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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Caro prefeito

"Queremos antes de tudo ver você, caro prefeito, e sua turma pelas costas. Depois vamos olhar para a vista liberada e ver o que podemos fazer. Mas aí são outros quinhentos, ou trezentos, ou cem, não importa, o futuro pode até custar caro, mas quero poder decidir sobre ele. Já vai tarde", escreve o carioca Miguel Paiva em recado ao prefeito Marcelo Crivella

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

Minha cidade continua no caos total. Com a pandemia, então, não só está totalmente abandonada como sem controle algum para que os efeitos do vírus não se agravem. Foram poucos dias de real confinamento. Sempre vi pessoas nas ruas, transportes circulando e nenhum apoio oficial para o combate.  

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O resultado de tanta aglomeração, tanto descaso, tanto negacionismo e tanta burrice se vê agora. Não é só a segunda onda. É a continuação da primeira com a maré subindo e indo mais longe na praia. Mas a praia, se o tempo ajudar, vai continuar cheia. Cheia de cocô de cachorro também, cheia de gente jogando raquete, altinho e lixo na areia sem nenhuma fiscalização das regras básicas do uso comum do bem coletivo.  

Não quero falar dos assaltos e arrastões porque isso não é só responsabilidade da prefeitura. No calçadão o desrespeito continua. Pessoas de bicicleta, de skate, de motocicleta, qualquer veículo que se mova não parando nos sinais, em alta velocidade e desrespeitando também ali a convivência coletiva. Fiscalização nenhuma. Tudo bem.   

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Mas uma cidade não é feita só disso. Concordo. Só que o resto está ainda pior. Falava disso porque o Rio tem a característica de ser uma cidade turística. É daí que vem a grana que enche os cofres e os bolsos da prefeitura e do estado e gera empregos. Mas a população mesmo, os trabalhadores, os prestadores de serviços, os aposentados, as crianças, os jovens, eles não veem nenhum centavo desse dinheiro.

Nasci no Rio, moro aqui há muitos anos e a última vez que vi a cidade assim tão abandonada foi nos anos de 1980.  Hoje me espanta a capacidade do carioca conseguir sobreviver mesmo abandonado ao destino. Era para ser um caos ainda maior. O transporte público é da pior qualidade favorecendo as linhas mais “nobres”, digamos assim, que param mais nos pontos. As linhas que trazem os trabalhadores do subúrbio são as piores. Demoram, não tem condições de segurança, nem de conforto. Com a Covid a possibilidade de contaminação caminha mais rápido que o veículo em questão.  

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E o transporte péssimo leva o trabalhador da casa em piores condições ainda em que mora, em bairros que vivem no abandono entregues à violência do tráfico, da milícia e da polícia até o trabalho quase escravo. É o que se chama de sobreviver nessa época de cada um por si e deus nenhum por todos. Quem trabalha em projetos sociais de inclusão sabe bem a dificuldade que encontra. Espero que os novos vereadores, que não são da sua simpatia, possam melhorar esse quadro.

O centro da cidade está às moscas retratando esse clima de desleixo e desprezo pela memória e pelo progresso social. Em São Paulo, Guilherme Boulos defende justamente a ocupação desses imóveis abandonados pela população sem teto. Aqui eles formam um cenário tétrico e sombrio de uma cidade que esqueceu seu passado e não está nem aí para o futuro. A especulação, que ocupou os imóveis anteriormente, agora não faz nada e a população que sobrevivia com o trabalho no centro, assiste ao Rio se acabando.  

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O carnaval, o réveillon e outros feriados que costumam levantar a moral e o caixa da cidade esse ano correm o sério risco de darem prejuízo. Regiões inteiras vão entregando os pontos à sorte, talvez a um deus, aquele mesmo que foi festejado quando você ganhou e reuniu toda a burguesia bem pensante da cidade num apartamento da Vieira Souto para festejar a vitória. Foram bebidas, salgadinhos abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim, mas não vimos nada disso se concretizar.  

Minha rua vira um rio quando chove, mas um rio de lama e de podridão que vem arrastando os detritos de uma população totalmente desprezada. Nem os ricos que festejaram estão felizes. Foi um desastre anunciado não só aqui, mas em boa parte do país. Espero que essa onda de conservadorismo (que ironia esse termo. Nem conservar eles sabem) desapareça com a eleição municipal que se aproxima.  

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Queremos antes de tudo ver você, caro prefeito, e sua turma pelas costas. Depois vamos olhar para a vista liberada e ver o que podemos fazer. Mas aí são outros quinhentos, ou trezentos, ou cem, não importa, o futuro pode até custar caro, mas quero poder decidir sobre ele. Já vai tarde.  

Com desprezo,

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Um cidadão.

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