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Marcelo Auler

Marcelo Auler, 68 anos, é repórter desde janeiro de 1974 tendo atuado, no Rio, São Paulo e Brasília, em quase todos os principais jornais do país, assim como revistas e na imprensa alternativa.

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Casa da Moeda parada. O estopim foi aceso

"A luta imediata é pelas vantagens trabalhistas que a diretoria do governo Bolsonaro quer retirar. Mas ela pode acabar demonstrando força suficiente para ir além. Por exemplo, impedir ou, ao menos, dificultar o plano de privatização de uma estatal com mais de 300 anos de existência", diz Marcelo Auler, do Jornalistas pela Democracia

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Por Marcelo Auler em seu blog e para o Jornalistas pela Democracia - Tal como previmos no sábado (11/01) em GloboNews paralisou a Casa da Moeda a movimentação dos dois mil empregados da Casa da Moeda do Brasil em solidariedade a um colega que foi forçado por seguranças da estatal a ir à sala dos diretores, foi o estopim para que viesse à tona todo o descontentamento acumulado com a nova administração, empossada há seis meses.

Nesta segunda-feira, nenhum trabalhador entrou na linha de produção desde às 08h00, quando os quase 50 ônibus que os transportam dos bairros em que residem chegaram à sede da empresa, localizada no longínquo bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, bairro limítrofe como município de Itaguaí.

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Já ao ingressarem na fábrica e atravessarem as catracas, cantavam em uníssono: “Sou moedeiro, com muito orgulho, com muito amor”, como demonstra o vídeo abaixo que o Blog recebeu lá de dentro da estatal.

Após registrarem oficialmente o ingresso na casa, eles não se dirigiram aos locais de trabalho. Foram para o pátio externo, junto às grades que cerca o terreno, de forma a ouvirem relatos, por parte dos diretores do Sindicato Nacional dos Moedeiros, de como andam as negociações do Acordo Coletivo de Trabalho.

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Na realidade, a empresa não está querendo levar adiante a negociação deste acordo que venceu oficialmente dia 1 de janeiro. Com isso, já anunciou o corte de benefícios e vantagens que os moedeiros há anos recebem, como um menor desconto no custo do transporte e até mesmo no Plano de Saúde, que se estende aos seus familiares.

Porém, como reportamos na postagem de sábado, dia 11, foi a punição ao “servidor mais debochado”, promovida pelo diretor de Gestão da empresa, Fábio Rito Barbosa, que acendeu o estopim da insatisfação. Barbosa, demonstrando total despreparo – ou, certamente, querendo ficar bem com seus superiores no governo bolsonarista – deu entrevista ao vivo, “no chão da fábrica” – usando os dizeres de uma das trabalhadoras de lá – falando da necessidade de reduzir pessoal para cortar despesas.

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Todos consideraram a entrevista ao Jornal GloboNews – Edição das 10h, um desrespeito à categoria moedeira. Foi isso que levou o “servidor mais debochado”, na hora do almoço, puxar uma salva de palmas quando Barbosa entrou no refeitório. Foi acompanhado pela unanimidade dos empregados presentes o que desagradou o diretor de gestão.

Sentindo-se humilhado, Barbosa determinou a condução do empregado mais debochado à sala dos diretores da estatal. Ele foi levado forçado. Espontaneamente, porém, todos os demais empregados se reuniram no saguão de entrada do prédio da administração de braços cruzados, aguardando o colega. Foi o estopim do movimento. Como deixa claro o diretor do sindicato nesta fala dele hoje de manhã, não foi o contracheque que deflagrou o movimento, mas a desastrada atuação do diretor de gestão.

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Diante do impasse criado a diretoria que vinha demonstrando prepotência e impedindo os diretores sindicais de ingressarem na fábrica, na sexta-feira foi obrigada a recuar e convocá-los, para tentar resolver o problema. Apesar de terem gasto mais de quatro horas de conversas, não houve acordo. Agora, porém, são dois lados irredutíveis na queda de braço. Os novos diretores que se recusam a negociar e os trabalhadores, unidos, que brigam pelos seus direitos.

Demonstrando a força do movimento, os trabalhadores, depois de ouvirem as explicações dos diretores do sindicato, voltaram a ocupar o prédio da administração, em nova decisão espontânea dos mesmos, já que os sindicalistas nada indicaram neste sentido. De certa forma foram atropelados, embora possam até concordar com a manifestação.

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Unidos, ingressaram no prédio da administração e ao lado do grito de guerra de que “a Casa da Moeda é patrimônio do Brasil”, incorporaram uma nova palavra de ordem. Querem a demissão de Fabio Rito Barbosa, o desastrado diretor de Gestão, como seu ouve no áudio abaixo.

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Ilegalidade nas nomeações?

O pedido de demissão de Fábio Rito não é aleatório, embora possa ter sido impulsionado pelos acontecimentos de sexta-feira. Na verdade, sua indicação para o cargo que ocupa, segundo o antigo Comitê de Elegibilidade da estatal, não poderia ser efetivada por ele não preencher todos os requisitos previsto na Lei 13.303/2016, que dispõe sobre o estatuto jurídico das empresas públicas. O mesmo aconteceu com Saudir Luiz Filimberti, indicado para a diretoria de Inovação com o Mercado. A ata da reunião em que o nome de Fábio Rito foi recusado está abaixo.

Comitê de Elegibilidade recusou nomeação de Fábio Rito Barbosa 

Para viabilizar as duas nomeações, o novo presidente nesta gestão bolsonarista, Eduardo Zimmer Sampaio, destituiu o antigo Comitê de Elegibilidade compondo o atual com seus assessores diretos. Foram eles que alegaram ter recebido nova documentação que comprovaria que ambos candidatos preenchem os requisitos legais. Mas são documentos que até hoje não foram tornados públicos.

O jurídico da entidade sindical dos trabalhadores, usando a Lei de Acesso à informação requisitou que tais documentos lhes fosse apresentado. O prazo para que isso ocorresse venceu no dia 31 de dezembro sem que a diretoria da Casa da Moeda o cumprisse. Pediram um novo prazo que vence justamente nesta terça-feira (13/01) segundo explicou ao Blog Aluizío Júnior, presidente do Sindicato nacional do Moedeiros, há seis anos, além de outros três como vice-presidente. Ele tem 18 anos de serviços prestados à Casa da Moeda.

O impasse continuava até às 12h30 desta segunda quando editamos esta postagem. Não houve sinal de negociação, até porque o presidente da Casa da Moeda, Zimmer Sampaio e o diretor de Gestão, Fábio Rito, não se encontravam na fábrica. O único que estava presente era o Coronel do Exército reformado, Cláudio Tavares Casali, nomeado pelo governo Bolsonaro como diretor de Operações, mas sem força na diretoria para negociar com os trabalhadores.

Trabalhadores refutam a tese da diretoria de que houve aumento de custo com pessoal. Na realidade, esta despesa cresceu percentualmente no orçamento da estatal por ter caído a receita, quando houve perda de monopólio. Para os empregados, não há que se falar em redução do quadro, mas sim de redução de custos – como, por exemplo, o aluguel de carros blindados para a diretoria – e busca de novas receitas. O que dizem que essa diretoria não tem demonstrado ser capaz de fazer.

Sem perspectiva de alguma conversa, diretores do sindicato estavam na sede da entidade dos trabalhadores. Na fábrica toda a movimentação de não iniciar a jornada de trabalho foi espontânea, decidida pelos próprios empregados. Ou seja, por conta da malsucedida entrevista de Fabio Rito o estopim da insatisfação foi aceso. A luta imediata é pelas vantagens trabalhistas que a diretoria do governo Bolsonaro quer retirar. Mas ela pode acabar demonstrando força suficiente para ir além. Por exemplo, impedir ou, ao menos, dificultar o plano de privatização de uma estatal com mais de 300 anos de existência.

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