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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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Brasil 2016

Dilma Rousseff e Lula (Foto: Reuters)
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No filme Argentina 1985, de Santiago Mitre, com um belo papel desempenhado por Ricardo Darin, fica patente a necessidade num país de definir o que é e como se deixou marcar por sua história. Daí se revelar fundamental o acerto de contas travado pela justiça com o período ditatorial e os que comandaram a repressão. Não há nação que dispense a noção de um conhecimento em relação a seu passado, recente ou não, dando nome aos fatos e, se preciso, punindo responsáveis. São fenômenos que ultrapassam o tamanho das intenções particulares e se afirmam a partir de dimensões maiores. No Brasil, apesar dos esforços da classe dominante de alterar a ordem dos eventos por meio de versões mais aceitáveis, eles, os eventos, continuam latejando em nossa consciência como o pulsar de corações. Mesmo nos instantes de alegria (a posse do Lula, como ocorreu, foi um deles), quando a sociedade dá a impressão de estar inteiramente ali, não é incomum que, entre as correntes interiores, se cruzem igualmente aquelas que o passado a duras penas construiu.

O Brasil de hoje atravessa um novo momento, isso é inegável. No entanto, como se caminhássemos sobre pedras, rastros de tragédia pipocam sob os pés. A tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, com as cenas de destruição programada contra os prédios da Praça dos Três Poderes, não incomodou apenas quem percorria física ou virtualmente os exageros do dia. Mexeu nos princípios da razão, estimulando-a a pensar cada vez com mais afinco. Foi além. Trouxe de volta fantasmas de outro tempo, incluindo a derrubada de Dilma Rousseff com as consequências do que ocasionou, bem como a radicalização dos dramas sociais e as trapalhadas do ex-Presidente Jair Bolsonaro, forçando-nos a andar para trás. Não espanta que, até por ato falho a condenação de Michel Temer entre os participantes das decisões tomadas então emergisse nas conversas ao pé do ouvido ou mesmo pipocando nos discursos nos quais a avaliação das circunstâncias de 2016 se fariam registrar. Efetivamente, nós não melhoramos com aquelas medidas do Congresso. Pioramos. Ficamos mais descuidados com os nossos semelhantes e os abandonamos ao Deus dará.

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A miséria dos povos originários, com os desacertos da administração anterior, tinha de nos conduzir a quadros de escandalizar o mundo, como os revelados agora envolvendo crianças Yanomamis. Nada os justifica num país de dimensões continentais com os recursos do nosso, a não ser a insensibilidade com que passamos a tratar os outros. 

Na verdade, permanecemos à espera de acertos diante de uma história que começou com a matança dos indígenas e a longa, excessivamente longa, escravização dos africanos. Nada disso foi resgatado. Que nos perdoem os nervos à flor da pele do ex-vice presidente Temer, mas ainda que a verdade doa, é ainda a verdade que o pega de surpresa. Numa outra vida, numa nova pele, talvez possa se sair melhor. Em 2016, não há como não concordar com Lula: ficou mal na foto. O espírito golpista, carregado ou não de eufemismos ou mesóclises, não favorece a democracia. Estoura como furúnculos, como se passou no último 8 de janeiro. Mas agora, condenaremos os culpados.

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