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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Brasil, paraíso dos genocidas

O linguista Gustavo Conde afirma que a encenação de guerra entre Bolsonaro e imprensa é um dos elementos que nos amarra à paralisia política. Ele diz: "Globo, Folha, Estadão e Bolsonaro são irmãos siameses, rabos da mesma besta, pústulas do mesmo verme, rasgos purulentos não apenas em qualquer possibilidade de debate público, mas em qualquer possibilidade de vida simbólica, de linguagem, de subjetividade"

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A 'imprensa brasileira' (sei que parece deboche, mas o nome é realmente esse: imprensa brasileira) ameaçou sair do lodaçal em que sempre se encontrou, mas se arrependeu e mergulhou com gosto no caldeirão putrefato de racismo, berço esplêndido da nossa elite.

Eles associam a palavra "economia", untada com cifras de positividade ética, ao massacre dos direitos sociais conquistados a duras penas - e com muito sangue - desde o trabalhismo dos anos 30.

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Sem uma gota de pudor.

Eles falam em "economia" de "um trilhão" quando mencionam a reforma da previdência. Falam em "economia" de "4 bilhões", quando citam os cortes no INSS.

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E a legião de economistas "formados em Harvard" assiste a esse espetáculo grotesco de distorção desumana dos fatos e de suas consequências como quem assiste a um desfile de escola de samba.

O duro é ver Bolsonaro chamando Globo e Folha de S. Paulo de canalhas e ter de concordar com isso.

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É blefe, é deboche, é estratégia de comunicação de guerra (Bolsonaro insultar a imprensa) e, por isso mesmo é a sinuca de bico do século, que nos empurra a sofrimentos inomináveis de depressão semântica - e a respectiva "preguiça" em lutar contra os fraudadores profissionais do sentido e da linguagem: imprensa e governo nazi-fascista.

Fingindo ser contra a imprensa brasileira, Bolsonaro quer induzir os segmentos democráticos a defender esta imprensa - ou valores correlatos e igualmente fraudulentos como o delírio conceitual nomeado "liberdade de imprensa" - e assim, promover de forma miseravelmente inteligente a manutenção do pior jornalismo praticado no mundo: o jornalismo brasileiro.

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As últimas teatralizações da rixa Bolsonaro-imprensa são o suprassumo do deboche assistido a que estamos sendo lançados dia após dia, com a disciplinada cumplicidade do jornalismo denominado independente, que repercute, reverbera, comenta, tonifica e leva a sério o aniquilamento explícito da possibilidade de debate público qualificado neste momento lamentável da nossa história.

O nome disso é "ressaca de civilização".

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A gente aprendeu a ser gente com a democracia espetacular e teimosa de Lula e jogamos essa oportunidade no lixo carnavalizado de nossa cultura racista, pretensiosa e languidamente suicida.

Somos todos capitães-do-mato, inclusive essa casta autoproclamada branca (tão bem representada por Globo, Folha e Bolsonaro), que vive de oferecer as próprias vísceras apodrecidas aos vampiros de mercado que falam inglês sem sotaque.

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O Brasil é um vexame.

Vivemos o teatro permanente, opressivo e devastador de semidemocracia em curso, chancelado de maneira torpe por instituições pestilentas, por nossa 'casta média' assassina - que se locupleta com o massacre de Paraisópolis, balbuciando "CPFs cancelados" - e pelo mais genocida jornalismo de que se tem notícia, com o perdão da reiteração e do pleonasmo.

Porque "jornalismo", no Brasil de Bolsonaro, virou sinônimo de "genocídio". Tal como as palavras do Seu Jair torturador, o texto jornalístico é um estimulador de ódio e de violência.

Globo, Folha, Estadão e Bolsonaro são irmãos siameses, rabos da mesma besta, pústulas do mesmo verme, rasgos purulentos não apenas em qualquer possibilidade de debate público, mas em qualquer possibilidade de vida simbólica, de linguagem, de subjetividade.

Por isso, Lula lhes queima a alma.

Há momentos em que o ceticismo e a desesperança nos lançam aos pensamentos mais dolorosos. Nesses momentos, chego até a pensar que o povo trabalhador brasileiro não merece Lula, que a humanidade de um homem que lhes materializa o verbo e o sentido, com generosidade e humildade, é assaz monumental para o acovardamento que vamos tendo a infelicidade de testemunhar.

O Brasil vive sob o signo do medo e do acovardamento.

Quero dizer, no entanto, que este momento é um momento de dor, de solidão, de desamparo, de desalento, mas que ele passa e deve passar.

Resta a indignação e a revolta que tento traduzir em palavras para também tentar, humildemente, ao menos deixar um testemunho do espancamento de civilização a que estamos sendo assujeitados.

Não haverá país com o perdão a essa imprensa genocida. Não haverá país com tolerância a essa 'casta média' assassina e egoísta. Não haverá país com esses comentadores cúmplices que buscam conciliação classista e um lugar no panteão podre de nossa cultura de grife, status infame do colunismo de aluguel que sobrevive às custas do sangue e da alma de uma população inteira que pena para se alimentar.

Basta de compreensões e de explicações. Morte aos genocidas.

Senão às ruas, ao menos à palavra, que é o que me resta.

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