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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Brasil para Principiantes

"É a crônica de um desastre que podia ser anunciado se Lula não estivesse solto e livre para se candidatar"

Brasil para Principiantes (Foto: Miguel Paiva)

Por Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

A Ministra Rosa Weber obriga o Aras a trabalhar, o Lewandowski libera o controle do passaporte da vacina nas universidades federais e o Alexandre de Moraes continua a investigação das fake- news. Resumo, quem governa este país, ou melhor, evita que o desgoverno leve de vez o país para o abismo é o Supremo. Talvez a senadora Simone Tebet tivesse mais razão se dissesse, “quando iríamos imaginar chegar a este ponto?” e não que não dava para saber que o Bolsonaro ia ser o que está sendo. Dava sim, senadora e só não percebeu quem era muito ingênuo ou mal intencionado. O ex-candidato a presidente João Amoedo do Partido Novo disse que votará novamente nulo. 

É a crônica de um desastre que podia ser anunciado se Lula não estivesse solto e livre para se candidatar. Mas o preconceito também rola solto. Preconceito e maracutaia. Preconceito para quem não tem o rabo preso na bolsa e maracutaia para a turma do mercado que se não quer Lula, que jamais trabalhou contra eles, não é o mentor do neoliberalismo que rege a turma do Guedes e só visa o enriquecimento próprio. Claro que isso eles não querem o que se confirmou com o desmascaramento do Moro que acabou confessando o que todos nós já sabíamos, viu Simone Tebet? 

Mas assim mesmo a turma do mercado fez vista grossa porque interessava acima de qualquer honestidade política, a vitória financeira sem escrúpulos. A turma do Guedes queria isso aliada com a ignorância do Bolsonaro e a conivência dos bem pensantes da iluminada classe média brasileira, incluindo a imprensa empresarial que preferia tudo menos um político que trabalhava pelo povo sem excluir nenhum setor da sociedade.

Essa classe dominante branca e rica sempre existiu e passou seus fundamentos para os brancos não tão ricos e esses para os brancos nada ricos que continuaram explorando os pretos e pobres. Essa corrente da meritocracia persistiu e acabou criando um pensamento atuante dos anos de 1980 em diante.

Na Europa foi a época do individualismo, dos yuppies, da burguesia galopante. No Brasil veio mais tarde e só foi atrapalhado pela eleição dos governos Lula e Dilma que tentaram frear o processo. Foi preciso um golpe para levar o Brasil de volta ao caminho do mal, ao desvio do progresso. A Europa já tinha passado por poucas e boas e pode se dar ao luxo de desperdiçar um tempo com a viciada burguesia mal intencionada. Mas alternância do poder por lá existe e o que vai acaba voltando. 

Alguns países da América Latina igualmente haviam exorcizado os demônios militares das ditaduras vividas, mas o Brasil, por liderar esses países aos olhos dos americanos e influenciado por eles acabou passando um guardanapo de pizzaria quando os crimes da ditadura foram colocados na mesa. A Comissão da verdade acordou quem dormia com um olho aberto e esses militares voltaram a perturbar nosso sono e a favorecer o caminho nefasto do neoliberalismo e da meritocracia que acabou, sem mérito algum, afundando na própria incompetência. 

E parece que alguns vão continuar. Eles acreditam e talvez com razão, que o mercado vai continuar ativo, seja em que governo for. É que eles querem sempre mais e se deixarmos vão conseguir. O que não aguentamos mais é ouvir, anos depois, palavras de arrependimento que ajudarão a compor o epitáfio do país numa lápide feita de pau a pique.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.