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Ricardo Bruno

Jornalista político, apresentador do programa Jogo do Poder (Rio) e ex-secretário de comunicação do Estado do Rio

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Ciro se apequenou: trocou valores éticos pelo cálculo político

"Ao retornar da Europa na última sexta-feira, Ciro Gomes se inscreveu entre os que se apequenaram no curso destas eleições. Mostrou-se sem a dimensão do estadista projetado na campanha em palavras e atos. Quis apenas garantir a hegemonia da oposição em um hipotético governo Bolsonaro. Trocou o apreço pelos valores democráticos pelo precoce desejo de se firmar como opção para 2022. Só perdeu", diz o colunista Ricardo Bruno

Ciro se apequenou: trocou valores éticos pelo cálculo político (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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A dialética do processo eleitoral, intensa, visceral, cortante, tem o condão de gerar resultados práticos, como eleger ou derrotar seus protagonistas; mas produz também, em cada discurso, debate ou entrevista, a imagem esculpida na azáfama do dia a dia da caça ao voto. Ao fim e ao cabo de quase 60 dias de campanha, durante a qual a exposição pública funciona como uma espécie de scanner da alma e dos propósitos, há candidatos eleitos; outros não eleitos mas inegavelmente vitoriosos e os simplesmente derrotados – aqueles que saíram das eleições menores do que entraram. Perderam não só o pleito mas, sobretudo, a admiração dos eleitores. 

Ao retornar da Europa na última sexta-feira, Ciro Gomes se inscreveu entre os que se apequenaram no curso destas eleições. Mostrou-se sem a dimensão do estadista projetado na campanha em palavras e atos. Quis apenas garantir a hegemonia da oposição em um hipotético governo Bolsonaro. Trocou o apreço pelos valores democráticos pelo precoce desejo de se firmar como opção para 2022. Só perdeu. Admiração, dos eleitores de esquerda que exigiam dele coerência. E respeito, da sociedade brasileira, que dele esperava atos magnânimos em defesa dos valores democráticos.

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Hoje, na verdade, pouco valeu eleitoralmente sua postura trêfega no segundo turno. Seus eleitores foram naturalmente para Haddad. Mais do que o candidato do PT, foi Ciro quem perdeu; perdeu seus próprios admiradores que viram nesta decisão uma demonstração de pequenez política. Ciro jogou pôquer mas corre o risco de perder tudo. Se tivesse apoiado e Haddad perdesse, teria feito o seu papel e, com legitimidade ampliada, garantia o lugar natural de líder da oposição. Se tivesse apoiado e Haddad ganhasse, teria sido o maior responsável pela vitória. Em cima do muro, não ganhou nada; apenas o desprezo de quem via nele a possibilidade de renovação das práticas políticas.

Entende-se a mágoa de Ciro por não ter tido o apoio do PT, como defendera Jacques Wagner. Compreende-se a frustração do candidato ao não conseguir atrair o PSB, que optou por um acordo informal com o PT. A eleição tem mesmo lances, pressões, brigas ou até traições que desagradam evidentemente os candidatos. Mas fazem parte do jogo; é legítimo desde que ocorram na busca de espaço para garantir a vitória. Afinal, todos entram em campo para vencer. Intolerável, contudo, é o golpe apenas para derrubar um aliado histórico na expectativa de liderar a oposição. As rusgas do processo eleitoral não podem superar os compromissos com valores democráticos. 

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Ciro aposta no desastre de um hipotético governo Bolsonaro a fim de que se crie condições políticas para sua volta pela oposição. Ao fazê-lo, mostrou pouca importância a eventuais dificuldades por que possa passar a sociedade brasileira. Isto lhe pareceu de menor monta. Para a decepção de seus eleitores, Ciro, enfim, trocou valores éticos pelo simples e raso cálculo político. É desse maquiavelismo explícito que a sociedade brasileira tem se mostrado farta.

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