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Pedro Augusto Pinho

Avô, administrador aposentado

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Brincando de esconde-esconde enquanto o lobo mau devora a vovozinha

Os casos de censura e perseguição à exposições em museus mostram  o fim da história, a escravidão do pensamento, a via das políticas do mal, da concepção ilusória do status, magnificado pelo consumo endividado, como deseja o sistema financeiro internacional. Um mundo dos ricos consumidores, ilhados em confortáveis fortalezas, e dos pobres produtores, apáticos, satisfeitos em suas mediocridades culturais, disputando as migalhas dos feitores

Os casos de censura e perseguição à exposições em museus mostram  o fim da história, a escravidão do pensamento, a via das políticas do mal, da concepção ilusória do status, magnificado pelo consumo endividado, como deseja o sistema financeiro internacional. Um mundo dos ricos consumidores, ilhados em confortáveis fortalezas, e dos pobres produtores, apáticos, satisfeitos em suas mediocridades culturais, disputando as migalhas dos feitores (Foto: Pedro Augusto Pinho)
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Os tempos nublados fertilizam os retrocessos civilizatórios. Em satírica crônica, Frei Beto diz que a conhecida história infantil, do título deste artigo, seria noticiada pela revista Veja com a manchete: “Lula sabia das intenções do lobo”.

Nas ditaduras, de qualquer ordem, aguçam-se as ações antihumanas, eivadas de irracionalidades.

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Com fino humor e profundidade analítica, Marcos de Oliveira, em sua coluna Fatos & Comentários (Monitor Mercantil, 05/10/2017), trata do surto moralista que, subitamente, envolve parte da sociedade do sul e sudeste brasileiro em  exposições de arte plástica (Alguma coisa está fora da ordem).

Se já nos é difícil acompanhar as transformações sociais e econômicas, que dirá as manifestações culturais sob a designação de artísticas.

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Convido meus caros leitores a refletir sobre estes sombrios momentos de nossa contemporaneidade, em especial do Brasil após o golpe de 2016.

No século XX, de permanentes guerras, a sociedade humana passou por profundas e rápidas transformações. Peço que imaginem o início daquele século no Brasil, recém saído da tragédia da escravidão, começando o período republicano, com homens de chapéu e senhoras com saias nos tornozelos, e de como chegamos ao século XXI.

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Na conturbadíssima Europa, por toda primeira metade do século XX surgiram pensadores, filósofos, cientistas sociais que se debruçaram na análise destas transformações e nos legaram instrumentos metodológicos e referenciais para reflexão. Talvez possa arriscar uma unidade afirmando que eles percebiam a sociedade que viviam sob as explicações/razões/ideias marxistas e iluministas.

Tomemos a questão do direito, como uma reflexão para organização social. Ponho o direito em questão por considerar a justiça ser, atualmente, o poder de dominação imposto pelo capital financeiro internacional (a banca).

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Na Alemanha, da primeira década dos anos 1900, os juízes eram funcionários não remunerados do Império. Ora, eles tinham condição de sobrevivência – e com as exigências da classe social e da ocupação pública – que independia de salários. Era a classe que dispunha, para si e ao arrepio dos interesses opostos, o poder de decisão nos conflitos. E sabemos que o conflito, a tensão social é própria do Estado de classes. A inexistência do conflito indica a ditadura, o autoritarismo, a negação das classes.

A Constituição de Weimer, elaborada e promulgada após a derrota alemã na I Grande Guerra (1919), constituiu um marco na história do Estado Social, por oposição ao estado do indivíduo. E não chegou a ser integralmente implementada pela reação dos poderes até então governantes. Todos sabemos aonde levou este atraso civilizatório, quando 1932 chegou.

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Para confrontar, examinemos os Estados Unidos da América (EUA), que se tornaram o país chave do capitalismo no século XX. Em 1881, seis importantes sindicados se uniram a vários grupos trabalhistas e formaram a Federação Trabalhista Americana (AFL). Começou com 138 mil associados que eram, em 1898, o dobro, chegando a meio milhão em 1904. Em 1920 totalizavam quatro milhões.

E não se deu sem luta este fortalecimento trabalhista, enquanto na Alemanha os operários continuavam sem voz nem direitos. Certamente o caro leitor conhece as atuações da Agência Pinkerton agredindo e matando grevistas, provocando a intervenção do Estado para “restaurar a ordem pública”. Foi a ação sindical, elevando salários e exigindo tempo para gastá-lo, que ajudou a construir o êxito industrial estadunidense.

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Mas a sociedade contemporânea não poderia se esgotar nas relações de troca, deveria ser examinada num campo onde a liberdade individual se conformaria segundo o bem geral.

Examinemos os eventos no Rio Grande do Sul, em São Paulo e a manifestação do Prefeito Bispo no Rio de Janeiro, referidas na citada coluna do Monitor Mercantil.

O caso tem início com a exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença da Arte Brasileira”, pela área cultural de um banco estrangeiro, em Porto Alegre. Havia, nas obras expostas, nus e cenas eróticas, muito comuns em reproduções orientais, especialmente indus e chinesas. Grupos conservadores, obviamente ignorantes culturais, em ação que lembra as alemães dos anos 1920, levaram o banco a interromper e, posteriormente, cancelar a exposição.

O representante do Ministério Público Federal, responsável pelos Direitos do Cidadão, manifestou sua crítica ao encerramento da amostra, em nota, onde lembrava “episódios de destruição de obras de arte durante o período nazista”. Poderia este procurador também mencionar os talibãs destruindo imagens de Buda no Afeganistão.

Ao mesmo tempo e sem qualquer ligação com o evento de Porto Alegre, em São Paulo, em exposição fechada da performance do coreógrafo Wagner Schwartz, no Museu de Arte Moderna – MAM-SP – uma criança toca no pé do artista nu. Vê-se, de início, que uma criança não entraria sozinha numa exposição fechada e o adulto responsável, provavelmente, burlou a vigilância para o ingresso do menor.

Misturando, não se pode afirmar que intencionalmente, alhos com bugalhos, o bispo pentecostal, do religioso PRB que ocupa a Prefeitura do Rio de Janeiro, lança-se contra a exposição de Porto Alegre, porque seria exibida no Rio de Janeiro, e, conforme o jornal O Globo (02/10/2017), por não ser “legal estimular uma criança a tocar em um homem nu em ‘nome da arte’”.  E manifestantes, surgidos não se sabe de onde, atacam o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, clamando contra o apoio à pedofilia (sic). Curioso entendimento de tocar num pé!

Todo este enojante movimento reflete um país sem governo, sem lei, em processo de desagregação social. E nisso lembra Berlim pré-nazista.

O pensador estadunidense Fredric Jameson escreveu que a estética, o consumo e a mídia estariam adquirindo novos papéis, fazendo com que os indivíduos, tendo uma identidade fragmentada, se tornassem incapazes de serem os agentes de seus destinos. O homem não teria condições de controlar os símbolos, que se formam no mundo globalizado, e substituiria a experiência social por um simulacrum do mundo real, pelo mundo da hipersimulação (Postmodernism, or, The Cultural Logic of Late Capitalism, Duke University Press, USA, 1991 e Ideologies of Theory, Verso Press, USA, 2008).

Não vejo nestes casos – o cancelamento da exposição, a fraude do adulto colocando a criança em local para ela interditado, na ingenuidade infantil de tocar o pé de um homem nu, ou, pior de todas, o oportunismo político e a ignorância de um Prefeito e dos convocados para manifestação no Rio – mais do que a adesão à banalidade da vida, à corrupção das mentes, esta muito pior do que a dos bolsos.

Este é, realmente, o fim da história, não como uma nova aurora, mas como a escravidão do pensamento, a via das políticas do mal, da concepção ilusória do status, magnificado pelo consumo endividado, como deseja o sistema financeiro internacional. Um mundo dos ricos consumidores, ilhados em confortáveis fortalezas, e dos pobres produtores, apáticos, satisfeitos em suas mediocridades culturais, disputando as migalhas dos feitores.

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