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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: A terra unida jamais será vencida

O blockbuster chinês "Terra à Deriva" é uma demonstração espalhafatosa de poder econômico e capacidade tecnológica no campo das imagens. Disponível na Netflix

"Terra à Deriva" (Foto: Divulgação/Netflix)
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Fazendo estremecer o catálogo da Netflix, Terra à Deriva (Liu lang di qiu) é o primeiro blockbuster chinês de ficção científica. Desde que foi lançado em 2019, faturou mais de 700 milhões de dólares nas bilheterias mundiais, elegendo-se o quinto maior sucesso de público do cinema chinês. É um bom exemplo da onda atual de superproduções chinesas, na qual se inclui o badaladíssimo A Batalha do Lago Changjin, o recordista absoluto. Ilustra também a guerra cultural que já em 2019 se estabelecia entre China e Estados Unidos. 

Para começar, é uma demonstração espalhafatosa de poder econômico e capacidade tecnológica no campo das imagens. Os dois filmes aqui citados têm sido festejados como algo que nem Hollywood ainda ousou produzir. Terra à Deriva atira na tela uma cornucópia de imagens sintéticas e efeitos computadorizados para mostrar um planeta devastado no futuro pelas mudanças climáticas. Não há mais sol sobre a Terra. A China é um amontoado de ruínas em meio à neve eterna. A população disputa lugar em cidades subterrâneas, acima das quais tudo é caos ou desolação. O Governo da Terra Unida – simulacro da ONU – planeja construir uma nova vida humana num planeta hospedeiro fora do Sistema Solar, uma vez que a nossa está condenada. Para piorar as coisas, aproxima-se uma colisão aparentemente inevitável com Júpiter.

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É onde entram os heróis. Chineses, naturalmente. Três gerações de uma mesma família estão empenhadas numa missão de resgate que poderá desviar o curso ameaçador. Para salvar o planeta, os heróis precisarão, é claro, violar as regras do sistema. 

Sabe-se que há também americanos, ingleses, franceses e russos envolvidos no projeto, mas todos são coadjuvantes à margem dos acontecimentos principais. A aliança mais evidente se dá entre o chinês e o russo que comandam a plataforma de navegação. Depois que terremotos, deslocamentos de placas tectônicas, acidentes e todo tipo de imprevisto ameaçam os objetivos da missão a cada três minutos – gerando hiperatividade e gritaria constantes –, a solução conta com o engajamento nominal de várias nacionalidades. Ou seja, a terra unida jamais será vencida, desde que sob a liderança dos chineses.

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É curioso que, um pouco antes de se tornar o epicentro de uma pandemia que ameaçou o futuro da humanidade, a China filmava essa fantasia de salvação planetária. O fato de a Netflix distribuir o filme atesta o pragmatismo da indústria cultural diante das pautas geopolíticas. Outro sintoma disso foi a enxurrada de Oscars para Tudo no Mesmo Lugar ao Mesmo Tempo, filme-símbolo dessa relativização. 

Eu não me interessei por acompanhar a trama de Terra à Deriva, com suas hipóteses científicas esdrúxulas, frenesi de ações e personagens-chavão. Fiquei ligado na indistinção da natureza daquilo que via. O que era simples animação, miniatura, live-action e combinações entre tudo isso? Para onde levavam tanto excesso e tanta agitação? Como aquilo respondia a uma demanda rítmica que anula o pensamento e estimula a pura reação, como nos games? Nisso também os chineses estão querendo se mostrar contemporâneos.

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>> Terra à Deriva está na Netflix.

O trailer:

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Abaixo o trailer de Terra à Deriva II, que a crítica internacional recebeu ainda mais friamente:

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