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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

92 artigos

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Cisão na burguesia intensifica o isolamento de Bolsonaro

O governo do capitão covid, do genocida, do fascista Jair Messias Bolsonaro é um cadáver ambulante. Não consegue dar nenhuma solução para os problemas nacionais

Jair Bolsonaro sozinho no Palácio do Alvorada (Foto: Twitter/EmirSader)
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O governo do capitão covid, do genocida, do fascista Jair Messias Bolsonaro é um cadáver ambulante. Não consegue dar nenhuma solução para os problemas nacionais. A pandemia continua a ceifar vidas de maneira cada vez mais rápida. O Brasil deve alcançar 300 mil vítimas fatais pelos próximos dias. Governadores e prefeitos decretam lockdown e o governo do genocida recorre à justiça contra esses decretos, ao invés de apoiá-los, sob a falácia de que esta medida prejudicará a economia. A economia vai de mal a pior e o próprio Paulos Guedes, superministro da Terra do Nunca, já admite que não tem como a economia crescer sem o controle da pandemia, sem que haja vacinação em massa.

O ano de 2020 assistiu a uma queda de 4,1% no PIB e economistas preveem que este cenário se repita no primeiro trimestre de 2021. O desemprego alcançou 14%. Cerca de 5,5 milhões de brasileiros perderam seus empregos entre fevereiro e dezembro de 2020. Desesperados e sem apoio do governo genocida, micro e pequenos empresários e trabalhadores precarizados resistem a apoiar e adotar as medidas recomendadas para o controle da pandemia e se agarram a Bolsonaro como um náufrago se agarra a uma pedra de gelo no meio do oceano antes que ela derreta completamente e o deixe desamparado.

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Boicotada desde o início pelo governo genocida, a vacinação caminha a passos lentos. Pazuello, a mando de Bolsonaro, recusou ofertas de compra de vacinas que, nas quantidades propostas, teriam permitido que mais de 50 milhões de brasileiros já estivessem vacinados e milhares de vidas tivessem sido poupadas.

Bolsonaro vê o apoio de parte do mercado se esvair rapidamente. Na semana passada, de maneira equivocada e surpreendente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) presenteou o mercado com um aumento de 0,75% na taxa de juros anual, na tentativa de reconquistar as parcelas do capital que se afastaram do governo. A economia em frangalhos, a sociedade em colapso, a política nas mãos de milicianos genocidas e os juros passaram de 2% para 2,75% ao ano. O aumento foi de mais de 30%. Fato raro na história, um governo aumentar a taxa de juros em uma conjuntura de recessão econômica.

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A incompetência, inabilidade e grosseria de Bolsonaro gerou uma cisão na burguesia neocolonial que controla o país. No dia 21 de março banqueiros e empresários divulgaram um documento chamado Carta Aberta à Sociedade Referente a Medidas de Combate à Pandemia, assinada por gente como Pedro Malan, Armínio Fraga e as famílias controladoras do Banco Itaú.Em seu primeiro parágrafo a carta reconhece que "o Brasil é hoje o epicentro mundial da Covid-19, com a maior média móvel de novos casos.” Semana passada, 20% de todas as mortes por Covid-19 ocorridas no mundo naquela semana, ocorreram no Brasil.

A carta aberta faz uma análise da recessão que nos atinge, concluindo que ela e suas consequências são resultado da pandemia que só pode ser controlada por meio de uma ação competente do governo brasileiro. Este trecho omite que o crescimento do PIB brasileiro em 2019 foi de 1,1%. Isso significa que antes da pandemia, porém depois que os governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro terem realizado algumas reformas propostas pelo projeto neoliberal, a economia já vinha com crescimentos pífios. A carta aberta omite que a pandemia acirrou o que já vinha mal das pernas.

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O texto prossegue com análises econômicas e defende a vacinação em massa. Segundo o documento, “vacinas são relativamente baratas face ao custo que a pandemia impõe à sociedade. Os recursos federais para compra de vacinas somam R$ 22 bilhões, uma pequena fração dos R$ 327 bilhões desembolsados nos programas de auxílio emergencial e manutenção do emprego no ano de 2020. Vacinas têm um benefício privado e social elevado, e um custo total comparativamente baixo.” Não conseguindo esconder o seu viés tucano neoliberal, como prova de capacidade e eficiência, a carta recorda que 48 milhões de crianças foram vacinadas contra o sarampo em um mês em 1992. Em 2010, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vacinou mais de 80 milhões de brasileiros contra a H1N1 em três meses, mas os banqueiros preferiram recordar o longínquo feito do governo tucano. Eles continuam com a proposta de tentar relegar Lula ao esquecimento. Se esqueceram de combinar isso com o povo.A carta acusa o governo Bolsonaro de negligência, cuja consequência é uma recessão econômica que causou uma perda de cerca de 58 bilhões de reais, em torno de 6,9% de arrecadação de impostos federais. Prevê que “o atraso na vacinação irá custar em termos de produto ou renda não gerada nada menos do que estimados R$ 131,4 bilhões em 2021, supondo uma recuperação retardatária em 2 trimestres.”

O texto defende uma coordenação nacional de combate à pandemia que apoie governadores e prefeitos, bem como que implemente incentivos e políticas públicas nacionais que incentivem o uso de máscaras e o distanciamento social.

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São propostas quatro medidas para superar a crise: 

1. Aumentar a oferta de vacinas com a aquisição do maior número possível seja de que fabricante for. Aqui também há uma crítica ao governo por ter optado por centrar esforços na fabricação de vacinas. 

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2. Distribuir, gratuitamente, máscaras “de melhor qualidade”, com orientação sobre seu uso correto, tendo como público-alvo principal a população de baixa renda. A carta mostra que seria necessário cerca de 1 bilhão de reais por mês para fornecer máscaras suficientes para os cerca de 68 milhões de pessoas atendidas pelo auxílio emergencial. A distribuição de máscaras seria concomitante ao pagamento do auxílio emergencial.

3. Implementar medidas locais de distanciamento social, sob coordenação nacional. Nesta proposta, a carta defende também a abertura das escolas, fazendo referência a uma pesquisa mundial que mostraria que a volta às aulas presenciais não gerou um aumento da contaminação (a realidade brasileira tem mostrado que houve aumento na contaminação de professores e funcionários nas escolas nas quais as aulas presenciais voltaram). Este argumento a favor da volta às aulas defende que as crianças na escola teriam acesso à alimentação e liberariam “os pais – principalmente as mães – para o trabalho”. Desconsidera que os pais podem se contaminar ou servirem de vetores para contaminar seus colegas de trabalho, patrões e passageiros que dividem com eles os transportes coletivos.

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4. Criar uma coordenação nacional de combate à pandemia feita a partir de informações fornecidas por comitês científicos que assessorariam as decisões desta coordenação.

Esta carta surge em uma conjuntura na qual as políticas neoliberais associadas à incompetência de Bolsonaro estão levando o país a um abismo cada dia mais profundo. Ela foi publicada com alguns meses de atraso. Seus assinantes, em grande parte banqueiros, não reclamaram quando lucraram mais de 100 bilhões em 2020 graças a Bolsonaro e Paulo Guedes. Também não reclamaram quando Paulo Guedes os presenteou com 1,2 trilhão em março de 2020. Brincaram com fogo. Agora que as UTIs dos hospitais de luxo estão lotadas e poucos países aceitam turistas e pacientes brasileiros, agora que não há mais para onde fugir, eles se moveram e se manifestaram contra o governo que ajudaram a eleger.

Por outro lado, a volta de Lula à cena política acendeu o sinal de alerta na burguesia neocolonial, sobretudo após o ex-presidente enviar uma carta ao primeiro ministro chinês, conversar com os russos e com Joe Biden, visando a aumentar a oferta de vacinas para os países mais pobres do mundo. Lula também subiu o tom nas críticas a Bolsonaro e as pesquisas de intensão de votos mostram que ele se cacifou e entrou, definitivamente, na corrida eleitoral com larga vantagem sobre os outros concorrentes.

Lula amedronta a burguesia e Bolsonaro a tal ponto que alguns segmentos já defendem a candidatura de Michel Temer, outro morto-vivo, porém mais confiável, em 2022. No mesmo dia em que a carta aberta foi publicada, o Datafolha liberou uma pesquisa segundo a qual 57% consideram justa a condenação de Lula e 51% acham que Edson Fachin se equivocou ao anular as decisões da Lava Jato. 

A burguesia neocolonial tenta criar fatos novos para retomar o controle do jogo político. Ainda não conseguiu descobrir uma estratégia eficaz. Alguns juristas alertam que esta estratégia seria tornar Lula novamente inelegível. Para isso, seria necessário Fachin conseguir que o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgue sua decisão a favor da anulação dos processos contra Lula, ocasião em que ele, Fachin, mudaria seu voto e revalidaria as decisões da Lava Jato. Com esta mudança de voto, a maioria contra Lula no plenário do STF estaria assegurada.

Embora carreatas a favor de Bolsonaro e do golpe militar tenham se realizado no fim de semana, Bolsonaro sente que está cada vez mais isolado. De maneira atabalhoada e desesperada ameaça com estado de sítio e com golpe de estado, se escudando no apoio que possui das alas mais reacionárias das forças armadas brasileiras. No momento, está segurando na brocha sem a escada para se apoiar. Mas ele é esperto e a oposição não pode lhe dar tempo para elaborar uma estratégia para se reaprumar. Tempo é o que ele mais deseja. Faz-se necessário pressioná-lo fortemente, fustigá-lo o tempo todo com todas as armas possíveis. Hoje, Bolsonaro ainda não tem apoio suficiente para um golpe (golpe sem ter quem o financie é muito difícil de ocorrer). Contido, ele ainda tem forte apoio entre as camadas mais reacionárias da sociedade brasileira que incluem militares, policiais, fazendeiros, agronegócio, setores do capital financeiro e fundamentalistas religiosos. Isso significa um contingente razoável de apoio.

Bolsonaro é um morto-vivo. Mas os mortos-vivos ainda se movem.

P.S.: Precisamos defender uma reforma constitucional que substitua o impeachment, instrumento utilizado pela burguesia neocolonial para retomar o controle do poder, pelo recall, instrumento que coloca nas mãos do povo a destituição daqueles que ele mesmo elegeu.

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