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Paulo Moreira Leite

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Braga Netto pode ter lugar próprio no governo Bolsonaro

"Enquanto o bolsonarismo investe na baderna, no reforço das milícias e na esperança de uma ruptura, cresce a noção de que os militares irão cumprir um papel próprio no governo Bolsonaro", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia.

Jair Bolsonaro e General Braga Netto (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Entre a baderna contínua da PM do Ceará e o condenável apoio do Planalto ao protesto do Foda-se, as atenções políticas agora se voltam ao general Walter Braga Netto, o general quatro estrelas que Bolsonaro instalou na Casa Civil.

Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, comandante da GLO que assumiu o governo do Rio de Janeiro em 2018, Braga Netto não chega de mãos vazias a Brasília nem dá a impressão de que precisa agradecer o novo emprego.

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Para empregar uma imagem que o ator José de Abreu usou para denunciar o "sim"de Regina Duarte, Braga Netto sabe muito bem o que Bolsonaro fez -- e não fez -- nos verões passados.

Pela sua história, seu currículo, e, acima de tudo, por suas prerrogativas como comandante de GLO, não há dúvida de que possui informações consistentes sobre a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. Muito mais do que todos os brasileiros, inclusive eu e você. Quem sabe, saiba tudo.

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Também é difícil imaginar que não tenha uma noção clara sobre a origem e o destino do carregamento de 147 fuzis que, de repente, foram descobertos no Condomínio onde o presidente mora, a poucas casas de 02 e do miliciano que fuzilou Marielle e Anderson.

Fato escandaloso na época, o arsenal virou fumaça e agora não se fala mais nisso. Chega a ser uma ofensa à competência de um oficial da estatura de Braga Netto imaginar que ele não conheça o assunto em detalhes. O mesmo se pode dizer sobre a perseguição e execução de Adriano da Nóbrega, o ex-capitao da PM que Bolsonaro chamou de herói quando ele já cumpria pena judicial.

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Para assumir o ministério, Braga Netto antecipou em seis meses a passagem para a reserva. Não foi um ato espontâneo, mas uma decisão do comandante do Exército, Edson Pujol.

Braga Netto será um ministro civil mas como acontece em mudanças muito grandes na vida de uma pessoa, pode-se admitir que tenha deixado o Exército mas é possível imaginar que talvez o Exército não tenha saído de dentro dele.

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Sempre será necessário lembrar que os oficiais militares das últimas gerações, aí incluindo Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno, foram criados e alimentados no interior da mesma bolha autoritária alinhada a Washington, que seleciona e reproduz a identidade política das altas patentes desde o golpe de 64, numa exclusividade ideológica à direita e à extrema direita, longe da pluralidade que marca a sociedade brasileira.

A visão definitiva sobre esse viés ideológico foi bem estabelecida pelo pesquisador Lincoln Secco, num artigo publicado em seu blogue, a partir de um título irônico ("Gramscismo, uma ideologia de extema-direita", em 08/05-/2019).

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Ali, Secco retrata o esforço de preservação da extrema direita militar após a queda do regime de 64, quando ela conservou o controle sobre recrutamento, formação e promoção das novas gerações de oficiais. Também reconstroi a participação de uma delegação militar brasileira na 17a Conferência de Exércitos Americanos -- a mesma que, anos antes, dera origem a sinistira Operação Condor --, fazendo relatos alarmistas sobre avanços imaginários da esquerda na Assembléia Constituinte -- os votos de parlamentares comunistas, brizolas e petistas limitavam-se a 9,4% do plenário.

Nada indica que Braga Netto irá assumir o posto no Planalto como quem pede um favor. É mais correto supor que estará cumprindo uma missão. Sua saída envolveu mudanças importantes no comando do Exército.
O posto anterior, de Chefe do Estado Maior, o segundo na hierarquia do Exército, só abaixo do comandante Pujol, será ocupado pelo general Marco Antonio Amaro dos Santos, o general Amaro.
Este oficial ocupa um posto singular. Foi chefe da segurança presidencial e depois chefe da Casa Militar de Dilma Rousseff. "Era a sombra da ex-presidente, das pedaladas matinais às viagens ao exterior," escreve Maria Cristina Fernandes (Valor Econômico, 20/2/2020), convencida de que a medida pode ser lida como "um sinal da ativa para o Planalto para lembrar que fornece quadros para servir ao Estado, não governantes, já que uma das tônicas de Bolsonaro é criticar quaisquer asssociações entre membros de sua gestão com aquelas do PT."

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Nessa interpretação, parece razoável supor que, em vez de Braga Netto ter ido a Bolsonaro, foi Bolsonaro que foi ter com Braga Netto. Oficiais costumam ler jornais e dão importância ao que se escreve em editoriais. Ontem, no Globo, podia-se ler "Bolsonaro atenta contra a Constituição" e ainda: "Cabe ao Congresso, à Justiça, ao conjunto de poderes republicanos impedir o avanço do Executivo".

Bolsonaro "parece procurar construir um regime populista de inspiração militar, bem ao gosto dos saudosos da ditadura", escreveu o Estado (27/02/2020).

Também leem a Folha, aquele que Bolsonaro pede que seja boicotado por leitores e anunciantes e que escreveu o seguinte: "Diante das demonstrações reiteradas de desprezo pela institucionalidade e de violação dos requisitos legais de honra, decoro e dignidade para o exercício da presidência, talvez apenas o medo do impeachment possa deter a perigosa aventura Bolsonaro." (27/2/2018).

Essa visão faz diferença, num governo que se tornou uma fábrica de instabilidade política e atos contínuos de provocação, como a tolerância ilimitada diante da baderna produzida pelas greves da Polícia Militar, que tem produzido 24 mortes por dia -- ou um cadáver por hora.

Alguma dúvida?

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