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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Bolsonaro tem coragem de testar a fidelidade dos seus generais?

"Bolsonaro é a desordem geral de um governo militarizado. Por isso não há como esperar que os militares identifiquem desordem onde atuam organicamente, mesmo que não representem as Forças Armadas", escreve Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia. Bolsonaro, diz o colunista, "não conseguirá se manter até o fim só com blefes, e menos ainda com blefes requentados"

Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

Golpistas e golpeados sabem que a fidelidade dos militares a uns e aos outros só se manifesta na hora da verdade. E a hora da verdade é o golpe. Está na Bíblia, mas vem de antes de Cristo.

Bolsonaro blefa como se tivesse a fidelidade dos seus militares empregados no governo. Sabe não blefa com a segurança de que teria o respaldo do pessoal da ativa das Forças Armadas, mas com quem um dia prestou serviços fardados.

O problema de Bolsonaro é saber com quem pode contar, se decidir continuar blefando, como insinuou um dia depois de levar a goleada de João Doria e da Anvisa.

Bolsonaro disse na segunda-feira: “Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas”.

Ele sabe que não é verdade. Há muito tempo não é mais assim. Na Argentina, por exemplo, as Forças Armadas dizem no máximo que há tinta branca para pintar meio-fio e árvores nos quartéis. Não dizem mais nada.

Os argentinos não contam mais com as Forças Armadas nem para eventuais escaramuças. Eles descobriram tragicamente que os militares podem ter aprendido teorias sobre batalhas ferozes, mas são um fracasso na guerra real.

Por decisão do presidente Alberto Fernández, logo que assumiu o governo, as Forças Armadas não se metem nem em questões internas de segurança, como conflitos de fronteira, combate ao narcotráfico e tudo o que possa configurar terrorismo.

Essas são tarefas da Gendarmeria, a força policial militar nacional. Generais argentinos nem blefar poderiam, desde o fiasco das Malvinas, porque seriam presos.

Generais não darão mais nenhum pio na Bolívia, depois do golpe que durou apenas um ano, e não piam no Uruguai, no Chile, no Paraguai.

Bolsonaro é um dos últimos a acreditar no poder e na inteligência dos militares, porque deu emprego a muitos deles. O governo é empregador de pelo menos 6 mil oficiais.

Mas isso quer dizer que as Forças Armadas estão com Bolsonaro, que já mandou embora do governo uma dúzia de generais?

Quem está com Bolsonaro para um vale-tudo? Braga Netto está? Augusto Heleno e Fernando Azevedo estariam? Luiz Eduardo Ramos? O general Richard Fernandez Nunes, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, que não aceita críticas da imprensa às Forças Armadas?

Quem cuidaria da logística de um golpe, se for preciso movimentar tropas? Eduardo Pazuello saberia cuidar?

Quem são os generais fiéis ao blefe de Bolsonaro sobre a possível reação armada à ameaça do socialismo, se ele mesmo é incapaz de defender o que seria o capitalismo da extrema direita?

A pataquada, depois do massacre da decisão da Anvisa e do show de João Doria no domingo, foi uma tentativa de dizer que ele pode continuar ameaçando.

Bolsonaro vira uma caricatura piorada dele mesmo, ao tentar vender a ideia de que suas conexões com os generais, agora silenciosos, permanecem vivas, inclusive as que envolvem alertas sobre golpes.

Mas só há uma chance de Bolsonaro submeter à prova a fidelidade dos generais, dos altos oficiais e mesmo das tropas subalternas.

É preciso esticar a corda do blefe e seguir em frente, como os velhos e novos picaretas do Congresso, os coronéis civis da Avenida Paulista misturados a fazendeiros, jagunços da política e grileiros variados e a Globo fizeram contra Dilma em agosto de 2016.

Bolsonaro tem mais dois anos de governo e não conseguirá se manter até o fim só com blefes, e menos ainda com blefes requentados.

Evaporou-se a falsa controvérsia do artigo 142 da Constituição, de que as Forças Armadas teriam o poder de intervir em circunstâncias que exigem o “restabelecimento da ordem”.

Hoje, se essa interpretação fosse levada a sério, as Forças Armadas deveriam intervir contra o próprio Bolsonaro, que não consegue nem fingir que governa.

Restabelecer a ordem, nas atuais circunstâncias, seria assegurar com urgência um plano de vacinação com um mínimo de racionalidade. E oferecer alguma perspectiva de confiança na economia, interna e externamente.

Bolsonaro é a desordem geral de um governo militarizado. Por isso não há como esperar que os militares identifiquem desordem onde atuam organicamente, mesmo que não representem as Forças Armadas.

Generais no Brasil vivem há muito tempo sob o blefe do Dia D e da Hora H, comandados por um tenente que se distrai brincando como líder de um golpe. Mas quantos deles levariam essa brincadeira até perto do fim? É provável que nenhum.

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