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Adilson Roberto Gonçalves

Pesquisador científico em Campinas-SP

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Bracis intimus

A cultura do estupro, a misoginia e o machismo também são estruturados no país, junto ao racismo, e uma das forma de tentar coibi-los é falar abertamente sobre o que realmente acontece

Um novo termo jurídico desponta referente a busca e apreensão. O exame do bracis intimus do investigado ou suspeito passa a ser matéria penal corrente.

Se não por corrupção inexistente no governo, o senador Chico Rodrigues deveria ser condenado por plágio ou atentado ao pudor. Mas já foi dada como suficiente sua licença. No país da piada pronta, além da datiloscopia, a Polícia Federal tem de investir na colonoscopia. Agora entende-se a preocupação do presidente com sua hemorroida na famigerada reunião ministerial de 22 de abril.

Dessa visão escatológica do crime institucionalizado deriva muito do retrato atual do Brasil. A mentira documentada passou a ser uma verdade necessária para integrar o governo. Todos, sem exceção, mentem. O caso mais recente do candidato ao STF, já homologado pelo mesmo Senado que nada fará para aplicar alguma medida disciplinar contra o Chico da cueca. Tergiversar sobre assuntos mais polêmicos, levar questões de foro íntimo, como a religião, para julgamento de ações de repercussão em toda a sociedade não se enquadram dentro da reputação ilibada exigida para o cargo.

Incluo o crime de estupro e, ao final, se vê o porquê.

Crimes como o do jogador Robinho são infelizmente frequentes, mas poucos vêm a público, pois não possuem vítimas ou criminosos famosos. A cultura do estupro, a misoginia e o machismo também são estruturados no país, junto ao racismo, e uma das forma de tentar coibi-los é falar abertamente sobre o que realmente acontece. No entanto, pela política oficial de Bolsonaro e seus asseclas, tudo que lhes é desfavorável deve ser escondido e tratado como contrário à Nação. O exemplo vem de cima e é de lá que deveria começar a limpeza. Com papel higiênico, impeachment ou voto.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.