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      Lelê Teles

      Jornalista, publicitário e roteirista

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      Capetalismo

      Com a ascensão de Cunha e seu parlamentarismo branco, o Brasil corre o risco de se tornar a primeira capetocracia do mundo

      Com a ascensão de Cunha e seu parlamentarismo branco, o Brasil corre o risco de se tornar a primeira capetocracia do mundo (Foto: Lelê Teles)

      O capeta - os exemplos nos saltam à vista - tem ajudado muito parasita a ganhar dinheiro.

      Chamo esse novo sistema econômico de capetalismo.

      A Teologia da Prosperidade, contrariando as previsões de Machado de Assis - o Bruxo do Cosme Velho - mostrou que a Igreja do Diabo pode florescer quando encontra terreno fértil.

      Jesus, o Cristo, na parábola do grão de mostarda, talvez vaticinasse, também, esse funesto episódio.

      Explico tudo.

      Tive insônia, levantei-me na madruga, liguei a TV e vi uma mulher com as mãos para trás, os joelhos semi dobrados, a cabeça baixa, emitindo um som gutural.

      Uma voz feia, cavernosa, grossa e artificial.

      Em sua frente, um camarada de gravata de seda, sapato bem lustrado e microfone na mão. Dava ordens a satã para que se curvasse a seus pés.

      "Rasteja, demônio; curve-se diante do senhor; sai desse corpo que ele não te pertence..."

      A atriz, que representava o Coisa Ruim, obedecia, genuflexa.

      A plateia delirava: "Aleluia!", "oh glória..."

      Um teatro tosco.

      Cocei o saco, cocei a cabeça, cofiei os bigodes...

      Pensei, pelas barbas de Bin Laden!

      Quando adolescente fui a muitos shows de Black e Death Metal. Ali se cultuava o capeta, os jovens faziam chifres com os dedos, usavam camisetas com gravuras demoníacas e, mesmo assim, nunca vi ninguém incorporar o Sete Peles.

      Com mil diabos. Por que diabo o diabo iria boicotar shows em sua homenagem e ao mesmo tempo fazer questão de aparecer em cultos evangélicos onde a moçada iria escarnecer de sua figura, humilhá-lo e torturá-lo?

      Não fazia sentido. Não faz sentido.

      Os pilantras usam esse teatro macabro para achacar os fiéis, amedrontados. Tudo é o demônio: seu marido a traiu, é o diabo; seu filho usa drogas, satanás; seu pau não sobe mais, obra do tinhoso; perdeu o emprego, coisa do cão...

      Bota uma grana aqui no bolso do pastor que a gente faz um desencapetamento.

      Aí usam Jesus para dizer que com ele você vai conseguir o que sempre sonhou, esquiar, comprar um carro novo, transar todos os dias.

      Fraude. Jesus nunca deu nada para ninguém, nem ajudou a ganhar. Deu luz a cegos, retificou o gingado de coxos, deu molejo a entrevados... Mas nunca se viu um cabra montado num burro com uma placa no rabo do equídeo: "foi Jesus quem me deu".

      Tá lá nos Evangelhos, quando um playboy se aproximou do Mestre, querendo ficar ainda mais rico, Jesus o ordenou a doar tudo o que tinha aos pobres: óculos escuros, Ferrari de quatro patas, perfume com essência de tâmaras, propriedades, cabritos, tudo.

      Quem oferece presente é o diabo.

      No deserto, Jesus o encontrou. Ele fez o que faz qualquer pastor: "venha para minha congregação e eu te ofereço tudo isso que a sua vista alcança".

      Robert Johnson, certa vez encontrou o belzebu numa encruzilhada, fez um pacto com ele e tornou-se uma lenda do blues, comeu mulheres e ganhou dinheiro. Raul Seixas se auto adotou e encheu o capiroto de elogios, encheu as burras de grana.

      Ozzy Osbourne e outros picaretas ganharam fama e grana em nome do Senhor das Trevas. Tudo isso é capetalismo.

      Com a ascensão de Cunha e seu parlamentarismo branco, o Brasil corre o risco de se tornar a primeira capetocracia do mundo.

      O diabo anda solto, não se pode mais vestir vermelho que se é achincalhado. Se sair todo de branco, leva pedrada na cabeça. Se usar as cores do arco-íris - todas juntas - será torturado.

      O lance agora é todo mundo de terno, com um livro preto debaixo do braço, falando em satanás e contando dinheiro.

      Palavra da salvação.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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