CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Paulo Moreira Leite avatar

Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

1183 artigos

blog

Cinema brasileiro tem muito a aprender com o sucesso de Parasita

Enquanto Bolsonaro toma medidas óbvias de sabotagem ao cinema nacional, a Coreia do Sul estimula e protege seus filmes como parte da riqueza do país, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Divulgação)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

Sabemos que o Brasil já perdeu várias chances de copiar boas ideias nascidas na Coréia do Sul, país que  teve um grau de desenvolvimento econômico similar ao nosso até que, nas últimas décadas, atingiu patamares bem mais elevados.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O desempenho espetacular do filme Parasita, premiado no Oscar e no Festival de Cannes, contem lições que serão úteis quando, livrando-se do pesadelo Jair Bolsonaro+Regina Duarte, o país tiver condições de retomar a luta pelo desenvolvimento cultural, em particular na industria audio-visual. 

Como o Brasil, na segunda metade do século XX a Coréia do Sul entrou nos anos de Guerra Fria em posição subordinada a Washington. Diferentemente do Brasil, contudo, que foi incapaz de contestar e superar uma posição semi-colonial clássica, os sul-coreanos tiveram uma trajetória diferenciada.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Mesmo sem libertar-se da pesada influência militar e diplomática de Washington, até mais acentuada do que no Brasil, foram capazes de tomar iniciativas em condições que,  no início,  eram similares à chamada "substituição de importações" do início da industrialização, , mas terminaram por revelar-se muito mais radicais, eficazes e coerentes.

Para começar, o Estado sul-coreano nunca teve receio de intervir na economia quando isso se fazia necessário. Na saída do grande conflito de sua História, a Guerra da Coreia, o país promoveu uma reforma agrária que eliminou a velha aristocracia rural para democratizar a terra, distribuir a riqueza e  criar uma nova classe média.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O Estado também colocou de pé gigantes econômicos nacionais, chamados "chaebol". Graças eles o país foi capaz de construir uma posição soberana no mercado internacional, seja no setor de automóveis, seja no de informática, onde marcas como Hyundai e Samsung simbolizam potências econômicas que alavancaram de um progresso profundo.

É óbvio que a força do cinema sul-coreano faz parte deste processo, carregando traços muito semelhantes, ainda que em outra escala. 

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O funcionamento dessa engrenagem audio-visual, que funciona há duas décadas, foi estudado por Alex Braga e Luana Rufino, hoje diretores da Agência Nacional de Cinema, num artigo de nome quilométrico ("Uma perspectiva estruturante e sistêmica para reformulação da política cultural audiovisual"), como recorda Ana Paula Souza em texto publicado na Folha (16/2/2020).

O resumo da história é fácil de compreender. No espaço de 20 anos, o cinema sul-coreano conquistou o mercado de seu próprio país, num salto de 2% para 57%. (No Brasil, hoje, é de 14%). A qualidade das produção é desigual, como no mundo inteiro, mas os picos de qualidade são inegáveis -- como ocorre no Brasil também.   

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O progresso sul-coreano envolveu um esforço para conquistar o público mas nada teve de política de mercado. Envolveu acima de tudo ações deliberadas de governo. Incluiu o estabelecimento de cotas para a tv aberta -- e não só para canais pagos, como aqui -- além de um pacote de financiamento que inclui empréstimos a investidores ligados a produção dos filmes, subsídios a infraestrutura e canais de produção, e um programa de apoio à internacionalização.

Enquanto isso, em tempos recentes percorre-se no Brasil um percurso na direção contrária.  o governo Bolsonaro multiplica gestos de sabotagem e boicote a produção brasileira, numa postura permanente, anterior a emergência espetacular de "Democracia em Vertigem" no Oscar, que incomodou o governo Bolsonaro por motivos óbvios.    

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Em 2019, no mesmo ano em que "Bacurau" e "A vida Invisível" recebiam prêmios importantes no Festival de Cannes, Bolsonaro deu uma mostra de seus instintos cinéfilos: "Há quanto tempo a gente não faz um bom filme, né?"

Já no ano passado Bolsonaro anunciou um corte de 43% no Fundo Setorial do Audiovisual, que assim acabou reduzido a seu mais baixo orçamento desde 2012.

Hoje, grandes filmes brasileiros trabalham com orçamento cinco e até sete vezes inferior ao de Parasita, o que representa uma dificuldade suplementar para competir num jogo de talentos, propostas e dinheiro do cinema internacional.

Alguma dúvida?

(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO