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Carlos Odas

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Carta aberta ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha

Eis o que sugiro: entregue-os. A todos. Entregue-os. Publicamente. O senhor tem meios e notoriedade suficientes para isso. Não confie nos jornalões, esses que o incensaram aos píncaros e o lançaram de lá depois do impeachment. Não confie em delações

Bras�lia - O plen�rio da C�mara dos Deputados aprovou por 450 a favor, 10 contra e 9 absten��es a cassa��o do mandato do deputado afastado Eduardo Cunha (Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag�ncia Brasil) (Foto: Carlos Odas)
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Senhor Eduardo Cunha,

Antes de tudo o mais, considerando-me um cidadão que cultiva ideias que se situam, no espectro político, à esquerda daquelas às quais o senhor se afilia, devo advertir que esta pretensa carta não se trata, de forma alguma, de um tripudio sobre o revés com que seus pares o (des)prestigiaram na noite de ontem, cassando-lhe o mandato por uma margem acachapante de votos. À sua imagem pública, o senhor há de convir, não há mais nada de negativo que eu pudesse agregar. Isto posto, o que me moveu, em princípio, a escrever esse texto, foi o discurso com o qual o senhor tentou, sem sucesso, evitar que o plenário da Câmara lhe impingisse a, até bem pouco tempo, inimaginável derrota.

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O senhor afirma que a cassação de seu mandato terá sido uma "vingança do PT" por ter desempenhado – como de fato o fez – papel principal no impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Garante que, sem sua intervenção, o processo nem existiria – no que concordamos plenamente. Em termos quantitativos, porém, essa sua conta não fecha e, numa análise mais minuciosa do discurso, a ideia não se sustenta. Vejamos: 450 deputados votaram contra o senhor; 10 votaram com o senhor (entre eles, Paulinho da Força e o Pastor Marco Feliciano); 9 dos presentes se abstiveram. Naquela sessão de 17 abril, presidida pelo senhor e cujas cenas correram o mundo, 142 deputados votaram contra o impeachment; ou seja, pela sua tese, pelo menos 225 deputados que o ajudaram a cassar o mandato de Dilma Rousseff decidiram vingar-se do senhor por ter iniciado aquele processo. Faz sentido? Não.

A única conclusão que nos resta é a de que o senhor foi miseravelmente abandonado. Usado e chutado como papel de bala – para ficar numa metáfora branda, e evitar assim as que têm sido usadas nas redes sociais para ilustrar a sua situação, bem mais, digamos, escatológicas. E quem o chutou, Eduardo (permita-me referir-me assim a Vossa Senhoria)? Ao PT não caberia fazê-lo, já que há bem uns dois anos que o senhor e o partido chutam-se mutuamente. Ou não é um fato que o pedido aceito do processo de impeachment teria sido arquivado se a bancada petista tivesse lhe entregado os três votos que tinha na Comissão de Ética da Câmara? Ora, se tivesse força suficiente para lhe aplicar um placar de 450 votos, o PT não teria evitado a deposição de Dilma Rousseff? Quem o abandonou, Eduardo Cunha, foram os seus: aqueles que só estão na Câmara Federal porque foram financiados por recursos amealhados sob sua influência. Quantos são? Falam em 250, mas só o senhor deve saber exatamente quantos e quais são. Esses o abandonaram.

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Sob o aspecto qualitativo, a ideia central de seu discurso também não se sustenta. Sua cassação favorece a tese de que houve um golpe de estado? Por quê? Porque seu ato, ao aceitar o pedido de impeachment, terá caracterizado um claro desvio de poder, por ter sido resultado de uma chantagem rechaçada pela bancada governista da época? Não se preocupe com isso. José Eduardo Cardozo demonstrou cabalmente essa tese e ela, junto com a defesa da Presidenta, foi solenemente ignorada por senadores e pelo próprio Presidente do Supremo Tribunal Federal. A ponto de senadores declararem que Dilma, de fato, não cometeu crime algum, mas que não viam "condições políticas" de ela reassumir o cargo que o povo lhe confiou. A História contará que foi golpe, porque foi. Mas havemos de concordar que um golpe de estado não se dá pela vontade de um único agente, no caso o senhor, sem que, necessariamente, um conjunto muito mais amplo de instituições abram mão de suas responsabilidades. O golpe não é de Eduardo Cunha. Sem sua participação, em momento e lugar cruciais, ele não teria sido da forma como aconteceu; mas sem a militância diuturna de veículos de mídia, sem o ativismo político de técnicos do TCU e procuradores do Ministério Público, sem a participação do Procurador Geral da República, e sem a omissão do STF, ele não teria prosperado. Ao contrário, portanto, do que diz Vossa Senhoria, sua cassação pode servir para "limpar a cena" de um crime perpetrado contra os votos de 54 milhões de brasileiros, e que desencadeará outros crimes, esses contra a soberania nacional, contra os direitos humanos, contra a cultura, contra os mais pobres.

É relevante que o lembremos disso porque o senhor não é qualquer um; o senhor chegou onde ninguém com uma imagem pública tão desgastada ousaria chegar. E serviu a um projeto de poder do qual, creio, pensava-se sócio. Já leu os jornais de hoje? Fez uma busca no Google com referência no seu nome? O senhor é, hoje, o mal encarnado, Eduardo, nos mesmos meios que o incensavam há poucos meses. Movimentos ditos da sociedade civil que não coravam ao sair em fotos com Eduardo Cunha, hoje caçam e apagam as referidas fotos de suas redes. Os que deram o golpe venderão à nação que a política está sendo saneada porque o senhor teve cassado o mandato e os seus direitos políticos. Os 250 (ou quantos?), que o senhor levou à Câmara, exporão o voto pela sua cassação às suas bases eleitorais como uma espécie de distintivo.

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Então, diga-nos, por favor: o senhor é mesmo tudo isso? É o "achacador-geral da República", a chaga da qual a nossa política deveria se livrar? Ou é parte de um modelo e de um sistema que contempla a tantos outros? Tudo o que lhe atribuem é apenas problema seu? Ou teve em sua trajetória, digamos, parceiros que mereceriam tanto quanto o senhor o opróbio a que está sendo submetido? Há, de fato, quem "só tenha chegado aonde chegou" por sua influência ou atuação direta, Eduardo Cunha? E esses, onde estão agora? Amargam, também, a depreciação pública e são objeto de repulsa de cidadãos que se consideram honestos, ou frequentam palácios e exercem, impune e tranquilamente, o poder que só detém por sua influência ou atuação direta?

Após ler os jornais, revisite a História. Procure enquadrar-se no papel de agentes que cumpriram exatamente o mesmo papel que o senhor nesse momento histórico. Que nicho eles frequentam? O dos heróis ou o dos infames? E analisando essa perspectiva, responda: pretende mesmo ir sem parceiros para essa vala da História?

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Eis o que sugiro: entregue-os. A todos. Entregue-os. Publicamente. O senhor tem meios e notoriedade suficientes para isso. Não confie nos jornalões, esses que o incensaram aos píncaros e o lançaram de lá depois do impeachment. Não confie em delações ao Ministério Público no âmbito da Lava Jato, pois já ficou demonstrado que ali só interessam as que corroborem um roteiro narrativo já determinado. Entregue-os nas redes, convoque coletivas com transmissão ao vivo e diga ao Brasil: quem foram os parceiros de Eduardo Cunha que o abandonaram na estrada?

Não venda por nada o seu silêncio.

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Entregue-os, Eduardo. Entregue-os todos.

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