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Reginaldo Lopes

Economista e deputado federal pelo PT/MG

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Brics: nova divisão internacinal do trabalho nasce dos escombros de Bretton Woods

Cúpula dos BRICS (Foto: Sputnik / Ramil Sitdikov)
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Reunidos em sua 11ª assembleia, em Brasília, nessa semana, os Brics, acrônimo formado, no âmbito das Nações Unidas, por Brasil, Rússia, Índia, China, em 2006, acrescido da África do Sul, em 2009, objetiva, essencialmente, ser alternativa à divisão internacional do trabalho, nascida no pós-guerra, a partir do Acordo de Bretton Woods, em 1944, comandado pelos Estados Unidos, vencedores do segundo conflito mundial.  

O suporte financeiro fundamental dos Brics, o Banco de Desenvolvimento Internacional(NDB), criado em 2014, com capital de 50 bilhões de dólares, busca diferenciar-se dos propósitos unilateralistas, que sustentam os alicerces financeiros de Bretton Woods: Banco Mundial(BIRD), Fundo Monetário Internacionala(FMI) e Banco Interamericano de Desenvolvimento(BID); com eles, os Estados Unidos construíram sua hegemonia econômica, financeira e militar, do pós guerra aos anos 1970, sob comando do dólar.  

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Representando 1/3 do PIB mundial(77 trilhões de dólares, OCDE, 2017), 42% da população global e 43% do comércio internacional, os Brics, objetivando o multilateralismo, nasceriam da consciência da falência da continuidade de Bretton Woods, como base de sustentação da economia mundial; afinal, o dólar se fragilizara, pelo excessivo endividamento dos Estados Unidos, como meio de troca internacional, incapaz de garantir estabilidade global.  

A partir do final dos anos 1990, o vigoroso crescimento chinês, o renascimento da Rússia nacionalista e a expansão econômica brasileira, na era petista(2003-2014), igualmente, nacionalista, ancorada na melhor distribuição da renda e vigor do mercado interno, somaram forças, para enfrentar a desconfiança na capacidade da moeda americana, de continuar como única referência monetária, afetada, hoje, por dívida pública de 22 trilhões de dólares para um PIB de 17 trilhões de dólares.  

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O desafio dos Brics, em meio ao dólar frágil, tem sido, fundamentalmente, construir seu banco de desenvolvimento(NDB), cujos sócios convidados são todos os associados das Nações Unidas, como proclamam seus fundadores; o crescimento econômico chinês e indiano, simultaneamente, estimado pelo FMI, entre 2020-2024, em 6%, representa a base sobre a qual o bloco tenta se firmar, para se transformar em nova referência monetária alternativa à moeda americana; o orçamento do Banco, para esse ano, calculado em 8 bilhões de dólares, liberou, em empréstimos, apenas, 900 milhões, nos últimos 12 meses, segundo o economista Paulo Nogueira Batista Junior; efetivamente, falta a ele maior dinamismo e, principalmente, maior unidade.  

GOVERNO QUINTA COLUNA  

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O governo brasileiro, lamentavelmente, se transformou num dos principais fatores dessa desunião; depois do golpe neoliberal de 2016, boicotou, claramente, os Brics, esvaziando sua política, enquanto passou a fazer o jogo de Washington, principal interessado em inviabilizar essa alternativa à dominação americana.  

A realidade, no entanto, vai falando mais alto do que a ideologia; a opção preferencial do governo Bolsonaro pelo governo Trump não se sustenta na prática, a partir dos próprios dados do comércio exterior; o Brasil, em 2017, exportou 50 bilhões de dólares para a China e importou 28 bilhões dólares; acumulou superávit de 32 bilhões, valor superior à soma das exportações para União Europeia e Mercosul; 30% do total das exportações brasileiras são destinados à China, destacadamente, alimentos e minérios.  

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Fica claro, portanto, que optar preferencialmente, com faz Bolsonaro, pelos americanos, é estratégia equivocada; com os Estados Unidos, segundo o Ministério das Relações Exteriores, Brasil, nos últimos 10 anos, registram déficit comercial de 90 bilhões de dólares.  

Trata-se, diante desse quadro, de fortalecer os laços comerciais com a China, mas, faz-se necessário cuidar da diversificação da pauta de exportações, para que o Brasil não continue, apenas, exportador de matérias primas e semielaborados e importadores de manufaturados, eternizando deterioração nos termos de troca.  

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Sobretudo, o Banco Brics, que será presidido por um brasileiro, na sua próxima gestão rotativa, a partir de 2020, precisa investir, no Brasil, em infraestrutura e integração econômica sul-americana, de modo a fortalecer as bases da industrialização, sucateada pelo modelo neoliberal, fruto da opção preferencial por Washington, como ocorre na desastrosa gestão bolsonarista.  

ABERTURA AO FUTURO  

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O Banco Brics representa abertura ao futuro no ambiente em que se desdobrarão as relações comerciais, com ampliação das fronteiras eurasiáticas, em construção pela aproximação crescente entre China, Rússia e Índia.  

Nesse cenário, o Brasil, fornecedor de produtos estratégicos, como alimentos e minérios, sem os quais não avançam industrialização global e criação de empregos de qualidade, representa fator dinâmico do desenvolvimento internacional, de modo a contribuir para a paz mundial.  

Trata-se de cenário inverso ao que vigorou no pós-guerra, com início da dominação americana, que se arrefece em razão do fracasso evidente do unilateralismo econômico; este predominou no período pós-guerra, até entrar em impasses crescentes, a partir dos anos 1970, com avanço da financeirização econômica especulativa.  

Basicamente, de 1944 a 1970, os Estados Unidos, ancorados no Acordo de Bretton Woods, dominaram a economia mundial; sua arma foi realização de superávit financeiro, como emissor de dólar, acumulando, em contrapartida, déficit comerciais, puxando, dessa maneira a economia mundial; verifica-se, nesse período histórico, a guerra fria entre americanos e soviéticos, que dividiu o mundo entre capitalismo e comunismo.  

As guerras aos adversários ideológicos levam Washington a ampliar, exponencialmente, déficits orçamentários, de modo a sustentar indústria bélica e espacial, como principal instrumento de poder imperial militar; esse modelo, nos anos 1970, iria fragilizar-se, crescentemente; o acúmulo de déficits levaria Washington, no governo Nixon, em 1972, a descolar o dólar do padrão ouro.  

A partir de então a moeda americana passa a flutuar, sem âncora monetária metálica, como ocorrera até então; expande-se a oferta de dólar, sem lastro no ouro, e prega-se liberação total das fronteiras ao capital financeiro; a financeirização especulativa global toma conta do mundo.  

A oferta exponencial da moeda americana mundo afora geraria pressões inflacionárias, nos anos 1980; a resposta do Banco Central dos Estados Unidos, para salvar o dólar do perigo de desvalorização, foi elevar de 5% para 20% a taxa de juros americana, para enxugar a liquidez.  

Resultado: colapso financeiro global, destruição, principalmente, das economias capitalistas periféricas, devedoras em dólar, como a brasileira.  

DITADURA NEOLIBERAL  

Nasceria, daí em diante, orientação neoliberal, por parte dos bancos credores americanos, que haviam emprestado dólar barato sem limites; o enxugamento financeiro imposto pelo juro americano representou, para as economias subdesenvolvidas, ajuste fiscal draconiano: privatizações, cortes de gastos, demissões, arrocho salarial, desmontagem de economias sub-regionais, instabilidades econômicas e políticas, cujas consequências se fazem sentir, até hoje.  

A periferia capitalista é, então, submetida, brutalmente, ao Consenso de Washington; impôs-se aos países, literalmente, falidos, o chamado tripé neoliberal: metas inflacionários, câmbio flutuante e superávits primários elevados; o BC brasileiro, monitorado pela banca internacional, adotou política monetária, em que a taxa de juros sobe bem acima do crescimento do PIB, para atrair capital externo, de um lado, e gerar desigualdade social, de outro.  

Dessa forma, as moedas nacionais, como o real, sobrevalorizaram, em nome do combate à inflação, para importar barato, gerando desindustrialização, dívida pública e desemprego; a desestruturação das economias periféricas, portanto, tem origem no esgotamento do fôlego financeiro dos Estados Unidos, de bancarem a senhoriagem do jogo capitalista do pós-guerra, fixado no Acordo de Bretton Woods.  

Tal situação fragilizou a economia mundial; em 2008, viria o caos; implodiram-se os bancos, credores do tesouro americano, afetado pela expansão especulativa ilimitada dos derivativos de dólar; de 2008 em diante, a instabilidade financeira global se intensificou e o mercado mundial colocou as barbas de molho em relação à saúde financeira americana; nasce, a partir daí as bases do Brics, sobre os escombros de Bretton Woods.

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