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Marlon Marques

Mestre em História Social Pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Membro do Laboratório de Economia e História (Lehi) e do Núcleo de Estudos sobre Capitalismo, Poder e Lutas Sociais (Necap)

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Capitalismo primeiro, vidas depois

A classe dirigente quer ainda garantir a paz social distribuindo as migalhas que caem dos fartos banquetes. Em Brasília, uma decisão histórica parece ter garantido 600 reais para aqueles que podem e devem morrer. Isso é o máximo que a oitava economia do mundo oferece a seus cidadãos. Alguns revolucionários fajutos comemoram, eu prefiro manter a indignação

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Pelo menos desde 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos instituiu a vida como direito básico fundamental. No planeta terra, 77 % das constituições aderiram a esse principio fundamental. Em tempos de pandemia global, o isolamento social deveria constituir-se também como direito, já que é a única estratégia comprovadamente eficaz, até o momento, para preservação de nossas vidas e a de quem amamos.  

Mas o que temos visto constantemente mundo afora são governos que decidem jogar no abismo milhares de vidas para poupar as engrenagens do capitalismo intactas. Não é verdade que o presidente brasileiro está isolado do resto do mundo, ele apenas externa com mais desfaçatez seu gosto pelo genocídio. No entanto, outros líderes mundiais continuam manobrando a existência humana e escolhendo quem pode e deve morrer. 

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Na China, que segundo especialistas é modelo de sucesso no combate ao COVID-19, o prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, admitiu ter escondido o início da pandemia, deixou sumariamente que sua população fosse infectada. O Comitê Central do Partido Comunista Chinês só tomou a decisão de quarentenar as 14 cidades mais afetadas depois que previu que o desgaste político e econômico seria mais desastroso com as pessoas circulando do que com elas em casa. No Japão, o imperador Naruhito parece ter omitido o surto infecioso e somente agora com o risco eminente da catástrofe chegam as primeiras notícias de quarentena no país. 

As democracias europeias evidenciaram que se preocupam mais com o lucro do que com as vidas. O velho continente com países de economias sólidas construídas por longos anos de pilhagem, roubos e colonização dos povos americanos e africanos, demonstrou que a vida de sua população também pode entrar na conta da acumulação. A Itália empilha corpos pela rua por que resistiu em parar suas atividades produtivas. O mesmo começa a se replicar na Espanha, Alemanha, França, Reino Unido, Suécia e Portugal. 

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Nas Américas o grande rico do continente deu o exemplo para os demais. Donald Trump negou propositalmente a gravidade da situação, disse que os Estados Unidos não foram feitos para ficarem fechados, que era preciso trabalhar e manter a economia intacta. Atualmente, o país é epicentro da pandemia e tem projeção para atingir o número impressionante de 240 mil mortes. Os mercados americanos pareceram um pouco desanimados, mas os índices NYSE, NASDAQ e DOW JONES chegaram a operar com pontuação positiva depois que o governo anunciou o pacote trilionário, não para salvar vidas, mas para socorrer as multinacionais e instituições financeiras. Um alívio, não é?

Em um mundo infectado, com milhares de mortos e doentes, o discurso parece se repetir: é preciso mais do que nunca salvar a economia capitalista. Salvar a economia para garantir que, passado a pandemia, voltaremos ao normal. Os governos mundiais se esforçam para garantir a mais valia do patrão, e só pode fazer isso com nosso retorno aos postos de trabalho. Chefes de estado classificam como supérfula a vida de uma massa de trabalhadores. 

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Mas para cada regra há exceções, nossa classe política também quer salvar vidas, principalmente as de burgueses e as da classe média ilustrada. É deles o direito de permanecer em casa. Eles precisam manter-se aninhados em suas mansões e apartamentos, em suas quarentenas recheadas de lives, cumprindo seu essencial papel de bater palmas para os médicos, enfermeiros, funcionários de hipermercados, farmacêuticos e policiais. 

A classe dirigente quer ainda garantir a paz social distribuindo as migalhas que caem dos fartos banquetes. Em Brasília, uma decisão histórica parece ter garantido 600 reais para aqueles que podem e devem morrer. Isso é o máximo que a oitava economia do mundo oferece a seus cidadãos. Alguns revolucionários fajutos comemoram, eu prefiro manter a indignação. 

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