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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: Diversidade nas Assembleias

"Corpolítica" se vale das campanhas de quatro candidates à vereança em 2020 para discutir amplamente representatividade LGBTQIA+ na política brasileira

Andrea Bak com integrantes do Slam das Minas (Foto: Divulgação)
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Se em 2018, pouco depois da morte de Marielle Franco, as eleições brasileiras contaram com um número recorde de candidatas negras (vejam o filme Sementes: Mulheres Pretas no Poder), em 2020 foi a vez de candidates LGBTQIA+. Conforme dados apresentados pelo documentário Corpolítica, apenas 0,16% dos cargos políticos no Brasil são preenchidos por pessoas assim autodeclaradas. Em 2020, de 546 candidaturas apresentadas, 97 foram eleitas. Duas delas são abordadas no filme, junto com duas que não conseguiram chegar lá.

Andrea Bak, 19 anos, poeta, candidatou-se à vereança pelo PSOL carioca. "O corpo de mulher negra LGBT já nasce político", diz ela, pontuando o que seria um destino inevitável. Monica Benício, viúva de Marielle, concorria na mesma raia de Andrea, ambas trazendo o DNA político das favelas e periferias. Em São Paulo, William De Lucca tentava uma vaga pelo PT panfletando de saia e a transgênero Erika Hilton fazia campanha baseada no seu extraordinário senso de assertividade. 

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O filme não acompanha as campanhas em minúcias. Antes se vale delas como eixo para uma discussão ampla sobre representatividade LGBTQIA+ na política brasileira. O que inclui a falácia da identidade de gênero e a homofobia/transfobia que assola os estratos parlamentares e mesmo a sociedade civil. Para isso vai buscar não só figuras estabelecidas na esquerda, como Jean Wyllys e a ex-deputada Erica Malunguinho, primeira mulher trans na Assembleia Legislativa de SP, mas também políticos gays de direita. Fernando Holiday (Novo) e Thammy Miranda (PL) expõem as razões pelas quais abdicam de pautar questões relativas à comunidade LGBT e criticam os métodos da esquerda nesse sentido.

No contato com as quatro pessoas protagonistas, o diretor investiga o que as levou a passar do mero ativismo para a esfera da política institucional e sonda suas ideias em relação à representatividade. Nenhuma delas apresenta seus parceiros românticos, mas todas são vistas ao lado das mães, que expõem seu grau de aceitação da sexualidade das filhas ou filho. A mãe de Erika Hilton, por exemplo, superou a rejeição de fundo religioso. A mãe de Monica Benício recorda o namoro da filha com Marielle. Já a mãe de Andrea Bak deixa transparecer resquícios de objeção numa das cenas mais interessantes do filme.

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Corpolítica é dirigido por Pedro Henrique França, um dos criadores da produtora Representa, focada em representatividade. É curioso que Pedro se coloque pessoalmente no áudio do filme e conduza de viva voz todas as entrevistas, mas não apareça nas imagens (leiam uma entrevista com ele por Myrna Silveira Brandão). Algumas conversas são enquadradas de maneira bem pouco ortodoxa, com a pessoa deslocada para um canto da imagem e olhando para fora do quadro, onde naturalmente estava Pedro   Isso produz uma estranha lacuna no filme, parcialmente preenchida pelo carisma exuberante dos e das personagens.
De estrutura bastante sinuosa, o documentário é às vezes redundante nas argumentações. Comete o pecado muito comum de sobrepor narração em áudio a textos para serem lidos na tela, o que é simultaneamente impossível. Mesmo assim, expõe um quadro importante de ser conhecido num dos países em que mais se mata e se discrimina gente LGBTQIA+ no mundo.

O trailer:    

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