Brinquedoteca ao ar livre e um novo amigo
Encontrei mais uma pessoa que, mesmo se posicionando à direita, trabalha com argumentos verdadeiros, sem falseamento ou narrativas
Ler os artigos do vereador Nelson Hossri, a quem chamo com carinho genuíno de Nelsinho, algumas vezes dói a alma, pois, apesar das nossas profundas diferenças de opinião, gosto dele; dói um pouco menos do que ouvir ou ler a indignação seletiva do meu queridíssimo amigo Carlos Barreto, que insiste em guiar-se pelos editoriais de importante e tradicional jornal, que apesar de apresentar suas posições com um ar de isenção a qual, na verdade, não tem.
Mas nem tudo são dores, pois tive uma conversa com outro avô lá na Hípica no último sábado que restabeleceu minha esperança nas relações não necessariamente conflitivas.
Participávamos de uma atividade muito bacana chamada ‘Brinquedoteca ao ar livre”, que contou com pintura, amarelinha, brincadeiras com bexigas, dentre outras atividades lúdicas e que integraram famílias e deixaram todos longe dos celulares por algumas horas; tinha até lanchinho.
Enquanto observávamos nossas netas, desenvolvendo a pintura possível para crianças de pouco mais de dois anos, falamos sobre vários temas e chegamos à política.
O “outro avô”, cujo nome não é relevante, é alguém de direita; ele deseja menos Estado e mais alguém “técnico” na presidência da república; já eu, que estou na outra margem do rio, prefiro um Estado presente na regulação eficiente das atividades econômicas e bem grande nas áreas da saúde, educação, segurança e lazer, o que poderia terminar mal foi uma boa experiência.
Concordamos em algumas coisas, especialmente que o governo Lula 3 é um bom governo, segundo meu novo amigo: “um governo acima das minhas expectativas”, o que prova que política se discute, havendo respeito às opiniões e honestidade nos argumentos.
Falamos sobre alguns indicadores macroeconômicos, o que nos levou a concordar que Lula 3 é, pelo menos, nota 7.
Inflação - O 3º mandato do presidente Lula caminha para registrar a menor inflação acumulada para um período presidencial de 4 anos desde o Plano Real. A projeção para o quadriênio (2023-2026) é de 19,73%. O índice supera o recorde anterior, de 22,21%, registrado no 2º mandato do próprio Lula (2007-2010).
Relação Dívida Pública x PIB – O meu novo amigo, avô da Laura, mostrou preocupação com a Dívida Pública.
Bem, de fato é um indicador importante, pois a relação entre a Dívida Bruta do Governo Geral e o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, entre 1995 e 2025, foi marcada por períodos de relativa estabilidade, momentos de alta e um crescimento acentuado a partir de 2014.
De 1995 a 2013: Estabilidade e queda - Após o Plano Real, a dívida pública se estabilizou e, a partir de Lula 1, começou a cair gradualmente, atingindo seu ponto mais baixo na série histórica em 2013, com o indicador em torno de 51,5% do PIB, ou seja, sob a presidência de Lula a Dívida Bruta do Setor Público atingiu o menor percentual.
De 2014 a 2020: Aumento acelerado - A partir de 2014, no último ano do primeiro mandato da presidência de Dilma, a relação dívida/PIB inverteu a tendência e passou a crescer de forma acelerada.
As causas seriam: (a) a recessão econômica de 2015-2016, que reduziu o PIB, e o aumento dos gastos públicos contribuíram para a alta da dívida; (b) a criação de “pautas-bomba” a partir de 2014 pelo congresso, especialmente pela câmara, então presidida por Eduardo Cunha e (c) Pico na pandemia: A pandemia de COVID-19 provocou um grande aumento dos gastos públicos e uma retração da economia, levando a dívida bruta a atingir seu pico, ultrapassando a marca dos 87% do PIB em 2020.
De 2021 a 2025: Oscilações e novo crescimento - Nos anos seguintes ao pico de 2020, o indicador teve uma pequena melhora, mas não reverteu a trajetória de alta.
As projeções do governo e de instituições financeiras indicam que a dívida continuará crescendo e depois se estabilizará e será decrescente até 2030.
Eu e meu novo amigo concordamos que não há caos, nem possibilidade de a dívida tornar-se insustentável, especialmente porque a economia segue para um novo período virtuoso, a taxa básica de juros tende a cair e com ela mais baixa a financiamento da dívida pública também cai e a relação dívida x PIB tende a cair.
Evidentemente, concordamos que o gasto público tem que ser realizado com responsabilidade e no cumprimento dos objetivos constitucionais previstos no artigo 3º e incisos da constituição federal.
Desemprego - A taxa de desemprego no Brasil atingiu 5,6% no trimestre encerrado em setembro de 2025, registrando o menor patamar da série histórica iniciada em 2012, segundo o IBGE. O número de pessoas desocupadas caiu para 6,045 milhões, e o total de pessoas ocupadas se manteve estável em um patamar recorde.
Nesse ponto meu “novo amigo” criticou o “bolsa-família”, fez uma confusão de argumentos e acabou dizendo que o Estado está criando um exército de vagabundos.
Respirei fundo, afinal eu estava ali para participar de uma atividade da Isabela e da Clarice, então eu lembrei que li em algum lugar que, com o aumento da renda pela conquista de um emprego formal, pela abertura de um pequeno negócio ou pela melhora nas condições financeiras do domicílio, mais de 2 milhões de famílias deixaram de receber o Bolsa Família entre janeiro e outubro de 2025, sendo que 1.318.214 saiu do benefício em razão do aumento dos ganhos totais no domicílio, outras 24.763 fizeram o desligamento voluntário, enquanto 726.799 famílias concluíram o período na Regra de Proteção.
Ou seja, é um programa maravilhoso. Ele ouviu, mas percebi que não concordou muito.
Investimento Estrangeiro Direito – Quando falamos sobre o IED ele próprio acabou lembrando que o interesse de investidores estrangeiros no Brasil cresceu mais que a média global nos últimos três anos. Ao todo, o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) em novos projetos produtivos no País aumentou 67% de 2022 a maio de 2025 na comparação com o período de 2015 a 2019. Globalmente, o número foi de 24%.
Meu novo amigo disse que tem uma carteira de ações e que está sempre atento aos movimentos do mercado e que nunca ganhou tanto na Bolsa como nos últimos meses, com os recordes seguidos, pois, o volume financeiro somou R$35,45 bilhões, bem acima da média diária do ano (R$23,6 bilhões). Na sequência atual de ganhos, o Ibovespa já acumula alta de 9,48%, ampliando a valorização no ano para 31,15%.
Conversei com o avô da Laura por cerca de uma hora, nos despedimos e sai feliz com a experiência, pois encontrei mais uma pessoa que, mesmo posicionando-se à direita, trabalha com argumentos verdadeiros, sem falseamento ou narrativas.
Esse é o causo da semana.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

