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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: a dança da descolonização

Em "Mali Twist", Robert Guédiguian mescla uma história de amor e um processo de descolonização na África

(Foto: Divulgação)
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Mali Twist (Twist à Bamako) é um filme capaz de suscitar muitas discussões sobre descolonização. A começar pelo status do próprio filme, uma coprodução francesa, dirigida por um francês, que se passa logo após a independência do Mali em relação à França. O ator e a atriz principais nasceram em Paris, embora sejam de ascendência congolesa (Stéphane Bak) e cabo-verdiana (Alice da Luz). Já houve quem perguntasse se essa história não podia ter sido dirigida e protagonizada por malineses.

Para quem conhece os trâmites da viabilização cinematográfica, essas cobranças soam como despropositadas ou radicais. Mas é interessante que Mali Twist fale justamente de radicalismos da descolonização.

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Estamos em Bamako, capital do Mali, em 1962. Samba Touré, jovem filho de um comerciante local, está firmemente engajado na implantação do socialismo. Numa de suas viagens ao interior para levar a palavra do "Novo Mali", ele acaba protegendo Lara, moça em fuga de um casamento arranjado. Os dois se apaixonam, dando margem a uma cena romântica ao som (europeu) de um Noturno de Chopin.

Robert Guédiguian é um cineasta de esquerda, o que, teoricamente, elimina qualquer suspeita sobre o seu "lado" num drama sobre descolonização e socialismo. E é isso mesmo que o autoriza a descerrar toda a complexidade de um tal processo.

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A nova ordem no sentido de repartir colheitas sob a égide do estado incomoda os empresários, mesmo os pequenos e o próprio pai de Samba. A proposta de modernizar os costumes - inclusive proibindo os casamentos forçados - desagrada os mais afeitos às tradições. O marido de Lara, por exemplo, e ainda mais o irmão dela, partem para Bamako a fim de trazê-la de volta na marra.

As forças políticas se contradizem. Os revolucionários mais empedernidos se opõem à cultura do colonizador e fazem o elogio das tradições nativas. Querem fechar o clube de dança onde a juventude se diverte com o rock e o twist. Samba e Lara são frequentadores assíduos. Não espanta que Samba vá acabar se tornando persona non grata para o regime - um transgressor que questiona os códigos da revolução e ainda namora uma mulher casada.

O twist do título tem um duplo sentido claro: é a dança e também a torção imposta à sociedade naquele momento, com todas as suas contradições. Cabe lembrar que a experiência socialista no Mali se frustrou nas décadas seguintes com uma sucessão de golpes militares, intercalados com períodos de estabilidade democrática e, mais recentemente, o domínio por extremistas do Estado Islâmico.

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Filmado no vizinho Senegal, Mali Twist tem uma produção sugestiva sem ser opulenta e lida delicadamente com um grande elenco coadjuvante de atores africanos. Guédiguian se equilibra entre uma certa simplificação dramatúrgica e a sua proverbial afeição por quem luta por bons ideais.

>> Mali Twist está na plataforma Reserva Imovision.

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O trailer:

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