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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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Chora Neymar! Chora Brasil!

Chora, Brasil! Devemos chorar pelos nossos direitos que estão sendo suprimidos e por nossos que estão sendo roubados e vendidos, por um time de golpistas que tomou conta do jogo e comprou a arbitragem para favorecê-los a todo custo

Neymar chora ao final do ogo Brasil 2 x 0 sobre a Costa Rica na Copa do Mundo na Rússia (Foto: Nêggo Tom)

Chora, Brasil! Devemos chorar, pois o nosso grande craque chorou. Sentou no gramado, não olhou para o telão, mas sabia que lá estaria sua imagem, representando mais de 200 milhões de brasileiros. A imagem da superação de quem costuma ser perseguido, não pelo seu talento para jogar futebol, que é indiscutível, mas, por sua, às vezes, questionável maneira de apresentá-lo ao mundo. O seu choro poderia ter sido no vestiário, no seu canto, assim como o de outros milhões de brasileiros, que choram e ninguém vê. Mas, que importância tem o choro de quem não é craque? E que graça teria se o craque chorasse e ninguém visse?

Chora, Brasil! Devemos chorar também, porque o menino pobre que sonhava em ser um craque, foi assassinado de forma cruel. O telão não mostrou, o VAR não pode voltar atrás no lance, mas a sua imagem estava lá! Ensanguentada e jogada ao chão, como alguém que acabara de sofrer uma falta violenta e criminosa, que o juiz fingiu não ver e deixou o jogo seguir. É apenas mais um que cai nos gramados da vida e a bola continua rolando. A sua morte poderia ter sido heróica, mas não aconteceu em cima de um palco iluminado, com todos os holofotes voltados para ele. O choro daqueles que estão sofrendo com a sua perda, não comoverá toda a uma nação e nem será tema de editorial horas depois.

Chora, Brasil! Devemos chorar pelos nossos direitos que estão sendo suprimidos e por nossos que estão sendo roubados e vendidos, por um time de golpistas que tomou conta do jogo e comprou a arbitragem para favorecê-los a todo custo. Eles jogam sujo, entram para quebrar o povo no meio, ignoram o fair play e não recebem cartão vermelho nunca. Tudo isso diante de uma torcida passiva e perplexa, que se distrai com qualquer choro que soe mais estridente e esquece que está envolta a um vale de lágrimas de dor, sofrimento e de anulação existencial.

Chora, Brasil! Devemos chorar porque a fome novamente assola boa parte da nossa população. As ruas voltaram a ser pintadas de gente de todos os destinos e com a mesma cor predominante. O pouco colorido dos desabrigados, contrasta com o verde e amarelo das bandeirolas e da euforia daqueles que se vestem com a camisa da nossa seleção, para jogarem a favor da desigualdade e defender o título de donos do pedaço. A Copa do mundo sempre será deles, enquanto a maioria continuar se contentando com o título de campeão moral e não entrar, de fato, na briga pelo campeonato.

Chora, Brasil! Devemos chorar porque o sistema opressor - quando não nos obriga - nos induz. Não basta golpear a democracia, é preciso alienar o pensamento, para assim, deter uma possível reação. De modo que o nosso choro se torne seletivo e tolo, de acordo com os interesses de quem nos faz chorar. Desta forma, passamos a nos posicionar como um time que está perdido dentro do campo de jogo, errando passes bobos, batendo cabeça com os próprios companheiros de equipe e deixando o adversário nos envolver com sua tática implacável.

Chora, Brasil! Ao final do jogo, devemos sentar e chorarmos todos juntos. Cada qual por seu motivo, cada um no seu gramado, diante do seu telão e sob os olhares da sua platéia. E quem tiver motivo, mas não tiver gramado, telão ou platéia, que chore mais alto. Quem sabe, alguém te ouve? Afinal, quem não chora, não mama!

Chora, Brasil!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.