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Ricardo Kotscho

Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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Brasil volta às ruas: o papel dos repórteres na defesa da democracia

Jornalista Ricardo Kotscho lembra que não são apenas estudantes, professores e artistas que estão mobizando para os atos desta terça-feira, 13; "A inédita união das centrais sindicais está mobilizando trabalhadores de todas as áreas, assim como os movimentos sociais e populares, que andavam sumidos das ruas", diz ele, ao conclamar a imprensa a divulgar os atos

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Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia 

Há várias semanas estão sendo organizadas manifestações de protesto contra o governo pelas 12 centrais sindicais unidas, a União Nacional dos Estudantes e centenas de outras entidades mobilizadas em todo o país.

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Você viu alguma notícia sobre os atos programados para esta terça-feira, dia 13 de agosto de 2019?

O único registro que encontrei até agora foi uma nota no Painel da Folha, com o título “Bloco na rua”:

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“Organizadores de novos protestos contra cortes na educação se animaram com o monitoramento de adesões aos atos marcados para esta terça (13). Além de professores e alunos, que estão deliberando o assunto em assembleias nos diretórios acadêmicos, artistas reforçaram a mobilização”.

Não são só os estudantes, professores e artistas.

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A inédita união das centrais sindicais está mobilizando trabalhadores de todas as áreas, assim como os movimentos sociais e populares, que andavam sumidos das ruas.

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É a sociedade civil organizada que está voltando a se manifestar, num momento de sufoco extremo, em que ninguém aguenta mais os desmandos desse governo demente e entreguista, comandado por um capitão desvairado, que agora deu para desfilar de motocicleta e jet-sky por Brasília.

Por onde andei neste final de semana _ não sei como ficaram sabendo dos protestos _ muita gente já se programava para ir à avenida Paulista, local da manifestação aqui em São Paulo, a partir das 16 horas.

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Hoje cedo, o primeiro e-mail que abri foi o do premiado escritor Luiz Ruffato, comunicando a um grupo de amigos que estava desmarcando outros compromissos para ir à avenida, e os convidando a fazer o mesmo. Me deixou animado.

São pessoas de todas as tendências políticas, que já andavam desesperançadas, e agora voltam a se juntar para dar um basta ao avanço deste desgoverno cívico-militar contra a democracia.

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É um clima muito semelhante ao do final de 1983, nos estertores da ditadura militar, quando líderes de diferentes partidos e de movimentos sociais começaram a discutir formas de mobilização pela redemocratização do país, com a volta de eleições diretas para a Presidência da República.

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Repórter de geral, como se dizia na época, eu tive a oportunidade de acompanhar, desde o início, a formação embrionária de um movimento popular que, no dia 25 de janeiro de 1984, inundaria de gente a praça da Sé, sob chuva, com faixas e cartazes, gritando “Diretas Já!”

Conto a história completa no livro “Explode um Novo Brasil” (Editora Brasiliense).

Era o dia do aniversário da cidade, e muitos colegas se surpreenderam ao ver aquela multidão de mais de 400 mil pessoas, reunida pela primeira vez desde o golpe dentro do golpe do AI-5 de 1968, que mergulhou o país na fase mais cruel da ditadura.

Não existiam ainda as redes sociais e a imprensa da época tentou esconder até o último momento a mobilização que crescia silenciosa nas periferias da cidade e do poder (a TV Globo registrou a grande festa democrática da praça da Sé como um evento do aniversário da cidade).

A cobertura política se limitava aos gabinetes nada arejados de Brasília. Poucos se arriscavam a sujar os sapatos para ir, como cantava Milton Nascimento, onde o povo está.

Achavam, até no jornal onde trabalhava, que eu estava maluco por acreditar que aquele primeiro comício da praça da Sé logo se reproduziria em outras capitais, com concentrações cada vez maiores, até o ponto em que a chamada grande imprensa não poderia mais ignorar o que estava mudando no Brasil.

Quem acreditou desde o primeiro momento nesta grande aventura, como dizia o velho Ulysses Guimarães, foi o dono da Folha, onde eu trabalhava, o visionário Octavio Frias de Oliveira.

O jornal abriu suas páginas para cobrir o dia a dia do movimento em todo o país, informando os preparativos, locais e horários das manifestações, e deslocando repórteres para cobrir todos os comícios.

Além dos partidos de oposição, estavam à frente do movimento a Ordem dos Advogados do Brasil(OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), além da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Não por acaso estas siglas da sociedade civil se uniram novamente para lançar nesta quinta-feira, dia 15, na sede da OAB, em Brasília, a Comissão Arns Contra a Violência, movimento criado em março por várias igrejas e entidades de defesa dos Direitos Humanos.

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O nome da comissão foi dado em homenagem a D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo na época das Diretas Já, que teve importante papel nas articulações para mobilizar a sociedade e foi o responsável pela edição do livro “Brasil Nunca Mais” sobre as torturas de perseguidos políticos durante o regime militar, do qual participei, junto com Frei Betto e outros jornalistas e advogados.

Por pior que seja a situação, as coisas podem mudar de uma hora para outra, se cada um de nós cumprir seu papel de cidadão, sem ficar esperando um milagre caído do céu.

Nós, repórteres, precisamos estar sempre atentos a essas mudanças e, para isso, precisamos ir aos lugares onde a vida real pulsa, independentemente do governo.

Confesso que não esperava viver tudo isso de novo, a esta altura do campeonato da vida, mas tem hora em que não há outra escolha.

É lutar, resistir, juntar forças, fazer reportagens e renovar esperanças.

Vida que segue.

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