China tem esperança e quer viver um pouco mais
Com 79 anos de expectativa de vida, a China supera os Estados Unidos, cuja média é de 78,6 anos
A China quer viver mais — e melhor. O país que abriga um quinto da humanidade acaba de anunciar uma nova prioridade nacional que reflete o estágio histórico em que se encontra: melhorar a saúde da população e elevar a expectativa de vida para 80 anos entre 2026 e 2030. O objetivo, anunciado pelo diretor da Comissão Nacional de Saúde, Lei Haichao, apoia-se em uma rede de atendimento aos idosos considerada a maior do planeta, com mais de 406 mil instituições e centros de cuidado, quase 8 milhões de leitos e subsídios que beneficiam cerca de 49 milhões de pessoas.
No fim de 2024, oito províncias chinesas — entre elas Pequim, Tianjin, Xangai, Shandong, Jiangsu, Zhenjiang, Guangdong e Hainan — já haviam alcançado a marca simbólica dos 80 anos de esperança de vida, com indicadores de saúde comparáveis aos de países de renda média-alta. Nacionalmente, o índice estava em 79 anos, com 310 milhões de pessoas acima de 60 anos, ou 22% da população total.
“Vamos melhorar o atendimento aos idosos, promovendo o seguro de cuidados de longo prazo, ampliando o apoio a quem sofre de deficiências ou demência e expandindo os serviços de reabilitação e cuidados paliativos”, prometeu Lei, durante a aprovação do rascunho do 15º Plano Quinquenal (2026–2030) na sessão plenária do Comitê Central do Partido Comunista da China.
O plano inclui políticas de prevenção de doenças, incentivo ao trabalho de médicos de família e programas de educação em saúde. O objetivo é permitir que cada cidadão se torne “dono de sua própria saúde”, por meio do controle do peso, da pressão arterial, dos lipídios e da glicose no sangue.
Um sistema de saúde que impressiona
O governo também pretende aprimorar o tratamento de doenças crônicas, como câncer, diabetes e problemas cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórios — responsáveis por mais de 85% das mortes anuais. A expansão da atenção primária, aliada à telemedicina e aos serviços móveis de saúde, pretende garantir atendimento eficiente e de qualidade “a 15 minutos de casa”, segundo o modelo dos “Círculos de Serviços Médicos em 15 Minutos”.
Com 79 anos de expectativa de vida, a China supera os Estados Unidos, cuja média é de 78,6 anos, e figura entre os países com melhor desempenho sanitário entre as nações de renda média-alta. Sua rede de saúde atende uma população equivalente à soma da Europa e da América do Norte, com 1,09 milhão de centros de saúde, 15,7 milhões de profissionais e um seguro médico básico que cobre 96,2% dos cidadãos.
O avanço é ainda mais notável quando observado em perspectiva histórica. Em 1949, quando foi fundada a República Popular da China, a esperança de vida era de apenas 35 anos. As quase cinco décadas de aumento refletem investimento contínuo em infraestrutura, combate a doenças infecciosas e melhoria das condições de vida. Segundo o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde, a China adicionou oito anos à sua média de vida apenas nas últimas duas décadas, ritmo duas vezes superior à média global.
O desafio do envelhecimento
Mas viver mais não basta. A outra face desse sucesso é o envelhecimento acelerado da população — um fenômeno global, mas que na China assume dimensões monumentais. As projeções indicam que os atuais 310 milhões de idosos chegarão a 500 milhões em 2050, o que exigirá novas formas de cuidado e sustentabilidade do sistema.
O país agora aposta em uma mudança de paradigma: fazer com que cada pessoa se responsabilize pela própria saúde, ampliando o protagonismo dos médicos de família e das políticas de prevenção. Em um território tão vasto, onde as melhores estruturas médicas estão concentradas nas metrópoles, a telemedicina surge como ponte para reduzir desigualdades históricas entre as regiões urbanas e o interior.
Viver mais — e melhor
O ambicioso objetivo de alcançar 80 anos de expectativa de vida, portanto, vai além de um simples indicador demográfico. É uma metáfora do desafio civilizatório do século XXI: como sustentar o envelhecimento populacional sem abrir mão da dignidade humana. A China, que já provou ser capaz de multiplicar sua longevidade em poucas gerações, agora precisa mostrar que pode acrescentar não apenas anos à vida, mas também vida aos anos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




