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João Ricardo Dornelles

(Professor de Direito da PUC-Rio; Coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio; membro do Instituto Joaquín Herrera Flores/América Latina; membro do Coletivo Fernando Santa Cruz)

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Brasil: moinho de gastar gente

A Chacina do Jacarezinho junta-se à uma longa história de terror, onde o nosso povo, os pobres, negros, indígenas são moídos na máquina do enriquecimento de poucos e da acumulação global.

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De onde estou, do outro lado do Atlântico, passei o dia de ontem focado nas minhas aulas à distância. Somente à noite soube o que aconteceu no Jacarezinho, no Rio de Janeiro.
Mesmo já com a pele curtida pela histórica barbárie brasileira tive muita dificuldade para ler as notícias e ver as imagens do massacre promovido pela polícia.
Foi a maior chacina ocorrida, sempre contra os mesmos, pobres, trabalhadores, negros. O alvo sempre é esse povo brasileiro que foi formado através da dor e do sangue, numa enorme máquina construída por colonialistas, senhores, patrões, donos das riquezas. Uma enorme máquina que sobrevive à cinco séculos. Como disse um compositor argentino,León Gieco, referindo-se à história da América Latina, “Cinco Siglos Igual”. A máquina da barbárie, o moinho de gastar gente, como disse Darcy Ribeiro.
O projeto colonial, ou neocolonial, se reproduz e atualiza constantemente em tempos de capitalismo neoliberal. Nada de novo nos tristes trópicos brasileiros.


A novidade é a combinação entre o matar e a omissão, entre o fazer morrer e o deixar morrer. As práticas políticas genocidas se combinam e se reproduzem, com as mortes pela Covid e com a contínua administração da miséria através do sistema penal, como dizem inúmeros criminólogos críticos. A criminalização da pobreza faz parte do projeto, o deixar morrer pela covid faz parte do projeto, o corte de investimentos sociais (entendido pelos magos do mercado como custos) faz parte do projeto, o fim das proteções previdenciárias faz parte do projeto, o desmantelamento da saúde pública faz parte do projeto. Um projeto de morte, do necrocapitalismo que, em plena crise pandêmica, vê aumentar como nunca a miséria e a exclusão, ao mesmo tempo que os bancos nunca lucraram tanto, que os ricos, muito ricos e muitíssimo ricos se tornam cada vez mais ricos. Um processo de permanente acumulação primitiva do capital através da espoliação e das práticas sociais e políticas genocidas. “Cinco Siglos Igual”.
Matar e deixar morrer fazem parte do projeto. Não é incompetência, é a lógica da barbárie do capitalismo.

Temos um ser desprezível ocupando o ministério da fazenda afirmando que o problema para as contas públicas é que esse povo quer viver 100 anos. Sem comentários. Temos outro ser ignóbil ocupando o ministério do meio ambiente, como agente do agronegócio, empresas e grupos que destroem o meio-ambiente. Temos um governo de assassinos e seres perigosos. Como os fascismos do Século XX, o Brasil bolsonarista tornou-se uma ameaça para o seu povo, para os povos vizinhos e para o mundo todo.

Um massacre a mais, o maior até agora.
Na véspera da Chacina do Jacarezinho Bolsonaro esteve no Rio de Janeiro reunido com o governador Cláudio Costa, outro fascista convicto. Não anunciaram o que conversaram. Nenhuma notícia sobre o que foi tratado na reunião entre o presidente (aqui com “p” minúsculo, para um ser abjeto e minúsculo) da República e o governador (outro ser minúsculo e abjeto) do Rio de Janeiro.
Mas é significativo que quando a CPI da Covid avança (poderíamos nominá-la de CPI do Genocídio), Bolsonaro e seus cúmplices aumentam o tom com mais ameaças à democracia. Assistimos isso nas ameaças do nazifascista contra o STF, contra governadores e prefeitos, contra a China.

A CPI da Covid pode ser o momento de colocar Bolsonaro e seus cúmplices no banco dos réus. Mas não resisto a dizer que preferia para os membros desse governo um verdadeiro Tribunal de Nuremberg ou, pelo menos, sendo investigados por uma nova Comissão da Verdade.

No momento em que o Brasil tem cerca 420 mil mortos pela Covid, em que o mundo vê o país como pária, uma ameaça global, o governo continua a boicotar as medidas de controle da pandemia e a aquisição de vacinas e insumos básicos para a sua produção no país. Um governo que pressiona a Anvisa para negar autorização de importação da vacina russa, Sputnik V.

A Chacina do Jacarezinho junta-se à uma longa história de terror, onde o nosso povo, os pobres, negros, indígenas são moídos na máquina do enriquecimento de poucos e da acumulação global.

Derrotar Bolsonaro e, mais do isso, destruir a maneira bolsonara de ser, incrustada na sociedade brasileira, é uma tarefa não só de nós brasileiras e brasileiros, mas de todas e todos que lutam por um mundo mais justo, igualitário, livre das opressões do capital, do sexismo, do racismo.
Livre de todas as formas de opressão e de todos os opressores.

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