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Carlos Castelo

Jornalista, sócio-fundador do grupo Língua de Trapo, um estilo sem escritor

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Chico, 78

(Foto: Pixabay)
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Chico fez 78. Naquele 19 de junho de 1944 nascia o músico, filho de dona Maria Amália e seu Célio. Ela, prendas domésticas; ele tocador de tuba na Igreja Batista de Goianápolis.

Chico cresceu em meio a boiadas, berrantes e os ensaios de seu Célio no terreirão da chácara. O velho o estimulou a aprender acordeom para acompanhá-lo nos dias de culto. Aos 12 anos, ganhou seu primeiro instrumento. Logo estava executando clássicos como Ó Pai Celestial e Dá-me graças, Senhor.

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Anos depois, numa dessas tardes musicais, apareceu na casinha da família o cantor Zé Alarico. Vendo o rapaz manejar a sanfona com tanta destreza perguntou se podia levá-lo a shows por Itapetininga, Cravinhos, Rio Preto e Piracicaba. 

Pela confiança que tinha no compadre, seu Célio consentiu que o filho seguisse com o sertanejo tocando por esse mundão afora. Formaram então a dupla Chico e Alarico. O começo foi difícil, mas o final seria bem pior.

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Chico sonhava com palcos azuis e infinitas cortinas, mas Alarico só arrumava apresentações em circos e lupanares de pequenos municípios. O rapazote já virara um homem, manejava bem a sanfona, mas não era dotado de beleza física. Vesgo, meio corcunda, tentava compensar a feiura com a musicalidade. Ou escrevendo letras para o companheiro botar o vozeirão abolerado.

A canção A Banda de Itirapina obteve algum sucesso. Ficou algumas semanas em quarto lugar nas rádios AM da Alta Sorocabana. Galinhada completa sempre tocava nos alto-falantes da Congregação Cristã de Porangatu. Os direitos autorais, contudo, possibilitaram que os saltimbancos fossem mais longe: receberam convite para abrir o espetáculo de Abel e Caim na Festa do Peão Boiadeiro, de Analândia. Na Festa, Alarico poderia entoar as novas criações do parceiro. Entre elas, Mulheres de Alfenas, Apesar docê, e Joga esterco na Geni.

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Desafortunadamente, bem no instante em que o dueto foi penetrar no palco, o prefeito anunciou ao microfone:

- Ó o porco no rolete! Prefeitura liberou! É só pegá, povo!

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Milhares de famélicos acorreram às churrasqueiras, derrubando portões, destroçando alambrados, passando por cima de touros, vacas leiteiras e cavalos. A Defesa Civil foi chamada, mas só apareceu depois de comer os roletes. 

Naquela noite, no bordel de Corumbataí houve a separação definitiva dos artistas. Alarico se uniu ao violeiro daquela casa de tolerância formando a dupla Alaor e Alarico. Chico ainda tentou continuar compondo isoladamente. Sua música Zóio nos zóio foi gravada por Falcão e Faisão, mas não entrou no álbum. Decidiu, naquele momento, abandonar a vida artística.

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Depois de trabalhar por anos em construção, erguendo no patamar paredes sólidas, Chico agora está aposentado. Vive numa casa de repouso em Juscelândia. Quase que já não lembra de nada. Vida veio e o levou.

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