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Ben Norton

Jornalista independente e editor do Geopolitical Economy Report

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China e Rússia fortalecem amizade, criticando o 'neocolonialismo' ocidental e o militarismo dos EUA

Putin se encontrou com Xi Jinping em Pequim, onde China e Rússia divulgaram uma declaração conjunta criticando o "colonialismo e hegemonismo" ocidentais

Os presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping assinaram uma Declaração Conjunta em 16 de Maio de 2024 (Foto: Xinhua )

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À medida que os Estados Unidos impõem cada vez mais sanções à China e à Rússia, isso só aproximou ainda mais os poderes eurasiáticos. Os líderes dos dois países se reuniram em Pequim em maio. Esta foi a 43ª reunião deles.

Lá, os presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin assinaram uma declaração conjunta comemorando o 75º aniversário das relações diplomáticas. No documento, China e Rússia criticaram o "colonialismo e hegemonismo" ocidentais, pediram a construção de um mundo mais multipolar com maior representação para o Sul Global e expressaram apoio à desdolarização e à expansão do BRICS.

As relações China-Rússia estão "no seu melhor nível da história" - A declaração conjunta enfatiza que as relações China-Rússia "estão agora no seu melhor nível da história" e que "essa parceria não é uma medida temporária". No entanto, os poderes eurasiáticos ressaltam que a sua "parceria estratégica abrangente de coordenação para uma nova era" é "caracterizada pelo não-alinhamento, não-confrontação e não-direcionamento a terceiros países".

Moscou expressou seu apoio ao princípio de Uma Só China, opondo-se ao separatismo de Taiwan, enquanto Pequim reconheceu as necessidades de segurança nacional da Rússia e se opôs firmemente à interferência externa em seus assuntos internos.

Apoio ao Sul Global - Compromissos como esses já haviam sido feitos antes. O mais singular sobre essa declaração é como China e Rússia destacam “o status e a força crescentes dos poderes emergentes no Sul Global”. Pequim e Moscou escrevem que a crescente influência do Sul Global pode "acelerar a redistribuição do potencial de desenvolvimento, recursos e oportunidades, favorecendo os mercados emergentes e os países em desenvolvimento e promovendo a democratização das relações internacionais".

Nesse sentido, eles clamam por uma "atmosfera boa e saudável de cooperação internacional com a África". Eles também esperam fazer "contribuições para apoiar os países africanos na resolução dos problemas africanos de maneira africana".

China e Rússia prometem "aprofundar a cooperação com a ASEAN", a Associação das Nações do Sudeste Asiático, e "promover a consolidação da posição central da ASEAN no quadro multilateral da região Ásia-Pacífico".

Ao mesmo tempo, ambos os países afirmam seu objetivo de "fortalecer a cooperação estratégica nos assuntos da América Latina e do Caribe", mencionando importantes organizações regionais como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA). (Notavelmente ausente dos seus comentários foi qualquer menção à Organização dos Estados Americanos (OEA) dominada pelos EUA, que Washington tem usado para tentar impor sua vontade política na região.)

"Construindo um mundo multipolar" - Enquanto eles mantém que o Sul Global deveria ter mais representação, China e Rússia observam: "Em contraste, os países que aderem ao hegemonismo e à política de poder estão indo contra essa tendência, tentando substituir e subverter a ordem internacional reconhecida baseada no direito internacional por uma 'ordem baseada em regras'".

Os poderes eurasiáticos enfatizam que estão "em um processo de construção de um mundo multipolar" e buscam "um mundo multipolar equitativo e ordenado e a democratização das relações internacionais".

"Ambos os lados acreditam que todos os países têm o direito de escolher independentemente seus modelos de desenvolvimento e sistemas políticos, econômicos e sociais com base nas suas condições nacionais e na vontade do povo, opondo-se à interferência nos assuntos internos dos países soberanos, sanções unilaterais sem base no direito internacional ou autorização do Conselho de Segurança da ONU", declaram  Pequim e Moscou.

"O neocolonialismo e o hegemonismo contradizem completamente a tendência atual dos tempos", enfatizaram.

Em uma mensagem clara aos EUA e à UE, China e Rússia afirmam que "apelam aos países e organizações relevantes para pararem de adotar políticas confrontacionais e de interferir nos assuntos internos de outros países, perturbar arquiteturas de segurança existentes, construir 'pequenos quintais' entre nações, provocar tensões regionais e advogar pela confrontação de blocos".

Na declaração, Xi e Putin também se comprometem a aprofundar a cooperação militar entre seus países, incluindo através de treinamentos e exercícios conjuntos.

Desdolarização e comércio em moedas locais - China e Rússia dizem que irão desdolarizar ainda mais, planejando "aumentar a participação de moedas locais no comércio bilateral, em  financiamentos e em outras atividades econômicas".

O Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, informou em abril que mais de 90% do comércio bilateral entre os dois vizinhos já é realizado em suas moedas locais, o renminbi e o rublo. O dólar dos EUA e o euro foram quase totalmente removidos das suas transações.

O Financial Times relatou em maio que “os laços econômicos entre os dois lados estão florescendo”. O comércio bilateral entre China e Rússia atingiu o equivalente a US$ 240 bilhões em 2023, um aumento de 26% em apenas um ano.

Em 2023, a Rússia ultrapassou a Arábia Saudita como maior fornecedora de petróleo para a China.

Expansão do BRICS e fortalecimento da Organização de Cooperação de Xangai - Na declaração conjunta de maio de 2024, China e Rússia expressaram apoio à expansão do BRICS, prometendo "promover a integração de novos membros nos mecanismos de cooperação existentes do BRICS e explorar modos de cooperação entre os países parceiros do BRICS".

Eles se comprometeram a "continuar a defender o espírito do BRICS, aumentar a influência do mecanismo BRICS nos assuntos internacionais e na definição de pautas".

Pequim e Moscou novamente pedem a desdolarização, "promovendo efetivamente o diálogo sobre o uso de moedas locais, instrumentos de pagamento e plataformas para transações comerciais do BRICS".

Eles também endossam apelos para "aumentar a representação dos países do 'Sul Global' no sistema de governança econômica global".

"Ambos os lados acolhem a adesão da União Africana ao G20 e estão dispostos a fazer esforços construtivos pelos interesses comuns dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento", declaram.

Os poderes eurasiáticos esperam fortalecer novos corpos multilaterais como a Organização de Cooperação de Xangai, para "desempenhar um papel maior na construção de uma nova ordem internacional multipolar, justa e estável".

Apoio ao sistema baseado no direito internacional centrado na ONU - Embora autoridades de governos ocidentais e comentaristas das mídias corporativas muitas vezes acusem China e Rússia de serem potências "revisionistas", Pequim e Moscou clamam em sua declaração conjunta pelo fortalecimento do sistema baseado no direito internacional centrado nas Nações Unidas.

Xi e Putin deixaram claro que o que eles se opõem é a tentativa das potências ocidentais de substituir esse sistema pelo conceito vago de uma chamada "ordem internacional baseada em regras".

"Ambos os lados reafirmam o seu compromisso de construir uma arquitetura internacional multipolar mais justa e estável, respeitando e cumprindo plenamente os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas incondicionalmente, e salvaguardando o verdadeiro multilateralismo", escreveram.

Os países propõem o fortalecimento do Grupo de Amigos em Defesa da Carta das Nações Unidas.

Condenando o militarismo dos EUA e a "mentalidade da Guerra Fria" - China e Rússia criticam os Estados Unidos por militarizarem o mundo, declarando: "Ambos os lados expressam séria preocupação mais uma vez com as tentativas dos Estados Unidos de perturbarem a estabilidade estratégica para manter sua vantagem militar absoluta".

Washington está tentando "normalizar a alocação de mísseis em todo o mundo", disseram, acrescentando: "Ambos os lados condenam fortemente essas medidas extremamente desestabilizadoras que ameaçam diretamente a segurança da China e da Rússia e irão fortalecer a coordenação e cooperação para enfrentar a política não-construtiva e hostil dos EUA de 'contenção dupla' contra China e Rússia".

"Os Estados Unidos se apegam à mentalidade da Guerra Fria e ao modo de confrontação de blocos, priorizando a 'segurança de pequenos grupos' em detrimento da paz e estabilidade regional, representando uma ameaça à segurança de todos os países da região", afirmam Xi e Putin. "Os Estados Unidos devem cessar esse comportamento".

Paz no Leste Asiático e na península coreana - Na declaração conjunta, China e Rússia ressaltam que "se opõem às tentativas dos EUA de mudarem o equilíbrio de poder no Nordeste Asiático ao expandirem a sua presença militar e formar agrupamentos militares".

Em referência à Coreia do Norte (conhecida oficialmente como RPDC), Pequim e Moscou declaram que "se opõem às ações dissuasivas dos EUA e seus aliados no campo militar, provocando confrontação com a República Popular Democrática da Coreia e agravando tensões na Península Coreana que poderiam levar a um conflito armado".

"Ambos os lados instam os Estados Unidos a tomar medidas eficazes para aliviar as tensões militares e criar condições favoráveis, abandonar a intimidação, sanções e repressão, e promover negociações entre a Coreia do Norte e outros países relevantes com base no princípio de respeito mútuo e consideração das preocupações de segurança de cada um", escrevam, afirmando que "meios políticos e diplomáticos são a única maneira de resolver todas as questões na Península Coreana".

Eles também expressam a sua "séria preocupação com as consequências da parceria de segurança trilateral AUKUS em vários campos para a estabilidade estratégica da região Ásia-Pacífico".

Oposição à militarização do espaço sideral - Pequim e Moscou são claros ao afirmarem que "se opõem às tentativas de países individuais de militarizar o espaço sideral".

Ambos os países afirmam que concordam "em promover a iniciativa internacional/compromisso político de não implantar armas primeiro no espaço sideral em escala global".

"Para manter a paz mundial, garantir a segurança igual e indivisível de todos os países", escreveram.

Combater a mudança climática através da transferência financeira do Norte Global para o Sul Global - Sobre a questão da mudança climática, China e Rússia reafirmam o "seu compromisso com os objetivos, princípios e estrutura institucional da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e seu Acordo de Paris".

Eles enfatizam "a importância crucial do apoio financeiro dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento para mitigar o aumento da temperatura média global e se adaptar aos efeitos adversos da mudança climática global".

Xi e Putin também se propõem a trabalhar "com todas as partes para desenvolver documentos juridicamente vinculativos para enfrentar a poluição ambiental causada por resíduos plásticos".

Publicado originlmente em: https://geopoliticaleconomy.substack.com/p/china-russia-west-neocolonialism-us-militarism?utm_source=post-email-title&publication_id=457596&post_id=144986693&utm_campaign=email-post-title&isFreemail=true&r=9lbhd&triedRedirect=true&utm_medium=email

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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