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Gustavo Castañon

Gustavo Castañon é professor do departamento de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora

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Chegou nosso 65, como nos sairemos agora?

"Lula preso se torna um mártir internacional imediato: o homem que acabou com a fome no Brasil, candidato desse ano ao prêmio Nobel da paz, líder nas intenções de voto para presidente, com mais de 70 anos de idade, encarcerado por um apartamento que nunca foi dele fazendo greve de fome. Só no Brasil, só para a classe média alta brasileira isso não é uma abominação política inominável", diz o colunista Gustavo Castañon; "O cheque-mate da direita no PT será paradoxalmente também o cheque-mate político no golpe", aponta

Ato em defesa de Lula em Chapecó (Foto: Gustavo Castañon)
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As horas que precisamos mais de coragem e lucidez são, evidentemente, as mais difíceis de mantê-las. Não podemos ceder ao medo, nem à revolta, nem ao desespero: é necessário avaliar a situação da forma mais objetiva possível e continuar a fazer o que tem que ser feito. Para isso precisamos diferenciar derrotas políticas de derrotas institucionais.

Quem me acompanha aqui sabe que logo após a vitória institucional de 2014 (só no executivo), eu disse: "perdemos". Fui por alguns ridicularizado, mas a derrota era óbvia: o PT tinha perdido o discurso, o conservadorismo tinha emergido violentamente, o congresso eleito era o mais corrupto e direitista de todos os tempos, a lava-jato já tinha se armado e o golpe estava no horizonte. Foi uma pequena e localizada vitória institucional e uma imensa derrota política. Publiquei que o máximo que poderíamos esperar do segundo mandato de Dilma era impedir a doação do pré-sal e o desmonte da Constituição.

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Mas essa derrota política se transformou na maior catástrofe política da história da esquerda brasileira quando Dilma traiu 54,5 milhões de votos aplicando logo após apuradas as urnas o choque de juros de que acusou Marina e Aécio na campanha. Como se não bastasse, nomeou um ministro da economia empregado do Bradesco e formado na Universidade de Chicago. Pelos próximos 50 anos, teremos que explicar que a política aplicada em 2015 era neoliberal, era a agenda da direita, não da esquerda. E não teremos muito sucesso nisso.

A direita controla no capitalismo todas as instituições e, portanto, quando começa suas guerras de sobrevivência sempre obtém vitórias rápidas no campo institucional.

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É fácil para ela dar um golpe, rasgar a constituição, assassinar e prender adversários. O que é difícil é sustentar isso.

O roteiro que estamos vendo é parecido com o de 64. A centro-esquerda leva um golpe, o centro democrático cede como se tudo fosse um mero arranjo de arrumação, mas as reformas liberais jogam a economia da recessão e o golpe se desgasta. 

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É derrotado politicamente.

Em 64 tiveram que cancelar as eleições na esperança de o receituário liberal gerar resultados, e ele manteve o Brasil na recessão. Como a derrota política do golpe tinha se acentuado, eles finalmente entregaram o comando da economia para desenvolvimentistas e fecharam ainda mais o regime em 68 para, finalmente, com o milagre econômico, começar a acumular vitórias políticas. Essas naufragaram com a crise dos anos oitenta e os levaram enfim, depois de vinte anos, à derrota institucional.

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Estamos agora numa situação análoga a 65. Apesar de todas as suas vitórias institucionais, o golpe em três anos arruinou o Brasil e se arruinou politicamente. Reconhecido internacional e nacionalmente como o golpe dos ladrões, ele fez o PIB despencar 5%, a renda per capita 7%, o desemprego subir a 13% e sua face mais óbvia, Temer, amargar 5% de aprovação. Ele transformou os trabalhadores em escravos sem direitos e quer fazê-los trabalhar até a morte sem se aposentar. 

O PSDB é o partido mais rejeitado do país, o governador de São Paulo no exercício do cargo não tem 7% de intenções de voto, os últimos 5 candidatos apoiados pela Globo para presidente não podem mais sair nas ruas nem em passeatas de direita sem serem vaiados e chamados de ladrões. A Globo nunca foi tão odiada pela população, mesmo de direita, perdeu totalmente sua credibilidade, sua audiência não é nem um terço do que era na redemocratização. O judiciário brasileiro está em frangalhos, nunca na história do Brasil esteve tão desmoralizado por sua corrupção e parcialidade e odiado por seus privilégios absurdos.

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Já a esquerda assumiu novamente a posição de obviamente vitimada e perseguida ao mesmo tempo em que a situação do Brasil se deteriora em todos os campos. Lula voltou a 35% de intenções de voto e o PT a 20% da simpatia popular. Os candidatos anti-golpe somados tem cerca de 60% dos votos válidos. A direita orgânica desapareceu do cenário eleitoral que é ocupado por um descerebrado incontrolável.

A derrota política e moral da direita é gigantesca. Nunca foi tão grande.

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E a tendência é ficar ainda maior.

A prisão de Lula é uma aposta altíssima que deve desmoralizá-los ainda mais e pode isolá-los internacionalmente. O símbolo do judiciário brasileiro derreteu, ninguém mais acha que ser preso significa culpabilidade e estar solto inocência. Lula preso se torna um mártir internacional imediato: o homem que acabou com a fome no Brasil, candidato desse ano ao prêmio Nobel da paz, líder nas intenções de voto para presidente, com mais de 70 anos de idade, encarcerado por um apartamento que nunca foi dele fazendo greve de fome.

Só no Brasil, só para a classe média alta brasileira isso não é uma abominação política inominável.

E essa abominação fará o mundo finalmente virar os olhos para o país e descobrir que não temos mais democracia nem estado de direito. O país que acabou de sediar a copa e as olimpíadas virou em três anos uma república das bananas arrasada pelo neoliberalismo e por nossa direita bandida, corrupta, assassina e golpista.

O cheque-mate da direita no PT será paradoxalmente também o cheque-mate político no golpe.

Nós temos acumulado muitas vitórias políticas desde o golpe mas agora chegou a hora crítica.

Depois da prisão de Lula restará a eles aceitar que a derrota política se reverta em alguma derrota eleitoral ou escancarar o estado de exceção e o fechamento do regime. Talvez até com o recurso às Forças Armadas.

A nós restará conseguir a solidariedade internacional para garantir as eleições e auditar as urnas eletrônicas, retomar a normalidade democrática garantindo a Lula uma revisão de sentença em tribunais internacionais e fazer com que a maioria da população entenda que esse golpe foi, na verdade, um golpe econômico.

Chegou nosso 65.

Lamento companheiros, é nosso turno na vigia.

Ninguém virá nos render. É com a gente mesmo.

Como nos sairemos agora?

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