CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Alex Solnik avatar

Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

2473 artigos

blog

Bolsonaro fala como torturador; não pode ser presidente da República

"Todo admirador de torturador também é um covarde, comete crime de apologia à tortura e não pode ser presidente da República", defende o jornalista Alex Solnik

(Foto: Foto: Ricardo Moraes (Reuters)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

 “Se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu, eu conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro", disse Bolsonaro em coletiva de imprensa a respeito de Fernando Santa Cruz, incinerado no forno de uma usina de açúcar pela ditadura militar em 1974, pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz.

  A Ação Popular, ou melhor, APML – Ação Popular Marxista Leninista – nunca foi um grupo armado. Jamais algum integrante pegou em armas. Não foi grupo sanguinário nem violento. Fazia apenas trabalho de conscientização das classes excluídas de sua condição e da necessidade de derrubar a ditadura, principalmente no campo. Por meios pacíficos.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

  Quando eu fui sequestrado e conduzido à sede do DOI-Codi, em São Paulo, no dia 4 de setembro de 1974, o comandante, o tal Brilhante Ustra, ídolo do Bolsonaro, me levou pessoalmente à cela X-5.

  A caminho, depois de passar o dia inteiro sem poder me defender, disse-lhe que eles estavam cometendo um engano comigo, eu não era de grupo subversivo algum.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

  Ele então virou-se para mim e disse:

  “Você é o Hippie da AP. E nós vamos provar”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

  Eu só conhecia a AP de nome.

   Me levou à cela em que já estava preso – e machucado em sessões de tortura – um militante da AP de verdade. Acordou-o e perguntou se me conhecia. Ele disse que não.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

  Durante a primeira semana do meu sequestro, meu companheiro de cela era torturado dia sim, dia não, apesar de nunca ter participado da luta armada.

  Mas o trecho mais hediondo e repugnante do discurso de Bolsonaro é o que em que diz que pode “mostrar ao presidente da OAB como seu pai foi executado”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

  Isso me lembrou um episódio que testemunhei no DOI-Codi.

  Certa vez, um torturador fantasiado de juiz (sempre usava uma toga), chamado Romualdo, berrou na frente da cela das mulheres, ao lado da minha, a uma delas:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

  “Hoje eu vou fritar os ovos do seu marido. E você vai assistir”.

  “Fritar os ovos” era aplicar choques elétricos nas genitais. 

  Bolsonaro claramente justifica a tortura em vez de demonstrar horror, como qualquer pessoa minimamente civilizada do século 21.

  Todo torturador, além de cometer crime hediondo, sem perdão nem em 100 anos, é um covarde. Não há covardia maior que surrar e dar choques elétricos numa pessoa nua e amarrada.

  Todo admirador de torturador também é um covarde, comete crime de apologia à tortura e não pode ser presidente da República.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO