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Café da manhã com os fiscais do ponto final

É por essa gente que quer alguma coisa, quer ser alguém, quer vencer que eu luto e busco ensinar

É por essa gente que quer alguma coisa, quer ser alguém, quer vencer que eu luto e busco ensinar (Foto: Cristiana de Barcellos Passinato)
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Nós, que vamos todo dia pela manhã e retornamos do Fundão, Cidade Universitária da UFRJ que escolhemos ir pela Linha Amarela via Barra, passamos pelo expediente todos os dias de esperar longamente, ver diversos carros quebrados, sermos assaltados na Linha Vermelha na volta, etc...

Sempre vemos aspectos negativos e reclamações, desde a conservação dos carros e do preço alto sem os serviços que oferecem, pois o carro é todo lacrado, sem janelas para serem abertas, a não ser quando são arrombadas por passageiros e podemos abri-las, pois o ar condicionado nunca está a contento ou se está, é no inverno e é regulado na garagem e está sempre muito frio. Ou 8 ou 80, não é?

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Pois se por um lado esse aspecto nos estressa, vejo motoristas sempre muito bacanas, dispostos a nos servir e mesmo sabendo que são tratados de forma banal quando não pagos ou recebendo aos trancos e barrancos aos poucos e atrasado. Sempre ouço queixas e pelo que vejo, estamos todos no mesmo barco.

Pois bem, eu tenho ido muito mais cedo do que de costume para o meu destino, chego por volta de 5:30h - 6h da manhã todos os dias e no ponto do Downtown sempre ficam fiscais. Já passaram vários por lá pelo ponto. Eles fazem uma espécie de cabaninha com uma lona, varrem a calçada com uma vassoura de cabo quebrado, mas que varre, então "dá pro gasto" e faça frio, chuva, sol, eles estão ali, na "sala vip", onde eu chego sempre com o cafezinho do pessoal que serve aos trabalhadores na mesma calçada na escada do Downtown principal.

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Sento-me sempre pedindo licença e lá fico conversando com ele, desconcentrando um pouco o pobre do fiscal de sua prancheta e fazendo-o tirar o fone do celular dos ouvidos para a curta prosa até chegar o carro que às vezes demora bastante, por conta de vários percalços e quebras de carros vindos do terminal da Alvorada.

Semana passada tinha uma reunião de 3 fiscais de empresas de ônibus da Baixada Fluminense, que também servem a linhas que passam pela UFRJ. São elas Santo Antônio, Vera Cruz que são de 2 irmãos que fazem a linha "Caxias-Barra" e o fiscal da Cruzeiro do Sul que faz "Nilópolis-Barra" e "São João do Meriti - Barra", que passa pela UFRJ, mas esse entra para onde eu vou, o ponto que ele vai é na frente do meu prédio, o prédio onde trabalho onde fica o Instituto de Química que é o Bloco A do Centro de Tecnologia - CT. O ponto é na calçada do CCMN, que fica também no CT. Ou seja, estavam ali conversando sobre amenidades, quando cheguei e um deles cedeu sua cadeira para mim na "sala VIP", como chamo.

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Estavam lá eles falando sobre os carros que dão problema e eu comentei do assalto que sofremos na sexta retrasada e falando que graças a Deus eu não tinha sido vítima, mas que fomos com o motorista até a 21ª DP em Bonsucesso e relatamos, reconhecemos e depois até vimos que os assaltantes foram flagrados e pegos, inclusive, infelizmente baleados por policiais em um trem da Supervia.

Com isso, do nada, começamos a falar da questão da maioridade penal, sobre o Congresso Nacional, economia, etc...

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O fiscal da Cruzeiro do Sul, que é aluno do Pré Vestibular Comunitário Samora Machel na UFRJ, um jovem negro, bem apessoado, de fala muito bem estruturada, com perfil já universitário me relatou que ouviu falas teóricas de sua professora, muito provavelmente de História ou Geografia, não me lembro ao certo que ele contestava.

Veja, apesar de não concordar com algumas posturas do jovem, eu achei de uma maturidade e de um vocabulário esplêndido e deixei o moço falando.

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A cultura que ele me mostrou foi incrível, as fontes que ele citava, os argumentos, tudo muito bem trabalhados e críticos, muito críticos.
Falei a ele, ao embarcar no carro: "Não desista, menino, você vai longe. Você já tem perfil universitário. Se for isso que você quer, vá em frente". Ele sorriu e disse: "Obrigada, professora, quero sim, quero mesmo".

Saí dali feliz por ver um rapaz cheio de vontade de vencer.

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Eu conheci outros que estavam já na Universidade, um anterior a ele, era estudante de um curso à noite de Educação Física, na própria UFRJ, e conversava demais comigo. Vários reparo que buscam algo mais, querem vencer.

É por essa gente que quer alguma coisa, quer ser alguém, quer vencer que eu luto e busco ensinar. Ou então para professores que querem melhorar suas práticas, pessoas que têm em seus ideais, ideais parecidos com os meus.

É um orgulho ver uma gente que está mais crítica, mais amadurecida, e mais culta, como essa que sento e tomo café na "sala VIP" do ponto do Downtown todo dia.

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