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Thaíse Pacheco

Militante do Movimento de Moradia, Pedagoga e Mestranda em Educação na USP. Concluiu o Ensino Médio através do EJA - a Educação de Jovens e Adultos - e chegou à Faculdade através do ProUni. Nas redes, pode ser encontrada no @thaisedaquebrada

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Coisa de preto?

“Coisa de preto” é ocupar os espaços da política, é votar em candidaturas verdadeiramente antirracistas, é tirar gente como você, Cristófaro, da política

Camilo Cristófaro (Foto: Richard Lourenço/Rede Câmara)
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O vereador Camilo Cristófaro, da Câmara Municipal de São Paulo, foi desfiliado do PSB nesta quarta-feira (4) após proferir uma frase racista em uma sessão da CPI dos Aplicativos na terça-feira (3). O áudio capturado mostra o momento em que Cristófaro diz "não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?". O vereador apelou para a “intimidade” como desculpa para a expressão racista e disse que estava conversando com um amigo enquanto participava virtualmente da sessão. 

Cristófaro não deve passar impune por mais uma atitude racista. Não é a primeira vez que o vereador age de forma violenta e criminosa. Não vamos nos esquecer que, em 2017, ele agrediu a então vereadora Isa Penna (PCdoB), que foi ameaçada e chamada de “vagabunda”. Em 2019, o vereador Fernando Holiday (Novo) foi chamado de “macaco de auditório” por Cristófaro. Essas e outros absurdos podem ser revisitados em uma simples busca na internet.

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Fato é que as falas de Cristófaro revelam um racismo grotesco e temo ao imaginar o que ele - e os outros da mesma trupe - dizem quando os microfones estão desligados e quando as portas estão fechadas. A frase do vereador não foi uma piada de mau gosto ou um ato de intimidade que passou dos limites. É, sim, uma frase racista e racismo é crime inafiançável. 

Os mais de três séculos de escravização do povo negro no Brasil nos legaram um país estruturalmente racista, que nos marginaliza, nos oprime e nos objetifica. Os direitos nos foram negados após a falsa “abolição”. Fomos jogados das fazendas escravistas aos cortiços e favelas. A dignidade humana, social e econômica nos foi tomada. 

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Apesar disso, nós construímos esse país, moldamos sua cara, seus costumes, sua cultura e colocamos cidades de pé. Somos nós que acordamos às 4 da manhã e pegamos os ônibus lotados, para passar mais de 12 horas fora de casa, ganhando um salário injusto, tudo isso para fazer girar a roda dessa economia excludente. O racismo não reconhece o que de fato é “coisa de preto”: a imensa contribuição cultural, científica e econômica da população negra na formação do país.

“Coisa de preto” são todas as coisas. ”Coisa de Preto” é história, arte, ciência e política. São as “coisas” feitas e conquistadas por Dandara de Palmares, Machado de Assis, Luís Gama, Abdias do Nascimento, Elza Soares, Carolina Maria de Jesus, Benedita da Silva, Djamila Ribeiro, Claudete Alves, Nilma Lino Gomes, Munanga Kabengele, Silvio Almeida e tantos outros nomes que marcaram e marcam nossa história. Esses e outros recebem o respeito e reconhecimento da História que você, Cristófaro, nunca irá experimentar.

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“Coisa de preto” é exigir dignidade e respeito. É recusar ser sempre o revistado pela polícia e o refém das acusações. “Coisa de preto” é acabar com o “elevador de serviço”, é ocupar as salas de aulas, os museus, os parques, os postos de chefia. Lutar por salário igual por trabalho igual é “coisa de preto”. É não se perceber acima e nem abaixo de ninguém. 

“Coisa de preto” é ocupar os espaços da política, é votar em candidaturas verdadeiramente antirracistas, é tirar gente como você, Cristófaro, da política. É entender que somos a maioria e derrotar um presidente racista. “Coisa de preto” é lidar com a sua sujeira, é ser excluído das políticas públicas, é ser oprimido por quem deveria nos defender e, mesmo assim, sobreviver de punho erguido e cabeça em pé. 

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