CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Ribamar Fonseca avatar

Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

577 artigos

blog

Chacina reflete a ideologia do ódio

É fundamental que o doloroso episódio que enlutou Campinas e comoveu o país sirva de reflexão para todos os que têm contribuído, de alguma forma, para a disseminação dessa ideologia do ódio, seja através da mídia, das redes sociais ou em manifestações de rua

Autor da Chacina em Campinas, Sidnei Ramis de Araújo, com o filho (Foto: Ribamar Fonseca)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Mais cedo ou mais tarde aconteceria no Brasil uma chacina como a de Campinas, onde o técnico de laboratório Sidnei Ramos de Araujo matou a ex-mulher, o filho e mais dez pessoas da mesma família que participavam de uma festa de fim de ano. A chacina, consequência da "ideologia do ódio"- conforme definição da deputada Maria do Rosário – disseminada pela mídia e redes sociais, já vinha se desenhando desde as hostilidades a parlamentares e outros homens públicos. A carta deixada pelo assassino, divulgada pelos jornais, não deixa dúvidas quanto ao seu ódio aos políticos, sentimento doentio estimulado pelos fascistas e potencializado pelos ressentimentos contra a ex-esposa por ter procurado proteção na Lei Maria da Penha, que ele chama de "vadia da Penha". Ele não poupou do seu ódio nem o ministro Ricardo Lewandowski, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, por ter aprovado a manutenção dos direitos políticos de Dilma por ocasião da cassação do seu mandato pelo Senado. A sua visão, revelada na missiva, é a mesma de quantos combatem o petismo.

A intolerância, resultante do preconceito e da discriminação, está evidente na carta do autor da chacina, que revela todo o seu ódio contra as mulheres, o que levou a ex-Presidenta Dilma a dizer no twitter que "a misoginia mata todos os dias". Disse ainda que "é intolerável que o machismo encontre eco no pensamento conservador e justifique o feminicídio", acrescentando que "o momento é de fortalecer a política de direitos humanos para defender as mulheres da cultura do ódio e da violência pelo fato de serem mulheres". Em maio de 2016 está coluna já advertia que "a intolerância e o ódio, disseminados no país, estão ficando cada dia mais perigosos". E acrescentou: "Se nada for feito ninguém se espante se em breve alguém for linchado fisicamente pelos intolerantes". Não houve linchamento, mas houve uma chacina, que precisa ser analisada e refletida de modo a se tentar encontrar uma fórmula pacifista capaz de impedir a sua repetição, já que existem muitas outras mentes doentes sintonizadas, através do ódio, com o assassino de Campinas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Na verdade, infelizmente ele não está só em sua loucura, conforme é possível constatar-se nas mensagens de solidariedade que lhe foram dirigidas, postadas nas redes sociais por outros doentes, fascistas contaminados pelo ódio. A Internet, que é uma das grandes invenções do homem e cujo uso para o bem tem proporcionado extraordinários avanços em todas as áreas, lamentavelmente foi transformada por internautas insanos num esgoto virtual, onde lançam dejetos escritos e verbais compartilhados e repassados por verdadeiros rola-bostas que, descerebrados, se deixam influenciar, sem questionar, por tudo o que é postado nas redes sociais. Muita gente desequilibrada as utiliza para espalhar mentiras, despejar ódios, ressentimentos e frustrações, influenciando outras mentes enfermas que podem, a qualquer momento, entrar em crise e produzir tragédias como a registrada no interior de São Paulo. A quem responsabilizar por essa violência?

O deputado Carlos Zarattini, líder da bancada do PT na Câmara Federal, distribuiu nota lamentando a tragédia e identificando os responsáveis por esse tipo de violência, quando diz que "o discurso de ódio disseminado por adeptos do pensamento fascista, associado à extrema direita, possui porta-vozes em todos os setores da sociedade: no Parlamento, em alguns fanáticos religiosos, nos meios de comunicação e em outras instituições". E acrescentou, enfatizando que "os representantes desse tipo de pensamento também são responsáveis, portanto, pelos atos violentos que diariamente ceifam vidas e causam traumas a milhares de pessoas". Com efeito, após a campanha sistemática que criminalizou políticos, em especial petistas, responsabilizando-os pelos males do país, muita gente passou a ser hostilizada publicamente, como ex-ministros e parlamentares. Em sua carta, o autor da chacina de Campinas revela o seu ódio aos políticos ao dizer que "muitas pessoas pobres morrem no chão de hospitais para manter políticos na riqueza e no poder!"

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O técnico de laboratório também tinha ódio de quem defendia os direitos humanos, conforme se observa em sua carta, quando pergunta: "Cadê os ordinários dos direitos humanos?" A deputada e ex-ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário, a propósito, disse no twitter que "quando idiotas repetem ataques contra Direitos Humanos, criam monstros como esse assassino de Campinas". Na verdade, criou-se no imaginário popular, mediante notícias condenando a atuação de advogados em favor de tratamento mais humano aos presos, que os Direitos Humanos só servem para defender bandidos. E, infelizmente, muita gente acredita nisso, uma distorção que mexe com a cabeça de quem não conhece a Declaração Universal dos Direitos Humanos e não sabe que tais direitos foram criados em benefício de todos os seres humanos, independente de cor, sexo, religião, posição social ou nacionalidade.

É fundamental, portanto, que o doloroso episódio, que enlutou Campinas e comoveu o país, sirva de reflexão para todos os que têm contribuído, de alguma forma, para a disseminação dessa ideologia do ódio, seja através da mídia, das redes sociais ou em manifestações de rua, de modo a extirpar esse sentimento do coração dos brasileiros, cujo espírito fraterno se fez reconhecido em todo o planeta. A divergência de opinião faz parte da democracia e, portanto, não podemos tratar os que divergem de nós como inimigos. Afinal, somos todos irmãos, independente das nossas diferenças. É preciso acabar com o preconceito e a discriminação. É preciso aproveitar-se o início do novo ano para reconstruir-se a paz que todos desejamos.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO