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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Precisamos de naturalidade, não de naturalização

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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Estranho que o meu primeiro artigo para o site 247 remodelado seja uma viagem ao passado. Mas hoje, por algum motivo, acordei com esses versos na cabeça, e achei oportuno dividi-los neste espaço. São muito atuais. E neste Brasil áspero, cínico, “naturalizante”, (eu sei. A palavra não existe, mas vou usá-la mesmo assim), achei que a poesia de Castro Alves, escrita em 1868, faz todo o sentido.  

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Precisamos de arte, de respirar entre uma escaramuça e outra. Nossas almas estão doentes de tantas imprecisões, dúvidas, indagações e, acima de tudo, injustiças, preconceitos, raiva e covardia. Onde está quem pode falar por nós? (Preso). Onde está a saída, se a “Carta” não basta, e se as leis jazem dobradas sob pilhas de processos obscuros, falhos? Escrevemos incessantemente. Bradamos, analisamos, discutimos, e o país se esvai... “Naturalmente” se esvai.  

“Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!”

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- “O Navio Negreiro”, eu pedia.

E não sabia ainda direito porque pedia, pois era muito pequena, sentada no colo da minha avó. Ela nasceu em 1906. Na juventude era requisitada para declamar em saraus de poesia, hoje eu sei, pelo sentimento que empregava ao que dizia.  

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Com voz clara, como se falasse para alguma plateia, ela atendia ao meu apelo e recitava Castro Alves com tamanha vivacidade que eu me sentia parte daquele navio. Podia ouvir o gemido dos negros. E entre aterrorizada e encantada, acompanhava o ritmo das palavras até o final, em que ela subia o tom de voz e terminava, olhos úmidos, (eu também, talvez levada pela emoção dela), bradando um grito que hoje eu repito com a mesma emoção que a escutava naquelas noites de alto verão, na cozinha da sua casa:  

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“Mas é infâmia demais! ...” [...] “Levantai-vos, heróis do Novo Mundo [...] Colombo! Fecha a porta dos teus mares!”

Precisamos do nosso cotidiano de volta. Precisamos de um pouco de naturalidade, e não de “naturalização”. Não é natural o que está acontecendo, não pode ser. Estamos carentes de nós mesmos e do que somos. E não somos isto.

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“ ‘Stamos em pleno mar... Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas”

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