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Gilvandro Filho

Jornalista e compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV Globo, onde foi comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados: Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”

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Brasil: um presidente em exercício e outro em repouso

"A partir desta segunda-feira, o Brasil contará com dois presidentes da República. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, que recebeu o cargo do presidente, ainda por conta da viagem a Davos. E o presidente Jair Bolsonaro, em licença de saúde para submeter-se a uma cirurgia para retirada de uma bolsa de colostomia", diz o colunista Gilvandro Filho; "Não há notícia, no Brasil, de um chefe de Estado que tenha tão pouca confiança em seu vice. Só não fazendo fé alguma em seu vice, um mandatário, enfermo, não passaria ao seu sucessor imediato a função, em sua plenitude. Para isso foi eleita a chapa completa"

Brasil: um presidente em exercício e outro em repouso (Foto: Esq.: Antonio Cruz - ABR / Dir.: Adriano Machado - Reuters)

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A partir desta segunda-feira, o Brasil contará com dois presidentes da República. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, que recebeu o cargo do presidente, ainda por conta da viagem a Davos. E o presidente Jair Bolsonaro, em licença de saúde para submeter-se a uma cirurgia para retirada de uma bolsa de colostomia. Mas que dará expediente em um gabinete instalado dentro do hospital.

A situação esdrúxula e meio inacreditável gera mais uma piada de um governo que, apesar de disso, nada tem de engraçado. Equivale a dizermos que Mourão é o presidente em exercício e Bolsonaro, o presidente em repouso.

Não há notícia, no Brasil, de um chefe de Estado que tenha tão pouca confiança em seu vice. Só não fazendo fé alguma em seu vice, um mandatário, enfermo, não passaria ao seu sucessor imediato a função, em sua plenitude. Para isso foi eleita a chapa completa.

Aliás, por algumas posições assumidas pelo general, nesses primeiros dias de governo, alguns exagerados até já chegaram a alimentar uma certa esperança de algo acontecer durante essa interinidade. Em proporções mais radicais, Mourão se afeiçoar ao cargo e não querer mais devolvê-lo ao capitão-presidente. Ou então querer pegar a BIC (Mourão usará BIC?) e baixar algum decreto que mude o rumo de algo tido pelo titular como imutável.

De todo modo, o período de interinidade desperta curiosidade e, já se viu por aí, rende até apostas. É interessante conjecturar sobre como será o comportamento de Mourão diante dos primeiros-filhos, cada um mais afoito e dono do pedaço que o outro. O general-vice-presidente já deixou no ar que considera os “garotos” metidos demais para o gosto dele.

Tome-se por exemplo o atual escândalo envolvendo o primogênito Flávio Bolsonaro, o ex-assessor-motorista-pagador-amigo de fé-irmão-camarada Fabrício Queiroz e a família do chefe do Escritório do Crime – todos ligados por laços afetivos e profissionais aos Bolsonaro. Ao longo de todo o processo, que ainda não terminou, foi visível o desconforto de Mourão. Enquanto isso, Jair Bolsonaro dava apoio velado ao filho, que é senador eleito e diplomado, embora ainda não empossado.

Pense como seria esquisito um presidente em exercício determinar algo e ser desautorizado pelo presidente que está fora do cargo se recuperando em um hospital. Imaginemos, então, Mourão dizendo uma coisa na Globo e Bolsonaro desmentindo na Record.

Naturalmente, repetir é bom, tudo não passa de exercício mental. É meio impensável uma desobediência do vice a ponto de se estabelecer uma crise. Isto se choca até com o sentido de hierarquia dos militares. Mesmo se tratando de um vice que é general de Exército e de um presidente da República que é capitão da reserva.

Para completar o quadro, não deixa de ser igualmente estranho um hospital montar um gabinete presidencial em suas dependências. Ainda mais um hospital do porte do Albert Einstein, requintado nosocômio localizado no bairro nobre do Morumbi, SP, que possui 6 mil médicos, 627 leitos, 32 mil pacientes cirúrgicos/ano e uma taxa de ocupação de 82%*A transferência do governo para o local deve, no mínimo, mexer com a rotina de médicos e pacientes.

Vai ter quem não goste.

* Dados do site do Albert Einstein

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