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Aldo Fornazieri

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política e autor de "Liderança e Poder"

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Bolsonaro, Haddad e a lógica das eleições

O colunista Aldo Fornazieri observa que tudo aponta para "um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad ou Haddad e Bolsonaro, conforme o eleitorado definir a posição de cada um deles" e que "independentemente do resultados das eleições, as esquerdas, os democratas, os progressistas e os movimentos sociais precisarão fazer um exame contundente para examinar onde erraram, pois é preciso aprender com os erros para evitar um novo ciclo de fracassos"

Bolsonaro, Haddad e a lógica das eleições (Foto: Reuters | Ricardo Stuckert)
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O jogo eleitoral está ainda sendo jogado e sempre podem surgir acontecimentos, imprevistos e realinhamentos de eleitores passiveis de contrariar as tendências indicadas pelas pesquisas. Mas, se nada disso acontecer, ocorrerá um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad ou Haddad e Bolsonaro, conforme o eleitorado definir a posição de cada um deles. É verdade que a passagem de Bolsonaro para o segundo turno chega a ser surpreendente, mas ela não é ilógica.

Existem vários fatores que determinam ou orientam as motivações de voto dos eleitores tais como liderança, estruturas materiais de campanha, programas e propostas, força dos partidos, tempo de TV, perfil dos candidatos, suas capacidades persuasivas, a forma e o conteúdo das campanhas, carisma, fé, fascínio, ódio, paixão, repulsa, simpatia etc. As motivações são racionais e irracionais e o grau dessas duas determinações varia segundo das circunstâncias e a conjuntura de cada eleição. As atuais eleições, se as tendências das pesquisas se confirmarem, provam, mais uma vez, que o tempo de TV e o apoio da grande mídia não são determinantes por si sós.

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Em que pese essa miscelânea de fatores, existe um fator que tem um peso geral para definir os candidatos que passam para o segundo turno e... o vencedor. Claro que esse fator, como regra geral, também tem suas exceções. Trata-se da natureza da conjuntura. Isto é: tomando-se como ponto de referência o governo existente e a realidade social e econômica, genericamente, as conjunturas eleitorais ou são de continuidade (conservação) ou de mudança. Normalmente, as eleições tendem a se polarizar entre um candidato que representa a continuidade e outro que representa a mudança. Se a conjuntura é de continuidade - o governante é bem avaliado e existe uma satisfação com a situação social e econômica - o candidato que representa essa continuidade tende a vencer. Foi o que aconteceu com a reeleição de Lula em 2006 e com a eleição de Dilma em 2010. Sua reeleição em 2014 foi uma exceção à regra.

Se a conjuntura é de mudança, o candidato da continuidade tende a ser derrotado por aquele que encarna uma nova perspectiva. Foi o que aconteceu entre Lula e Serra em 2002, entre Haddad e Serra em 2012, só para ficar em dois exemplos. Mas existem determinadas conjunturas singulares que se constituem em situações críticas, de crise prolongada, o que suscita um descontentamento generalizado com o governante e com o status quo da situação social e econômica. As conjunturas de 1989 e de 2018 têm essa característica: o descontentamento generalizado. Nessas conjunturas, os candidatos que mais se identificam com a continuidade tendem a ser deslocados por candidatos que representam a mudança, mas sempre em posições polares. Foi isto que se viu em 1989, com Collor e Lula e é isto que está se vendo em 2018, com Bolsonaro e Haddad. É por isso que Alckmin tende a sobrar. Embora Ciro seja um candidato identificado com a mudança, Haddad a representa de forma mais nítida.

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Existem algumas semelhanças e várias diferenças entre 1989 e 2018. O mal estar social e a repulsa aos presidentes Sarney, então, e Temer, hoje, são assemelhados. Naquela época, além do desemprego e da dramaticidade social, existia a hiperinflação. O medo acerca do que poderia representar a vitória de Lula foi muito explorado. Hoje o medo funciona em escala menor, pois Haddad não é Lula e Lula e Haddad já viveram experiência de governo e não comeram criancinhas e nem tomaram as casas dos ricos. Mas o que funciona hoje é o ódio e o antipetismo.

Fernando Collor representava a energia da juventude e a ideia de modernização, o caçador dos marajás, o inimigo dos privilégios, o redentor dos descamisados. Lula, também jovem, representava a esperança da justiça social, a inclusão dos pobres e dos trabalhadores, a ética na política, o sonho vívido de um Brasil melhor. Bolsonaro não é igual a Collor. A sua ideia de mudança não é modernizadora, mas conservadora, anti-sistêmica, autoritária, a encarnação do ressentimento e do ódio às camadas subalternas, a recusa de direitos sociais e civis, tudo isso com um aceno confuso de liberdade econômica e de mercado, entendida pela elites como liberdade de explorar e de negar direitos.

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Haddad não representa o frescor daquela esperança de 1989, mas a ideia de uma reconecção, um religamento com uma experiência de bem estar e de inclusão que foi interrompida ilegalmente pelo golpe. É mais algo que representa a recuperação do que foi perdido do que uma ideia luminosa de futuro, um sonho libertador, uma terra prometida. Lula era quase pura emoção; Haddad é quase pura razão. É verdade que a modernização de Collor se frustrou pelos seus descaminhos e que a esperança de Lula só se tornou efetiva treze anos depois. Mas 1989 parecia ter mais potência do que 2018. Sim, claro, era também a primeira eleição presidencial direta após a ditadura e isto significava muito

Já, as eleições de 2018 são marcadas por várias negatividades: a sensação e/ou a certeza de que a democracia fracassou, de que a Constituição foi rasgada pelos seus guardiões, de que existe um autoritarismo contra direitos na sociedade e de que tudo pode piorar. As manifestações antidemocráticas e autoritárias da candidatura de Bolsonaro são expressões disso. Agora não se trata tanto de construir a jovem democracia como era em 1989, mas de defender os seus escombros. Aquela eleição era uma espécie de adeus definitivo à presença dos militares na política. Agora, vive-se o fantasma do seu retorno, mesmo que seja através de eleições. Nesses momento críticos, os eleitores tendem a escolher aquela mudança mais conservadora. Isto deveria servir de alerta para a campanha de Haddad num eventual segundo turno.

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Independentemente do resultados das eleições, as esquerdas, os democratas, os progressistas e os movimentos sociais precisarão fazer um exame contundente para examinar onde erraram, pois é preciso aprender com os erros para evitar um novo ciclo de fracassos. O erro maior parece ter consistido em não construir uma ampla e sólida rede de trincheiras e casamatas capaz de sustentar os avanços da democracia e as conquistas sociais. A derrota pelo golpe, as reformas de Temer e a prisão e interdição de Lula mostraram que a força das esquerdas e dos progressistas não está assentada sobre sólidas estruturas graníticas, mas sobre frágeis paliçadas de madeira. Elas ruíram com ventos nem tão fortes soprados no Congresso e nos tribunais. Ou o problema da força organizada terá que ser resolvido ou novas derrotas se transmutarão em lamentos inúteis num futuro próximo. (Tendência de vitória conservadora)

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