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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: Retrato de um colombiano visionário

Luís Ospina foi um visionário que sacudiu o bom-mocismo do documentário latino-americano de sua época. “Ospina Cali Colômbia” deixa um bom registro desse legado

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A Colômbia costumava ser conhecida pelo café. Depois passou a ser sinônimo de cocaína, narcotráfico e violência. Mas para os fãs de um cinema mais aguerrido, a Colômbia é associada a um grupo de cineastas radicados em Cali, do qual Luís Ospina foi um de seus líderes. Em um de seus últimos filmes, Tudo Começou pelo Fim, de 2015, Ospina fazia um retrospecto/homenagem aos companheiros do Grupo de Cali já desaparecidos e, ao mesmo tempo, documentava o seu tratamento de um câncer que poderia levá-lo à morte. A Indesejada das Gentes só o alcançou em 2019, mas um ano antes ele teve uma retrospectiva no DocLisboa. Foi então que o documentarista e professor Jorge de Carvalho reuniu alguns alunos para uma longa entrevista biográfica de Ospina.

Esse material, ilustrado por muitas cenas de filmes, é o eixo de Ospina Cali Colômbia, perfil bem comportado de um cineasta irrequieto, irreverente e iconoclasta.
Entre as obras mais conhecidas de Luís Ospina estão dois falsos documentários. O pioneiro Agarrando Pueblo (1978), realizado com Carlos Mayolo, satirizava a porno-miséria dos documentários feitos por estrangeiros que procuravam a pior imagem do povo latino-americano. Um Tigre de Papel (2008) narrava em detalhes a vida e a obra de um artista plástico e cineasta inteiramente fictício. 

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Ospina estava sempre em busca do que fosse provocativo e extremo. Filmou a morte de um amigo (Nuestra Pelicula), uma história de vampirismo capitalista (Pura Sangre) e panfletos militantes. Fez documentários sobre artistas reais e o contexto político sul-americano, muitas vezes identificando-se com uma visão apocalíptica da realidade. Nesse documentário português, ele transmite sua visão pessimista do mundo de hoje, com a explosão das mentiras, da violência e da banalidade (“Estamos no pior momento da humanidade”).

Ospina descreve sua trajetória desde a infância, os estudos de cinema nos EUA, a passagem pelo underground, o desbunde hippie, as drogas, a vasta produção de documentários em vídeo. Ao mesmo tempo, oferece uma espécie de masterclass informal em que desfere frases lapidares sobre seu ofício. Faz algumas distinções que soam fundamentais. Por exemplo: na reportagem, o que importa é o tempo do repórter, enquanto no documentário prevalece o tempo do documentado. Ou esta: a ficção é como uma caçada, quando se parte em busca de animais específicos; já o documentário se parece com a pesca, quando não se sabe o que virá no anzol.

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A ascensão da extrema-direita, em 2018, inclusive com a eleição de Bolsonaro, vinha coroar seu pessimismo. Ospina foi um visionário que sacudiu o bom-mocismo do documentário latino-americano de sua época. Ospina Cali Colômbia deixa um bom registro do seu legado. 

>> Ospina Cali Colômbia está nos cinemas.

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O trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=5ZDo1N4TFgE

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