acha, de fato, que tem algum poder, quando, no fundo, o poder está na linha editorial que lhe rasga a independência. 

Ter os três grandes jornais em uníssono ecoando a peça publicitária controlada do maior criminoso de que já se teve notícia neste país, é o bom e velho sinal de alerta: As coisas tendem a piorar dada a recusa em se acelerar a reciclagem dos processos de interpretação e confecção de textos (e de discursos). 

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Traduzindo: ao desprezarmos a qualidade de leitura de mundo, independente da coloração partidária e/ou ideológica, faremos abnegadamente o serviço de mergulhar cada vez mais no fundo do poço. 

É a engrenagem marxista consagrada mas, agora, com cifras adicionais de escárnio e delinquência. 

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O jogo Bolsonaro-imprensa é a grande moenda genocida que tem movido o Brasil para trás. Ambos fingem que se detestam - o que vem a ser o melhor disfarce para aqueles que se amam.

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