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Aquiles Lins

Aquiles Lins é colunista do Brasil 247, comentarista da TV 247 e diretor de projetos especiais do grupo.

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Brasil reduz desmatamento em 2024 e fortalece liderança rumo à COP30

Cinco dos seis biomas registraram queda; Cerrado ainda lidera perda de vegetação, pressionado pelo avanço do agronegócio

Vista aérea de área desmatada da Amazônia no Mato Grosso (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

A divulgação do Relatório Anual do Desmatamento (RAD), produzida pelo Mapbiomas, traz um alívio cauteloso para quem acompanha a agenda ambiental no Brasil. O país registrou em 2024 uma queda expressiva de 32,4% na área desmatada e de 26,9% nos alertas de desmatamento, em comparação com 2023. Cinco dos seis biomas brasileiros apresentaram redução, com destaque para o Pantanal e o Pampa. 

Os números refletem um esforço coordenado entre o governo federal, estados e instituições de controle ambiental. Desde o retorno do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e a ampliação de planos semelhantes para outros biomas, a estratégia de enfrentamento ganhou fôlego e capilaridade. A retomada da fiscalização por órgãos como Ibama e ICMBio, além do uso mais criterioso dos dados ambientais para concessão de crédito rural, contribuiu diretamente para esse resultado.

Ao todo, o Brasil desmatou 1.242.079 hectares em 2024 — o equivalente a mais de 3.400 hectares por dia. Ainda é um volume preocupante, mas que, diante da trajetória dos anos anteriores, indica um rumo mais responsável. Essa trajetória é particularmente importante porque o Brasil se prepara para presidir a COP30, em novembro de 2025, em Belém. Reduzir o desmatamento é uma obrigação ambiental e uma condição ética e política para liderar as negociações climáticas globais com legitimidade.

No entanto, é impossível ignorar que o Cerrado permanece como o bioma mais pressionado. Com mais de 652 mil hectares desmatados em 2024 — 52,4% do total nacional —, essa savana biodiversa continua sendo o principal alvo do avanço do agronegócio, especialmente na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que concentrou 42% de toda a perda de vegetação nativa do país. A conversão acelerada de vegetação nativa em áreas agrícolas, muitas vezes com autorização, impõe limites à narrativa de progresso sustentável.

Esse paradoxo evidencia que o sucesso na Amazônia não pode ser desculpa para negligenciar os demais biomas. A Caatinga, o Pampa, o Pantanal, a Mata Atlântica e especialmente o Cerrado merecem proteção efetiva. A estabilidade no desmatamento da Mata Atlântica, por exemplo, mascarou perdas relevantes associadas a eventos climáticos extremos, como no Rio Grande do Sul. Isso mostra que o desmatamento, além de provocado, também é agravado pelas mudanças climáticas, criando um ciclo perverso de degradação.

A redução registrada em 2024 deve ser celebrada, mas com os pés no chão. O Brasil caminha para mostrar ao mundo que é capaz de liderar pelo exemplo — e o exemplo começa em casa, com políticas consistentes, transparência de dados, valorização dos biomas e enfrentamento real das causas estruturais do desmatamento, como a expansão agropecuária desregulada.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.