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Paulo Amaro Ferreira

Historiador e professor da rede pública de ensino do Rio Grande do Sul

10 artigos

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Ciro Gomes e a farsa tucana

Na prática, Ciro Gomes não tem as mínimas condições de desempenhar um governo nacionalista, pois sua candidatura se apoia, desde já, nas forças mais neoliberais do país, inclusive mais neoliberais que o próprio governo Bolsonaro

Carlos Lupi, presidente do PDT, e Ciro Gomes (Foto: PDT/Divulgação)
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Desde o golpe de 2016, após o desastroso e desmoralizado governo Temer, a direita tradicional brasileira, que erroneamente é chamada de centrão, viu seu apoio eleitoral, ao menos em um cenário de disputa nacional, desabar. Isso se explica por diversos fatores. Um deles é a enorme dificuldade de encontrar um candidato que tenha algum apelo eleitoral, o que claramente fracassou em 2018. Pelas diversas pesquisas eleitorais, que conjecturam cenários eleitorais para 2022, tende a fracassar novamente. 

Porém, esse não é o fator principal ou central. A questão é que, após o golpe de 2016, o regime político brasileiro vive em crise permanente, impulsionado obviamente pela enorme crise econômica e social do capitalismo. A maior parte do caldo eleitoral da direita tradicional passou, desde o golpe, para os setores da extrema direita, liderada por Bolsonaro, em virtude da crescente polarização da luta de classes no país. No outro extremo social dessa luta, encontra-se o caldo eleitoral capitaneado pelo PT, que apesar de não possuir um programa radical, sendo o partido que mais possui enraizamento na classe trabalhadora brasileira, é também o partido que expressa, nas eleições, a polarização social da luta de classes. 

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Dessa forma, nesse cenário de polarização, a direita tradicional encontra-se num vácuo político, pois é um agrupamento de forças que se identificam com a ordem estabelecida do sistema político e econômico do país, ao contrário do próprio Bolsonaro, que apesar de ser um importante sustentáculo desse mesmo regime, se apresenta como um político avesso ao status quo. 

Essa polarização da luta de classes já se apresentou em 2018, quando as eleições apontaram claramente que a disputa política deste período está se dando entre as forças da extrema direita, lideradas por Bolsonaro, e o PT. Isso tudo apesar de o próprio PT ter feito enormes esforços para diminuir a polarização, trocando o candidato anti-regime que era Lula (que inclusive estava preso quando foi lançado como candidato a presidente em 2018), pelo candidato paz e amor Fernando Haddad. 

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Foi justamente em 2018 que o personagem principal deste nosso texto, Ciro Gomes, evidenciou por completo a sua posição de integrante do bloco da direita tradicional, fugindo para Paris durante o segundo turno das eleições para não tomar posição na luta política que se travou entre o PT e Bolsonaro. Aqui cabe um parêntese de como a comédia cirista se desenvolveu em 2018: o candidato do PDT acusou Lula de ter traído a sua candidatura, que, segundo o próprio Ciro e seu séquito, era a única com chances de derrotar Bolsonaro. E essa empáfia toda com apenas 12% dos votos alcançados. E mais, logo após as eleições, em entrevista à Folha de São Paulo, quando perguntado se essa postura de ataque ao PT não provocaria dificuldades de reagrupamento da esquerda, Ciro Gomes respondeu de forma direta: “não quero participar dessa aglutinação de esquerda”. Dessa forma, para aqueles que ainda tinham alguma ilusão de que Ciro era de esquerda, o próprio caudilho pedetista tratou de desfazer essa miragem. 

De lá para cá, Ciro Gomes, com a ajuda de uma verdadeira máquina de propaganda nas redes sociais, que deve custar bastante caro, vem intensificando os ataques ao PT. Não faltam declarações acusatórias, onde o pedetista utiliza o mesmo discurso da corrupção para atacar Lula e seu partido. As semelhanças com setores bolsonaristas são muitas, e incluem também disseminação de notícias falsas e uma campanha de ódio contra o principal líder do PT, que não por acaso é também o político mais perseguido pela extrema-direita brasileira. 

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A questão Ciro Gomes deve ser entendida sob os aspectos político e eleitoral. No primeiro caso, está bastante evidente que Ciro Gomes é um autêntico representante da direita brasileira, o que pode ser inclusive corroborado por sua história político-partidária (todos sabemos que Ciro iniciou sua carreira no PDS, antigo ARENA, passando depois por PMDB, PSDB, entre outros). Somente os incautos poderiam se surpreender com as posturas e declarações de Ciro nos últimos anos. Portanto, é incoerente imaginar que, num cenário tão polarizado da luta política no país, Ciro pudesse tomar parte nessa disputa ao lado das forças de esquerda. 

Já do ponto de vista eleitoral, parece de fato não restar outra alternativa para Ciro sustentar o seu carreirismo político que não seja como candidato das forças da direita tradicional, na medida em que não existe uma quarta via no Brasil. As forças políticas que encontram-se em luta no país são a esquerda, capitaneada eleitoralmente e socialmente por Lula e pelo PT, a extrema direita, liderada por Bolsonaro, e a direita tradicional, que corre por fora e precisa, para sobreviver, tirar uma das duas principais forças da disputa em 2022. 

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Após a sua postura em 2018, quando fugiu para Paris, contribuindo na prática para a vitória de Bolsonaro (da mesma forma que toda a direita brasileira), Ciro Gomes ficou completamente desmoralizado junto ao eleitorado de esquerda. As últimas pesquisas para presidente demonstram que, se em 2018 Ciro obteve 12% dos votos em virtude de um considerável apoio das bases nacionalistas do PDT brizolista, em 2022 este apoio do pedetista tende a migrar para o PT, principalmente se Lula for o candidato. Em pesquisa realizada no mês passado, após a devolução momentânea dos direitos políticos de Lula, Ciro Gomes aparece somente com 5% das intenções de voto, atrás inclusive do desmoralizado Sérgio Moro e praticamente empatado com o insignificante Luciano Huck. 

Entretanto, não podemos subestimar o enorme poder de manobra, manipulação e, principalmente, capacidade de fraudar as eleições, que este campo político, ao qual pertence Ciro Gomes, possui. Recentemente, alguns possíveis candidatos a presidente da república deste bloco, lançaram uma carta, intitulada de Manifesto pela consciência democrática, em mais uma tentativa de se colocar como uma opção civilizada a Bolsonaro, se contrapondo à polarização política da extrema direita contra a esquerda. O tal manifesto foi assinado por Eduardo Leite, João Amoedo, João Doria, Luciano Huck, Henrique Mandetta e, sem nenhuma surpresa, por Ciro Gomes.  Não precisamos aqui lembrar que esses políticos representam forças que nunca tiveram compromisso nenhum com a democracia no país. 

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Assinando essa carta junto com notórios representantes da esquerda neoliberal brasileira, Ciro Gomes formaliza a sua adesão ao bloco golpista liderado pelo PSDB e pela Rede Globo. Nesse sentido, o pretenso discurso nacionalista de Ciro não passa de um jogo de cena para tentar ludibriar setores incautos ligados à esquerda ou até do próprio PDT que mantenham alguma relação com o brizolismo. Mas, como já dissemos antes, se a candidatura de Lula for mantida (o que não está garantido de forma alguma ainda), a tendência é que a candidatura de Ciro Gomes se desidrate de seus elementos populares e perca o pouco apoio que ainda possui nesses setores. 

Na prática, Ciro Gomes não tem as mínimas condições de desempenhar um governo nacionalista, pois sua candidatura se apoia, desde já, nas forças mais neoliberais do país, inclusive mais neoliberais que o próprio governo Bolsonaro. Nesse sentido, Ciro Gomes representa a farsa tucana, após a tragédia desempenhada pelo PSDB na década de 1990. Uma saída previsível e um reencontro do oligarca do Ceará com as suas origens políticas. 

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A classe trabalhadora não tem nada a ganhar apoiando uma candidatura dos algozes do povo brasileiro. A única saída para os trabalhadores brasileiros é apoiar a candidatura de Lula, como a única capaz de derrotar toda a direita e mobilizar os setores populares para lutar contra os ataques sofridos durante os governos Temer e Bolsonaro, avançando na luta por reformas estruturais no nosso país. Sem colocar a classe trabalhadora em marcha, não haverá qualquer possibilidade de construir um projeto realmente popular para o Brasil. 

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