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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Bolsonaro produz sua própria ingovernabilidade

"Bolsonaro parece entrar em um processo muito perigoso de autocombustão. Até sua política econômica, de agrado do grande empresariado, encontra dificuldades", escreve o sociólogo Emir Sader

(Foto: Agência Senado | Reprodução)
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Bolsonaro pegou carona na onda antipolítica, gerada nas manifestações de 2013 e reforçada em 2016, para se valer da sua situação de outsider da política tradicional e se tornar o suposto líder da antipolítica. Essa característica o acompanha sempre, tornando-se, no entanto, um empecilho para que ele possa governar.

Por sua própria personalidade, Bolsonaro já não se adapta às necessidades da política de agregar gente, de unir pessoas e forças políticas. Ele tende a exacerbar as diferenças e os conflitos, que ele justifica como se fosse algo espontâneo, que o povo gosta, que seria uma forma intolerante com os outros. Mas cujo resultado é a incapacidade absoluta de construir um bloco de forças políticas e um conjunto de pessoas para governar coletivamente.

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Já por essa característica, Bolsonaro revela incapacidade de governar. Não consegue estabelecer boas relações com o Congresso, com o Judiciário, com a mídia, menos ainda com a oposição. Não revela nenhuma capacidade de ouvir posições que não coincidem estritamente com as suas e, menos ainda, de tomá-las em consideração.

A isso se acrescenta uma política econômica de desmonte do Estado, que inclui o corte radical de recursos para políticas sociais, que beneficiavam a grande maioria da população. Promove o desmonte do Estado, com privatização de empresas públicas que, como a Petrobras, tinham políticas que beneficiavam o país e os consumidores. 

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Mais recentemente, Bolsonaro desenvolveu um discurso segundo o qual ele não consegue governar porque seria tolhido por uma verdadeira guerra que o Judiciário desenvolveria contra ele. Essa ofensiva consiste, na verdade, na definição clara da separação dos poderes, estabelecendo o que o Executivo pode ou não pode fazer.

Além disso, decisões recentes do Judiciário abrem processos e inclusive decretam prisões de pessoas que pregam abertamente um golpe, que incluem fechamento violento do Supremo Tribunal Federal, invasão da embaixada da China e um golpe para o dia 7 de setembro. 

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Além disso, o Supremo Tribunal Eleitoral passou a cobrar de Bolsonaro afirmações que desqualificam os resultados eleitorais de eleições passadas e os resultados das próximas eleições, na qual ele pretende concorrer. Fica claro que se trata da busca, bem no estilo de Donald Trump, de questionar o resultado e tentar impedir a posse do adversário, neste caso Lula, favorito cada vez mais amplo para triunfar até mesmo no primeiro turno, nas eleições presidenciais de 2022.

Bolsonaro reagiu com afirmações agressivas contra ministros do STF, contra o próprio STF e o TSE. Apresentou ao Senado pedidos de impeachment de dois juízes do STF, assim como ao STF um pedido de que esse Tribunal deixe de ter prerrogativa de abrir processos. No caso, ele é objeto de quatro processos desses Tribunais contra ele. 

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Com essa atitude, Bolsonaro aumenta ainda mais suas dificuldades de retomar relações amistosas com o Judiciário. Ao mesmo tempo que obstaculiza também a aprovação pelo Congresso de propostas suas, como a aprovação de um novo membro – evangélico que, segundo ele, introduziria a reza no STF – para o STF, assim como a eleição para um segundo mandato do Procurador Geral da República, que demonstra lealdade pessoal absoluta ao presidente e nenhum grau de independência e autonomia.

No momento em que, nas pesquisas, Lula aumenta sua vantagem em relação a Bolsonaro, viaja pelo país para restabelecer o bloco de alianças com que possa governar, demonstrando, de forma radicalmente contrária a Bolsonaro, capacidade política de unir, de dialogar, de estabelecer pontes com todos os setores que, em um ou outro grau, se opõem ou podem vir a se opor a Bolsonaro.

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Bolsonaro parece entrar em um processo muito perigoso de autocombustão. Até sua política econômica, de agrado do grande empresariado, encontra dificuldades, com ameaças dele não respeitar o teto de gastos – tão caro aos neoliberais – para gastar recursos em políticas que possam recuperar seu declinante apoio nas pesquisas.

A promessa da maior manifestação jamais havida no Brasil, com ataque à embaixada chinesa e ao STF e um contragolpe, é um desafio definitivo de até onde podem e conseguem ir os bolsonaristas. Tanto na capacidade de mobilizar tanta gente em São Paulo e Brasília, como de levar militares a essa aventura e de conseguir o tal golpe, tão anunciado.

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O país não aguenta mais viver sob ameaças e bravatas, sem nenhuma capacidade de se concretizar. Ao mesmo tempo, conforme ameaça e depois retrocede, Bolsonaro mantém a guerra contra o Judiciário, o Congresso e a mídia. Vai ficando no governo, pelas concessões que faz a forças que lhe apoiam por essa razão no Congresso, mas sem capacidade de governar, condenando o país a uma modorra e um afundamento na crise econômica e social de que, segundo Lula, o Brasil necessitará 2 ou 3 anos para superar.

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