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Antonio Pralon

Jornalista e editor do blog O Frio Que Vem Do Sol

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Clima: emissões antrópicas de metano podem ser até 40% maiores do que se estima, dizem cientistas americanos

Resultado do estudo amplia possibilidades de limitar aquecimento climático pela redução de atividades que liberam CH4

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Menos midiático que o CO2, o metano (CH4) é um gás bem mais potente em termos de efeito estufa. Em escala secular, seu poder de aquecimento global é quase 30 vezes maior que o do CO2.

Responsável por 1/3 do efeito estufa, o CH4 é emitido tanto de forma natural, quanto por atividades humanas, sendo difícil quantificar cada uma dessas contribuições.

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Agora, um estudo da Universidade de Rochester (EUA) mostra que a concentração atmosférica desse gás, oriunda de combustíveis fósseis, pecuária, etc é bem maior do que estudos anteriores indicavam.

Os pesquisadores americanos conseguiram distinguir quantitativamente as emissões de metano fóssil daquelas de origem natural, analisando bolhas de ar aprisionadas em amostras de gelo extraídas da Groenlandia.

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O objetivo do estudo era avaliar a composição deste ar, desde o início do século XVIII, ou seja, antes da Revolução Industrial, até os dias de hoje. Como o homem começou a usar em grande escala combustíveis fósseis somente a partir de meados do século XIX, o metano presente nas bolhas corresponde principalmente às emissões naturais.

Assim, medidas de carbono-14 comprovaram que até 1870 praticamente todo o CH4 atmosférico era de origem biológica, e não fóssil. Extrapolando para o século XXI, a pesquisa revela que a parcela de metano liberado naturalmente é cerca de dez vezes menor do que apontam estimativas anteriores, o que levou os cientistas americanos a concluir que a componente antrópica do metano emitido atualmente é de 25 a 40% maior.

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A boa nova é que “se a parcela de metano proveniente de atividades humanas presente na atmosfera é maior, isto significa que uma redução de emissões pode ter um real impacto para limitar o aquecimento climático”, explica Benjamin Hmiel, líder da equipe de pesquisadores da Universidade de Rochester.

Efeito estufa é um processo natural de aquecimento atmosférico que interfere no balanço de calor e radiação da Terra. Ele é causado por determinados componentes da atmosfera, os chamados gases de efeito estufa (GEE). Graças a este fenômeno, a vida na Terra é possível tal como a conhecemos; sem o efeito estufa, a temperatura média seria de – 18ºC.

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Além do CO2 e do CH4, os principais GEE presentes no ar e que contribuem ao efeito estufa são o vapor de água (H2O), o dióxido nitroso (NO2) e o ozônio (O3). Em termos quantitativos, os percentuais da participação de cada um deles são: 60% de H2O, 34% de CO2, 2% de CH4, 2% de NO2 e 2% de O3.

O impacto desses gases sobre o aquecimento climático depende do tempo de vida de cada um deles e da sua capacidade de interferir nos fluxos de energia provenientes da superfície terrestre.

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A fim de comparar a contribuição das emissões antrópicas de GEE sobre o aquecimento planetário, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) criou o índice Potencial de Aquecimento Global (GWP), definido geralmente para um período de 100 anos, fixando para o CO2 o valor unitário.

O último relatório técnico do IPCC (2014) indicava, em valores médios, os seguintes valores de GWP: 28 para o CH4 e 265 para o NO2. Levando em conta a quantidade de cada um desses gases, suas respectivas contribuições para o efeito estufa antrópico são de 16% para o CH4 16% e 6% para o NO2 6%. Já o CO2 tem uma participação de 76% e os gases fluorados 2%.

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Desde o final do século passado, a ciência tem constatado um crescimento da concentração de metano na atmosfera, com forte aceleração nos últimos 5 anos. Até então, este aumento das emissões de CH4 era supostamente de origem “biogênica”, ou seja, relacionado a uma evolução da atividade de microrganismos vivos.

O relatório do Global Carbon Project (2016), que traz um balanço completo e inédito das emissões de metano, mostra que as fontes naturais de metano contribuem com cerca de 40% do total, ante 60% das emissões diretamente ligadas a atividades humanas.

As causas naturais incluem a “metanogênese” (atividades microbianas em zonas úmidas e no permafrost ártico) e fontes geológicas, caracterizadas pela liberação espontânea de metano fóssil aprisionado no subsolo, explica Marielle Saunois, especialista em física-química atmosférica, que participou do projeto.

“A concentração de CH4 na atmosfera é atualmente 150% maior do que no início da Revolução Industrial”, declara Saunois no final de 2016. Uma aceleração dessas emissões começa em 2007 e se intensifica a partir de 2014, tornando plausível entre os cenários previstos pelo INCC apenas o mais pessimista, ou seja, aquele em que a temperatura pode aumentar 4ºC até 2100, afirma a pesquisadora.

Com os resultados do estudo da Universidade de Rochester, a contribuição de fontes antrópicas representaria até 84% das emissões de metano, ou 22,4% das emissões totais. Isto quer dizer que um controle maior das atividades humanas responsáveis pela liberação desse gás poderia efetivamente ajudar a limitar o aquecimento climático.

Esta pesquisa é corroborada por fato noticiado recentemente pela Nature, de que os vazamentos de metano da indústria de petróleo e gás dos Estados Unidos são 60% maiores que as estimativas oficiais. A conclusão é de um estudo realizado pelo Environmental Defense Fund, uma ONG com sede em Austin, no Texas.

A exploração e o transporte de energia fóssil (petróleo, gás natural e carvão) acarreta a liberação de metano presente no subsolo. Emissões não contabilizadas de CH4 podem ter impacto significativo sobre o clima e a economia do país, diz a matéria da jornalista Giorgia Guglielmi. O gás perdido nos campos de petróleo americanos é avaliado em 2 bilhões de dólares por ano.

Estimada anteriormente pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA em 8 milhões de toneladas, a quantidade de metano liberado pela indústria de petróleo americana (o CH4 é o principal componente do gás natural extraído junto com o óleo cru) foi avaliada pelo novo estudo em 13 milhões de toneladas.

Essa discrepância é provavelmente devida aos vazamentos, de equipamentos defeituosos das instalações de petróleo e gás, não contabilizados na estimativa da EPA, afirma o químico atmosférico Ramón Alvarez, líder da equipe da ONG autora do estudo, publicado na Science em 2018.

O resultado dessa pesquisa levou o governo americano a criar mecanismos regulatórios para limitar as emissões de metano na produção de energia fóssil, mas que agora a administração Trump está empenhada em reverter.

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