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Rodrigo Vianna

Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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Bolsonaro: um governo em debandada

"O desmonte da equipe de Guedes é o sinal visível de um neobolsonarismo que pode rachar a direita", escreve o jornalista Rodrigo Vianna, apresentador da TV 247

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
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Num dia, a Globo abre largo espaço para "reportagem" baseada em estudos do Instituto Millenium: o material defende sem meias palavras a redução do peso do Estado e do funcionalismo público no Brasil. Trata-se de evidente reforço à agenda ultraliberal de Paulo Guedes (que, por sinal, foi um dos fundadores do Instituto mantido pelas organizações Globo e por outros empresários de direita).

No dia seguinte, dois dos principais assessores de Guedes (Sallim Mattar e Paulo Uebel) pedem o boné e vão embora. São dois extremistas, dois ideólogos do Estado mínimo. De forma surpreendente, Guedes em pessoa vai à TV e confirma o que chamou de "debandada".

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Não se trata de coincidência, mas de um rearranjo de forças na direita brasileira.

Jair Bolsonaro prepara -  com o auxílio do Centrão, dos ministros pragmáticos Tarcísio de Freitas e Rogerio Marinho, além do núcleo militar - um giro que pode enterrar a agenda liberal de Guedes: investimento público pesado e Renda Basica para os mais pobres parecem as únicas saídas para estabelecer uma ponte que permita ao governo chegar vivo a 2022.

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Paulo Guedes sentiu cheiro de fritura e quer sair por cima: quase sorriu ao falar na "debandada" dos fanáticos neoliberais Mattar/Uebel. Era um misto de chantagem e alívio: "Bolsonaro, o próximo a debandar serei eu, você quer mesmo experimentar mais essa instabilidade em meio à pandemia?"

A Globo lançou a bóia para Guedes, um dia antes, com a matéria millenarista no JN: na pior das hipóteses, mantem um aliado fiel à frente da Economia, ainda sob Bolsonaro; na melhor hipótese, no caso da saída do postopiranga, os Marinho e seus asseclas selam a aliança com Guedes e levam a "agenda liberal" para o bloco alternativo de centro-direita, que tentam construir para enfrentar Bolsonaro nas urnas.

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Estamos muito perto de ver nascer um neobolsonarismo. O presidente é tosco, mas não é burro: 

precisa acabar com o teto de gastos e fazer programa de renda mínima permanente, para segurar 30% a 35% de apoio. 

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Isso os liberais nao topam. A direita fanática liberal aceita tranquilamente 100 mil mortos. Mas não topa furar o teto pra salvar vidas e empregos.

Guedes chegou a dizer que furar o teto é o caminho para Bolsonaro transitar para o impeachment. É caso raro de subordinado que ameaça o chefe. Nada como ter o apoio da Globo. 

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O governo tinha três pernas em janeiro de 2019: conservadorismo neofascista / lavajatismo hipócrita e antipolítica / neoliberalismo antiEStado. 

A segunda perna foi amputada, com a saída de Moro e a incorporação do Centrão.

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A perna neoliberal está necrosada, e cloroquina não vai resolver. O compromisso de tolerar os abusos extremistas de carluxos e olavos, em nome da agenda liberal, parece estar com os dias contados.

Restará a Bolsonaro um conservadorismo (quase) estatizante, com Centrão/Militares... Será um governo em debandada, em meio a mais de 100 mil mortes, sem ministro de Saúde e com a economia em frangalhos. 

Mandetta, Moro e agora Guedes: o trio de ferro do liberalismo/lavajatismo rompe com o chefe fascista e se aninha sob o partido da direita, organizado pela família Marinho.

A equação parece ser essa.

Bolsonaro não recua nunca. Seguirá a avançar, deixando os feridos pelo caminho. Caberá à Globo usar a padiola do JN para recolher os corpos do neoliberalismo no campo de batalha. Sim, para tristeza de Miriam Leitão, o projeto fracasa pela terceira vez (Collor/Zelia, FHC/Armínio e Bolsonaro/Guedes).

As contradições entre os dois blocos de direita se acentuam e abrem mais possibilidades para a centro-esquerda, que poderá incorporar talvez setores menos radicalizados da centro-deireita (no que restou do mundo partidário conservador, na academia, no mundo empresarial e Jurídico há quem tope conversar com o lulismo; mas são setores minoritários).

Não devemos ter ilusões. Um governo em debandada, mas com 30% de apoio, é capaz ainda de causar muito estrago. 

A caneta na mão sempre vale muito. A caneta somada a soldados armados ou não e aos grupos de whatsapp valem muito mais. Talvez deixem o JN e o Instituto MIllenium no chinelo.

A debandada será longa, triste, sangrenta e dolorida.

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