Chacinas policiais não derrotam o crime organizado
A polícia do governador Tarcísio provou ser vingativa, na pior acepção da palavra, em vez de eficiente
A polícia do governador Tarcísio provou ser vingativa, na pior acepção da palavra, em vez de eficiente. É notório entre a bandidagem que matar um tira, ainda mais de grupamento especial, gera reação igualmente mortal. Ocorre que o morticínio possui a face cruel de alcançar inocentes, além de, comprovadamente, não reduzir o poder das organizações criminosas - estas têm de ser atacadas nos seus cofres.
Quem entende de crime organizado no Brasil é o desembargador aposentado Wálter Fanganiello Maierovitch, que tem espaços no UOL e na rádio CBN e que já foi colunista de Carta Capital. Ano passado, Maierovitch ganhou o Prêmio Jabuti pelo livro “Máfia, poder e antimáfia - Um olhar pessoal sobre uma longa e sangrenta história”. É figura midiática.
Há alguns anos, este colunista entrevistou longamente o jurista, fundador do Instituto Giovanni Falcone de Ciências Criminais. A imersão no conhecimento de Maierovitch amplia a visão sobre o modus operandi do crime, e, hoje, faz com que a ineficiência de ações como a da polícia do governador Tarcísio no Guarujá - e das policiais brasileiras em geral - seja clara como água.
O Brasil está atrasado em termos de política criminal, especialmente em relação ao crime organizado, ensina-nos Maierovitch. Verificadas a legislação europeia e a Convenção de Palermo, primeiro instrumento jurídico a tratar de “organizações criminosas”, percebe-se que o crime organizado é de difícil desmantelamento. Identificam-se facilmente associações delinquenciais comuns – quadrilhas e bandos -, mas apenas resvala-se da estrutura dos grupos mais complexos.
Organizações como o PCC controlam territórios, exercem domínio social e possuem grande poder econômico. O Primeiro Comando da Capital já adquiriu caráter transnacional - é uma máfia, portanto. Como combatê-la? Não é chacinando um bairro pobre.
“O mundo sabe disso, isso é preconizado no mundo, e no Brasil não se pratica: você só consegue combater crime organizado mexendo no bolso, mexendo no caixa da organização. Vale dizer: desfalcando-a. E o governo de São Paulo ainda não de preocupou em desfalcar o PCC. Quando um comércio ou uma indústria quebram? Quando não têm dinheiro”, dizia-nos Wálter Fanganiello Maierovitch no longínquo ano de 2014. Nada mudou.
É óbvio que se entranhar nas movimentações financeiras do crime organizado dá trabalho, requer preparo técnico, recursos tecnológicos, dedicação exclusiva, tempo e dinheiro. É disso que a polícia precisa, não de estímulos a um estúpido desejo de vingança.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

