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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Ciência, cultura e demônios

No balanço de sua administração, ficaremos com o que houve de pior em nossa História. Ainda temos, felizmente, gente que pensa e afina o poder da crítica. Estão todos fora do governo, onde só figuram os iguais, conservadores de pobre extração. Aqueles não compõem o governo, mas continuam existindo, sem comendas e homenagens

(Foto: Agência Brasil)

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O cotidiano do nosso presidente dá a impressão de que ele anda rodeado por fantasmas, obcecado por casas assombradas por desafetos. É o que o levaria a escolher assessores, às vezes de incontornável incompetência, aparelhando o Estado de quadros ideológicos de cama e mesa, sem demais considerações. Na rua, no cercadinho, nas reuniões da administração, uma ideia se sobrepõe às outras: o desejo de afirmação que beira à loucura e substitui a realidade por projetos de poder. As negociações com o PL de Waldemar Costa Neto, para a sua entrada, terminaram em impasses exatamente por isso. Deve ser difícil negociar com quem perdeu a noção de realidade. Desastres e, segundo parte da imprensa, baixarias, resultaram de seus desacertos. Pode se dizer que uma legenda para a sua eventual reeleição, no momento, é um de seus demônios. Mas há outros...

A ciência e a cultura também se somam aos seus devaneios noturnos, ambas porque não coincidem com a estrutura de suas emoções, sempre à flor da pele. Suas motivações possuem características que o comportamento comum, previsível, não consegue decifrar. Programada como propaganda, a entrega da Ordem do Mérito Científico aos cientistas caiu por terra. Eles recusaram a honraria. Algo de parecido ocorreu no INEP, onde 33 especialistas se demitiram, por não suportar as orientações autoritárias, de cunho atrasado e direitista.

No romance de Gabriel García Márquez, O amor e outros demônios, a pregação da Igreja não lograva moldar a noviça e transformá-la numa religiosa obediente. Aqui, também, a mente das pessoas se rebela, desde a posse, logo depois da eleição. Com 2022 à vista, anuncia-se difícil, senão impossível, impor fantasmas quando a miséria da direção econômica, sob as intervenções de André Esteves junto ao Banco Central, vai causando prejuízos. O mundo, além das nossas fronteiras, assiste ao que fazemos com o nosso país, gradualmente empurrado para o abismo. O encontro de Lula com o novo Chanceler alemão Olaf Sholz e as impressões que este emitiu sobre Bolsonaro e as nossas perspectivas para o futuro, falam bastante alto para que as ignoremos. O parlamentar alemão se expressou mais ou menos assim: É preciso substituir o atual presidente incompetente. 

Vemos que os demônios pululam em torno do primeiro mandatário, prejudicando-o nas várias frentes de sua atuação. E os filhos contribuem para atrapalhar. 

Aos poucos, os fantasmas que moram no Palácio do Planalto e voam em torno de seus vastos espaços, se esborracham nas janelas. É da lógica das fantasias. Elas querem acertar e se esfarelam no chão a cada projeto que nos atira para trás. O Grão-Mestre, com o título concedido a si mesmo, também bate a cabeça naquelas paredes e não consegue acertar. No balanço de sua administração, ficaremos com o que houve de pior em nossa História. Ainda temos, felizmente, gente que pensa e afina o poder da crítica. Estão todos fora do governo, onde só figuram os iguais, conservadores de pobre extração. Aqueles não compõem o governo, mas continuam existindo, sem comendas e homenagens. Não precisam delas. De outro modo nos arrastaríamos no chão duro dos fracassos, sem compensações. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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