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Ricardo Kotscho

Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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Caro Juca Kfouri, como é bom poder lembrar do futebol da nossa infância...

"Caro Juca, nunca mais vamos ver jogos como o do Santos de Pelé contra o Botafogo de Garrincha, concordo com você, mas o futebol ainda é minha maior diversão das tardes de domingo, mesmo quando meu time não joga", diz Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia; "Até a vitória! (qualquer uma…)"

Caro Juca Kfouri, como é bom poder lembrar do futebol da nossa infância...
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Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia

Caro Juca Kfouri, meu amigo corintiano,

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vou pedir licença para plagiar tua coluna dominical “Valor mais alto se alevanta”, publicada na Folha.

Me deu uma saudade danada dos campinhos de terra do Alto de Pinheiros, que também não tinha ruas asfaltadas na minha infância.

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Perto da minha rua, tinha uma praça grande, que não lembro o nome, cortada ao meio pela Pedroso de Moraes.

Lá fizemos dois campos, com trave tudo, onde a gente passava o dia jogando bola quando não estava no colégio.

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Estudava perto dali, no Santa Cruz, quando a rua Orobó ainda era de terra, escola que ganhou fama pelos belos times que disputavam o torneio dos colégios “santos”, com o São Luiz e o Santo Américo.

Um dos nossos craques ficaria famoso mais tarde como Chico Buarque. Gostou?

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Estudava é modo de dizer, porque a gente passava a maior parte do dia (o colégio era semi-interno) nos dois campos de futebol.

À vezes até os padres participavam das peladas sem fim, que iam de manhã, antes das aulas, até a noite, depois das aulas.

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Assim como aconteceu com você, nessa época de moleque o futebol era minha grande paixão, jogando ou vendo o São Paulo jogar.

Meu pai, o velho Nick, era engenheiro civil, viajava muito para acompanhar as obras, mas domingo era sagrado, era dia de ver ou ouvir os jogos do grande Triolor, que ainda não era do Morumbi.

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A gente ia muito ao Pacaembu, para mim até hoje o melhor estádio da cidade para ver futebol.

Nunca vou esquecer a “tarde das garrafadas”, na grande final de São Paulo e Corinthians, de 1957.

Eu lembro até hoje a escalação do meu time: Poy; De Sordi e Mauro; Sarará (Dino estava machucado), Vitor e Riberto; Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro.

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O jogo já estava 3 a 1 para o São Paulo, que seria o campeão, quando estourou um baita conflito nas arquibancadas, garrafas de cerveja voando para todo lado, e eu me perdi do meu pai, que tinha entrado no meio da briga.

Tinha só nove anos, fiquei sozinho no meio daquela guerra, desesperado procurando o pai.

Quando nos reencontramos, o São Paulo já estava dando a volta olímpica, e nesse dia até tomei uma cerveja com ele para comemorar.

Pai, futebol e cerveja nunca mais se separariam na minha infância, até a morte dele, ainda muito jovem.

Acho o futebol, como aconteceu com você também, uma das mais fortes relações entre pais e filhos.

Pena que não deu tempo de ele ver a inauguração do Morumbi, em 1960, ainda inacabado, só com metade da arquibancada.

Acompanhamos aquela obra desde o início. Aos sábados, geralmente o São Paulo já treinava lá neste campo plntado no meio o deserto do Morumbi.

Era uma festa: eu conversava com os jogadores, ganhava camisas autografadas, meu pai dava palpites na obra e, depois, a gente levava de carona alguns deles até o hotel onde estavam concentrados.

Anos depois, encontrei Poy, um fantástico goleiro argentino que depois virou técnico, num campo que não lembro onde era, acho que no Canindé, onde ele fazia “peneiras” para selecionar os futuros craques.

Meu grande sonho sempre foi ser jogador de futebol. Um dia criei coragem e me inscrevi nesta “peneira”.

Quinze minutos depois, acabou meu sonho. Poy era amigo de meu pai, me chamou de lado, e foi muito sincero. “Não vai dar… Você tem que fazer outra coisa na vida. Pra jogador, não dá…”.

Costumo dizer que quem não dá certo em nada na vida, acaba sendo jornalista. Aí virei repórter da Gazeta de Santo Amaro, pouco tempo depois, e estou nessa vida até hoje, mas meu amor pelo futebol sobreviveu até às piores fases do São Paulo,, que não foram poucas.

Não posso me queixar da escolha que fiz levado por meu pai. Ele acabou não vendo o São Paulo ser tricampeão brasileiro com Muricy, tricampeão da Libertadores e tricampeão mundial com Tele Santana, os grandes técnicos que passaram pelo São Paulo, ao lado de Bela Gutmann, o húngaro que levou o time de Zizinho ao título, em 1957.

Chega de escrever, porque até hoje estas histórias nostálgicas me emocionam e dão muita saudade do pai, e daqui a pouco tem jogo do Tricolor.

Te convido a assistir São Paulo e Flamengo esta tarde, no Morumbi ou pela TV, que promete ser um dos grandes jogos do ano. Já botei minha camisa.

Caro Juca, nunca mais vamos ver jogos como o do Santos de Pelé contra o Botafogo de Garrincha, concordo com você, mas o futebol ainda é minha maior diversão das tardes de domingo, mesmo quando meu time não joga.

Até a vitória! (qualquer uma…)

Vida que segue.

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