Brasil deve aproveitar cenário global caótico para diversificar parcerias comerciais
Enquanto o dólar balança com políticas de Trump, Lula pode encontrar espaço para reforçar acordos fora do eixo comercial tradicional, diz Luis Mauro Filho
247 - A recente escalada de tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadeou uma onda de instabilidade nos mercados financeiros globais. Em apenas três dias, aproximadamente US$ 9,5 trilhões foram eliminados das bolsas de valores ao redor do mundo, refletindo temores de uma recessão iminente.
Empresas com cadeias de suprimentos internacionais, como Apple e Nike, foram particularmente afetadas, com perdas significativas em seu valor de mercado.
A política protecionista de Trump, que inclui tarifas de até 50% sobre produtos de diversos países, com muito pouco sentido lógico, tem sido amplamente criticada por líderes e economistas globais. O bilionário investidor Bill Ackman alertou que tais medidas podem levar a uma "guerra econômica nuclear", enfatizando que a continuidade dessa abordagem pode resultar em recessão e danos duradouros à economia mundial.
A preocupação foi reforçada por Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, em sua carta anual aos acionistas do banco, divulgada nesta semana. Segundo Dimon, o tarifaço "provavelmente aumentará a inflação e está levando muitos a considerar uma maior probabilidade de uma recessão".
Em resposta a essas tensões comerciais, países como China, Japão e Coreia do Sul têm intensificado esforços para firmar acordos de livre comércio entre si, visando mitigar os impactos das tarifas americanas e fortalecer suas economias. Os ministros da Indústria e Comércio dessas nações reuniram-se recentemente em Seul para acelerar as negociações de um acordo trilateral.
Já no cenário político nacional, manifestações organizadas pela extrema-direita em defesa da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro não obtiveram adesão nem próxima do esperado. Em São Paulo, por exemplo, a presença foi inferior ao projetado pelos organizadores, indicando total falta de apoio popular à pauta. Além disso, uma pesquisa Quaest apontou que 56% da população brasileira é contrária à concessão de anistia aos envolvidos nos atos golpistas.
Diante desse panorama, o presidente Lula encontra uma janela de oportunidade para fortalecer a posição internacional do Brasil. Com a volatilidade do dólar e a busca de nações como União Europeia, Japão e Coreia do Sul por alternativas comerciais, o Brasil pode e deve diversificar suas parcerias econômicas.
A aproximação com a China surge como um movimento estratégico. A visita de Lula ao presidente chinês, Xi Jinping, prevista para maio, representa uma oportunidade ímpar para consolidar relações bilaterais e explorar novas vias de cooperação econômica.
Como ressaltou o assessor especial da Presidência e ex-ministro Celso Amorim, iniciativas como esta não implicam em desprezar as relações com o Ocidente, mas sim em ampliar o leque de oportunidades para o país.
A conjuntura atual exige do Brasil uma postura proativa na construção de uma política externa que privilegie a multipolaridade e a diversificação de parceiros comerciais.
A instabilidade gerada pelas políticas protecionistas dos EUA e a falta de coesão nas pautas internas da oposição extremista abrem a oportunidade de Lula impor uma pauta inovadora, de valor e conectada à realidade do século XXI. E, para além disso, também reforçam a necessidade de o país buscar caminhos que garantam sua inserção soberana e competitiva no cenário internacional.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




