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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cartas contra um tempo tóxico

Duas mulheres criadoras. Dois países em deriva de extrema-direita. Uma correspondência audiovisual grávida de transformações. Assim é o documentário "Vai e Vem"

(Foto: Reprodução/Youtube)
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O Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba deu a largada ontem (1/6) com um filme profundamente feminino/feminista. A partir de uma proposta de Fernanda Pessoa (Histórias que Nosso Cinema [Não] Contava, Zona Árida), ela e sua amiga brasileira-mexicana Chica Barbosa trocaram uma série de videocartas em 2020, em meio à pandemia e às conturbações políticas. Fernanda em São Paulo, Chica em Los Angeles, para onde havia se mudado recentemente. Dois países afetados pelos horrores da extrema-direita no presente e pela tradição machista e conservadora desde sempre.

Vai e Vem foi composto a partir dessa correspondência, em que Fernanda e Chica intercambiavam impressões sobre o momento e sobre sua condição de mulheres casadas com homens e cercadas pela masculinidade tóxica predominante na política. Nas videocartas, elas compartilhavam manifestações de rua, viagens, trabalhos, relações com parentes e amigas/os. Filmando seu entorno e seus corpos, procuravam reduzir a distância que as separava e criar uma espécie de sororidade audiovisual. "Sozinho, ninguém pode se salvar".

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Elas dividiam, sobretudo, o ato da criação, tomando como modelo o trabalho de 16 diretoras experimentais latino-americanas, entre as quais Paula Gaitán, Barbara Hammer, Carolee Schneeman, Yvonne Hainer e Marjorie Keller. A opção pelo experimentalismo dissimula. de certa forma, a heterogeneidade dos registros e a ausência de um planejamento mais consistente de intercâmbio. O que temos, então, é um jorro de impressões do feminino, onde não faltam imagens belíssimas e uma forte produção de subjetividade. 

Aqui e ali, as diretoras abrem a câmera para outras mulheres. A sogra de Fernanda, por exemplo, cabeça progressista às voltas com a realidade direitista do Paraná. Ou as amigas mexicana-americanas de Chica, uma criada para ser "branca" e votar nos Republicanos e outra otimista por se estabelecer como trans em meio ao trumpismo. Ou ainda a menção à mãe de Chica, cujas opiniões conservadoras abalam sua imagem perante a filha. As eleições municipais de São Paulo e a campanha presidencial estadunidense de 2020 atravessam os relatos, alimentando esperanças e provocando decepções.   

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Na maior parte do tempo, contudo, são Fernanda e Chica que fazem sua "dança" virtual ou "diálogo fílmico" entre as duas cidades. A tela pulsa com texturas, cromatismos, sobreposições, espelhamentos, recortes, interferências verbais e sonoras. Contra a lógica viril do documentário tradicional, Chica e Fernanda nos oferecem uma conversa movida pela inquietação e grávida de transformações.  

Quem quiser ver as duas juntas fisicamente pode assistir a esta live do canal 3 em Cena, em que foram entrevistadas por Piero Sbragia e Kamilla Medeiros.

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O trailer:

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