Brasil abre caminho para acabar com a praga da tutela militar sobre a democracia
As decisões atuais do STF certamente farão com que os golpistas e inimigos da democracia do futuro pensem duas vezes antes de atacar
Toda a história de 525 anos do Brasil foi marcada por ameaças, conspirações, golpes de estado, ocupações de posições estratégicas no poder civil e tentativas de intimidação pelas armas por parte dos militares.
A partir de uma interpretação oportunista e deturpada que fazem do artigo 142 da Constituição, os fardados sempre se consideraram integrantes de um poder moderador que paira acima dos demais, além de moralmente superiores aos paisanos, como eles tratam os civis.
Anistias, como a de 1979, que varreu para debaixo do tapete da nação toda sorte de violações dos direitos humanos cometidas pelas Forças Armaras brasileiras, como sequestros, torturas e assassinatos, consolidou na caserna a certeza da impunidade.
Por esses e outros fatores, o Brasil ainda patina como uma democracia de baixa intensidade.
Contudo, a condenação e prisão pela Suprema Corte de um ex-presidente da República, capitão da reserva do Exército, além de generais de quatro estrelas e um almirante, integrantes do núcleo crucial da trama golpista, têm tudo para virar em definitivo essa página da história brasileira.
Mais sentenças condenatórias de militares pertencentes a outros núcleos da conspiração logo também transitarão em julgado.
As decisões atuais do STF certamente farão com que os golpistas e inimigos da democracia do futuro pensem duas vezes antes de atacar o estado democrático de direito, a menos que queiram ter o mesmo destino de Bolsonaro e seus asseclas.
As instituições democráticas e republicanas do país saem fortalecidas depois de passar por este teste de fogo.
De agora em diante, o caminho está aberto para o Brasil ter, finalmente, forças armadas profissionais e voltadas exclusivamente para suas funções constitucionais de defesa nacional, ocupação e patrulhamento de fronteiras, além de ações que visem a integração nacional em um país de dimensões continentais como o nosso.
Claro que existem ainda obstáculos a serem superados. É preciso descontaminar politicamente as forças armadas, o que é um processo que não se dá da noite para o dia. Mas ajudaria muito mexer na grade curricular das escolas de formação dos militares, dando ênfase a temas como valores democráticos, direitos humanos, diversidade, combate ao racismo, desigualdade social, igualdade de gênero e sustentabilidade ambiental.
Voltando para o assunto das prisões, fico sabendo agora que o general Augusto Heleno diz sofrer de Alzheimer desde 2018.
Como assim, se passou todo o governo Bolsonaro, de 2019 a 2022, com saúde suficiente para desdenhar da democracia e endossar todas as tramoias golpistas e antidemocráticas do então presidente da República?
Bolsonaro, por sua vez, diante da iminência da prisão, apelou feio para a vitimização se internando inúmeras vezes e até passando alguns dias dentro da embaixada da Hungria, em Brasília. Por fim, protagonizou o espetáculo patético de tentar violar a tornozeleira com um ferro de solda.
Tudo isso vai ao encontro de uma postagem nas redes sociais feita pelo jornalista Breno Altman apontando a enorme diferença moral entre os militantes da esquerda e da direita nos momentos de suas prisões.
O jornalista comparava a altivez com que o pessoal da esquerda enfrenta o encarceramento com o comportamento de ratazanas covardes dos direitistas.
Bingo!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



