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Cynara Menezes

Baiana de Ipiaú, formou-se em jornalismo pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e já percorreu as redações de vários veículos de imprensa, como Jornal da Bahia, Jornal de Brasília, Folha de S.Paulo, Estadão, revistas IstoÉ/Senhor, Veja, Vip, Carta Capital e Caros Amigos. Editora do site Socialista Morena. Autora dos livros Zen Socialismo, O Que É Ser Arquiteto e O Que É Ser Geógrafo

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“Carreaters” comprovam: a elite brasileira não é solidária nem no coronavírus

"Por que os ricos do país jamais estão dispostos a fazer sacrifícios, mas exige que os pobres façam?", questiona a jornalista Cynara Menezes, que acrescenta: "É uma manifestação de patrões, de empresários com um profundo desamor pelo povo"

(Foto: Reprodução/Twitter)
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Por Cynara Menezes, para o Jornalistas pela Democracia - Não há nada que escancare melhor o egoísmo da elite brasileira do que as carreatas de bolsonaristas que estão surgindo país afora para pedir o fim do isolamento imposto pelo coronavírus, a despeito das orientações da Organização Mundial de Saúde. É uma manifestação de patrões, de empresários com um profundo desamor pelo povo, que não se importam a mínima com as mortes que esta pregação insana pode causar, contanto que seu lucro esteja garantido.

Sentados no conforto de seus carrões importados, com o ar condicionado a toda, gente branca e rica conclama o trabalhador para que retorne à labuta, espremidos nos vagões e ônibus do transporte público, enquanto eles mesmos não saem de dentro dos carros. A orientação dos organizadores é justamente essa: não saiam dos veículos. Ué, mas não é só uma “gripezinha”? Deveriam fazer, em vez de carreatas, passeatas. Mas cadê coragem?

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Os “carreaters” dizem que “querem trabalhar”. Mas eles trabalham? Essa gente incapaz de liberar a empregada para que fique em casa porque não consegue limpar a própria privada, lavar a própria louça, fazer a própria comida ou cuidar do próprio filho, quer mesmo “voltar a trabalhar”? Ou será que eles querem que VOCÊ volte ao trabalho?

Em Curitiba, na última sexta-feira, tiveram a desfaçatez de declarar coisas como: “Eu preciso trabalhar. Ou morro de fome ou morro pelo vírus!” Deviam pelo menos usar palavras de ordem mais sinceras em vez de fingir estarem preocupados com o Brasil: “volte ao trabalho, quero garantir minha viagem a Miami este ano”; “lugar de escravo não é na quarentena, é no tronco”; “a escolha é sua: coronavírus ou demissão por justa causa”; “fim da quarentena já! Quem vai lavar minha BMW de meio milhão?”

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Flávio Costa@flaviocostafCarreata em Curitiba. Prestem atenção nos carros do povo trabalhador que exige voltar ao trabalho.
74,5 mil13:34 - 27 de mar de 2020Informações e privacidade no Twitter Ads

26,9 mil pessoas estão falando sobre isso

A pandemia do coronavírus nos traz muitas perguntas sobre a sociedade em que vivemos. As palavras do papa Francisco, diante de uma praça de São Pedro historicamente vazia, ressoam em minha mente: “Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”.

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A elite brasileira parece surda aos apelos do papa e segue em sua avidez descontrolada por lucro. Por que os ricos jamais estão dispostos a dar sua cota de sacrifício em nome da sociedade? Por que, ao contrário, exigem que sejam sempre os pobres a se sacrificarem? O que custa para um empresário destes segurar a onda durante dois meses, até passar a pandemia? Por que prefere cobrar a fatura do trabalhador? Egoísmo, falta de empatia, usura.

Os “carreaters” dizem que “querem trabalhar”. Mas essa gente incapaz de liberar a empregada porque não consegue limpar a própria privada, fazer a própria comida ou cuidar do próprio filho, quer mesmo “voltar a trabalhar”? Ou quer que VOCÊ volte?

Vemos por aí empresários, sem o menor pudor, publicando vídeos nas redes sociais onde defendem a morte de “uns 7 mil” como algo banal, para não “quebrar a economia”. É como se estivessem oferecendo o corpo de inocentes imolados para saciar a fome do deus mercado que tanto idolatram. Não sentem vergonha de nunca, nem uma só vez, pensar no próximo? E ainda se dizem “cristãos”?

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Parafraseando a famosa sentença que Nelson Rodrigues, de galhofa, atribuía a Otto Lara Resende (“o mineiro só é solidário no câncer”), podemos dizer, sem medo de errar: a elite brasileira não é solidária nem no coronavírus.

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